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Diretor do BC rechaça perda de eficácia da política monetária

17:00 | 03/12/2015
O diretor de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central, Tony Volpon, rebateu nesta quinta-feira, 3, críticas de que a instituição estaria sendo leniente com a inflação. Em discurso proferido em evento promovido pelo banco norte-americano JPMorgan, e divulgado nesta tarde no site da autoridade monetária, ele procurou explicar os motivos da inflação elevada e ressaltou a importância de ancorar as expectativas de inflação.

"Venho aqui rechaçar, veementemente, qualquer hipótese de perda de eficácia da política monetária e de uma suposta falta de disposição do Banco Central em cumprir sua missão primordial de assegurar a estabilidade do poder de compra da nossa moeda", comentou Volpon. Segundo ele, o BC tem de "agir e responder de forma contundente e tempestiva para retomar o processo de ancoragem das expectativas inflacionárias e disciplinar o processo de formação de preços".

Na visão do diretor, que foi voto vencido na reunião da semana passada por um aumento de juros, ao agir dessa forma o BC estará operando principalmente sobre o canal de expectativas da política monetária. "Assim sendo, um ajuste monetário eficiente vai contribuir para a retomada da economia. Hoje, o controle efetivo da inflação é uma condição necessária para a recuperação do crescimento econômico sustentável", argumentou.

Nesse sentido, o BC conseguiria se beneficiar dos efeitos benéficos da readequação da demanda agregada e do reequilíbrio nos preços relativos já em curso, levando "ainda em 2016" a uma importante desinflação. "Isso será um passo necessário para chegarmos mais perto de um conjunto ótimo de políticas que colabore no processo de recuperação da economia brasileira", disse

Inflação acima de 10%

Volpon afirmou que o fato de a inflação ter superado 10% ao ano tem uma carga simbólica importante que não pode ser ignorada, pois pode incentivar um comportamento mais defensivo via indexação por parte dos agentes econômicos. "Nos últimos meses a inflação divulgada tem superado, por margens relevantes, as projeções do mercado. E o índice de difusão, medindo o porcentual de preços apresentando alta no mês, tem acelerado e superado o patamar de 70%", afirmou.

Segundo Volpon, a deterioração das expectativas inflacionárias é resultado de uma série de preocupações. Entre elas, está a possibilidade de o País enfrentar uma sequência adicional de choques de oferta. O diretor diz ainda que o debate econômico atual parece desprezar, em grande parte, o progresso no ajuste da demanda agregada em curso e o avanço no reequilíbrio dos preços relativos. "E há aqueles que acreditam na total incapacidade de o País fazer um ajuste fiscal minimamente convincente, aceitando uma das diversas variantes da tese da dominância fiscal, que visa roubar à política monetária sua potência e fazer crer que o nosso País está fadado a anos de descontrole nominal."

Ajuste de preços relativos

O diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central afirmou também que o Brasil tem visto um importante ajuste de preços relativos. Ele disse que a razão entre preços livres e administrados tem voltado ao patamar de 2011.

"Essas mudanças em preços relativos garantirão maior equilíbrio econômico-financeiro, melhor alocação de recursos entre setores, com maior competitividade da economia brasileira, especialmente seu setor industrial. Sem de forma alguma desprezar a necessidade de maior progresso na questão fiscal e monetária, ainda assim não devemos, como está sendo feito a meu ver por muitos analistas, ignorar esses avanços", argumentou.

Ele diz que, apesar desses ajustes, a inflação permanece elevada em função da continuidade de diversos choques de oferta impactando o sistema de preços, alguns, fruto das incertezas fiscais. "Apesar do maior equilíbrio na relação entre demanda e oferta agregada, e uma política monetária austera, pressões contínuas têm impedido que a inflação inicie uma trajetória de queda em direção à meta".

Segundo o diretor, é de se esperar que, com o progresso já feito no realinhamento de preços relativos, especialmente na relação livres/administrados, algumas dessas pressões estejam perto do seu fim. Mesmo assim, "isso não pode ser levado como fator que assegura a convergência da inflação à meta".

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