Obras de Angra 3 também provocam desemprego desde paralisação
A história de Angra 3 é repleta de idas e vindas. A obra foi paralisada pela primeira vez ainda na década de 80. Com aval para a retomada em 2007, tornou-se recentemente um dos alvos das investigações no âmbito da Operação Lava Jato.
Segundo as autoridades, um esquema de corrupção envolvendo ex-funcionários da Eletronuclear e executivos das construtoras que integram o consórcio Angramon (Odebrecht, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Techint, UTC Engenharia e EBE) teria resultado em pagamentos de propina e favorecimento dessas empresas.
O Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, visitou o canteiro de obras de Angra 3 em meados de dezembro. Guindastes e máquinas de grande porte estão parados. Apenas funcionários que fazem a manutenção dos equipamentos seguem trabalhando.
Algumas edificações, como salas de controle, estão prontas. Mas o compartimento principal, onde ficará o reator - coração de uma usina nuclear -, ficou pela metade. Outros prédios previstos no projeto estão apenas na fundação. A previsão anterior de inauguração, 2018, torna-se cada vez mais inatingível. Segundo dados da Eletronuclear disponibilizados na internet, 58,4% do empreendimento foram concluídos até setembro.
As obras já vinham caminhando a passos lentos desde o início do ano. Em agosto, antes da suspensão oficial, cinco das sete empresas que formam o consórcio Angramon já haviam abandonado o local. Continuaram apenas UTC e EBE. Agora, a estagnação é total. A Eletronuclear não se pronunciou até a publicação desta reportagem.
Mais uma vez parada no tempo, a obra de Angra 3 também passou a abastecer menos os cofres da prefeitura. Desde o início do ano, a média mensal de ISS pago pela Eletronuclear caiu de R$ 2,8 milhões para R$ 2,3 milhões. No total, a Secretaria Municipal de Fazenda estima que deixou de arrecadar R$ 3,5 milhões até novembro deste ano.
"A maioria da nossa população não vive do turismo. A gente vive aqui de Angra 3, da pesca, do comércio, da construção naval e do porto. Se uma dessas falha, com certeza há uma lacuna, e essa lacuna prejudica e muito nossa população", afirma o secretário municipal de Atividades Econômicas, Marcelo Oliveira.
Com dois de seus subsistemas dando sinais de curto-circuito, Angra dos Reis teme trilhar pelo mesmo caminho que Itaboraí, na região metropolitana do Rio de Janeiro, onde a interrupção das principais obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) resultou em milhares de desempregados e um imenso problema social, já que trabalhadores vindos de outros estados não tinham sequer dinheiro para voltar para casa.
A prefeitura de Angra dos Reis, porém, mantém o tom de otimismo. "Já vivemos momentos de crise no estaleiro e a cidade não parou. A gente ficou 20 anos sem Angra 3 e a cidade não parou, continuou crescendo, desenvolvendo", diz Oliveira.