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Demanda agregada continuará moderada no horizonte relevante, diz BC

10:15 | 03/12/2015
O Banco Central reafirmou sua visão sobre a dinâmica da economia neste ano. Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada, o BC afirmou que a demanda agregada continuará a se apresentar moderada no horizonte relevante (24 meses) e que o ritmo da atividade será inferior ao potencial em 2015.

Como vinha ressaltando em documentos anteriores, o BC repetiu na ata divulgada nesta quinta-feira, 3, que eventos não econômicos (cenário político, Lava Jato e casos de corrupção) têm intensificado incertezas e afetado o crescimento do País - essa avaliação foi feita uma semana antes do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciar a abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, o que deve trazer mais turbulência ao cenário.

Para o BC, a retração dos investimentos é influenciada, principalmente, pela ocorrência desses eventos não econômicos. A instituição ainda repetiu que o consumo privado também se contrai, em linha com os dados de crédito, emprego e renda. Apesar desse cenário, o BC continua a entender que após o ajuste a economia deve voltará a crescer. "Para o Comitê, depois de um período necessário de ajustes, que se tem mostrado mais intenso e mais longo que o antecipado, o ritmo de atividade tende a se intensificar, à medida que a confiança de firmas e famílias se fortaleça", repetiu a ata.

O BC também votou a falar da contribuição da política externa para a atividade e ponderou que o componente externo da demanda agregada, o cenário de maior crescimento global, combinado com a depreciação do real, contribuem para o crescimento da economia brasileira.

Preços relativos

A ata do Copom retirou a avaliação de que os ajustes de preços relativos na economia - realinhamento dos preços domésticos em relação aos internacionais e realinhamento dos preços administrados em relação aos livres - fazem com que a inflação se eleve no curto prazo. O colegiado manteve apenas a análise de que esses ajustes fizeram com que a inflação se elevasse em 2015, necessitando determinação e perseverança para impedir sua transmissão para prazos mais longos.

Apesar disso, as projeções do mercado para a inflação no curto prazo (novembro e dezembro) continuam a se elevar, conforme as últimas divulgações semanais do Boletim Focus. O Copom, manteve inalterado na ata o trecho em que reconhece que esses ajustes de preços relativos têm impactos diretos sobre a inflação, reafirmando sua visão de que "a política monetária pode, deve e está contendo os efeitos de segunda ordem deles decorrentes".

Resultado fiscal

A ata trouxe pela primeira vez a avaliação de que as indefinições e alterações significativas na trajetória de geração de resultados primários também têm impactado negativamente as expectativas de inflação. Até o documento anterior, o colegiado considerava que as incertezas fiscais contribuíam apenas para criar uma percepção negativa sobre o ambiente macroeconômico.

Essa preocupação do Copom com a contaminação das expectativas já havia sido noticiada pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. A ata de hoje repetiu o destaque do colegiado de que "a literatura e as melhores práticas internacionais recomendam um desenho de política fiscal consistente e sustentável, de modo a permitir que as ações de política monetária sejam plenamente transmitidas aos preços".

A ata também manteve a avaliação de que, no horizonte relevante para a política monetária, o balanço do setor público tende a se deslocar para a zona de neutralidade, sem descartar a hipótese de migração para a zona de contenção, mesmo que de forma lenta e em menor intensidade em relação ao anteriormente projetado.

'Déficit primário'

Tendo em mãos a informação de que o governo passaria a trabalhar com um rombo fiscal de 0,85% do PIB para este, o Banco Central colocou na conta das suas projeções pela primeira vez a expressão "déficit primário" na ata do Copom. Também atribuiu de forma inédita no documento a alterações significativas na trajetória de geração de superávits primários a piora das expectativas a indefinições.

Sobre política monetária, o documento trouxe mudanças significativas em relação ao documento de outubro. Vale lembrar, no entanto, que nada foi muito novo ante a primeira entrevista coletiva concedida pelo novo diretor de Política Econômica, Altamir Lopes, no início de novembro. Agora está por escrito que o objetivo do BC é levar a inflação para a meta em 2017, que vai tentar levar o IPCA "o mais próximo possível" de 4,5% no ano que vem, tendo como tarefa acomodar algum resquício de alta dentro da margem de tolerância de 2 pontos porcentuais.

Mesmo aqui, a questão fiscal ganhou espaço. "O Comitê ressalta que há incertezas associadas ao balanço de riscos, principalmente, quanto à velocidade do processo de recuperação dos resultados fiscais e à sua composição, e que o processo de realinhamento de preços relativos mostra-se mais demorado e mais intenso que o previsto", escreveram os diretores no documento. O colegiado quis ressaltar tanto essa questão que repetiu integralmente essa análise no documento, que é relativamente curto. É só ler os parágrafos 28 e o 32.

Votos

O que fez a diferença dos votos no placar da decisão do Copom (6 a 2) foi, conforme havia antecipado o Broadcast, uma questão de timing. Para a maioria dos diretores, é possível aguardar mais elementos até a próxima reunião, marcada para os dias 19 e 20 de janeiro, para definir os próximos passos de política monetária.

Para Sidnei Marques e Tony Volpon, no entanto, seria oportuno ajustar "de imediato" as condições monetárias dado o temor de o BC não conseguir entregar a inflação na meta em seu novo período prometido de atuação.

Tudo está colocado na mesa para que o Comitê decida por um novo ciclo de aumento das taxas de juros. Se janeiro já será o momento ideal para a maioria dos membros do Copom é o que se verá até lá. Resta saber se Sidnei e Volpon vão angariar outros diretores para o seu lado.

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