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Aberdeen ainda não vê Brasil 'tão barato'

14:15 | 20/12/2015
A desvalorização do Real e a perda de valor de mercado de muitas empresas brasileiras na Bolsa ainda não parecem perpetuar completamente a ideia de que o Brasil está barato para os estrangeiros, na avaliação de gestores da escocesa Aberdeen Asset Management. Em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, Nick Robinson, diretor responsável por renda variável no Brasil, avalia que ações de companhias com boa performance no cenário de crise seguem com preços mais elevados. Além disso, relata, o cenário de crise política e econômica coloca investidores estrangeiros em estado de espera, questionando se os preços não deverão cair ainda mais num futuro breve.

"Não estamos vendo tantas oportunidades nos últimos meses porque o investidor estrangeiro está esperando ativos de alta qualidade e, nesse caso, os preços não estão tão baratos", comenta Robinson. As ações da Renner são um exemplo desse cenário: a performance de vendas superior à de concorrentes tem feito as ações da varejista acumularem ganhos de 17% este ano. O mesmo vale para Raia Drogasil, que valorizou mais de 50% em 2015. "Faz dois anos que queremos adicionar posição em Raia Drogasil e não conseguimos", diz o gestor, avaliando que as ações estão caras. Ao analisar outros setores, o executivo aponta que o segmento bancário parece ter hoje mais oportunidades de compra no Brasil. Entre os bancos, a Aberdeen tem fatia relevante no Bradesco.

Nos últimos meses, a necessidade de caixa das empresas e a alta do custo de capital em meio ao enfraquecimento das vendas fez crescer a expectativa de que mais estrangeiros poderiam entrar no setor de varejo e shoppings no Brasil, segmentos que estão representados na carteira da Aberdeen. Para o gestor, porém, a estratégia de apostar em companhias com balanços fortes e que estejam ganhando "market share" limita um pouco a capacidade de se beneficiar da onda de perda de valor de muitas empresas de consumo no Brasil.

"Temos pessoas no time hoje mais empolgadas com o Brasil, que já acham que o momento atual é de compra, mas, ao mesmo tempo, temos pessoas que acham que os preços ainda vão cair mais", declara. "As decisões até agora têm sido mais por segurar (essa aposta em Brasil)", diz. De acordo com o executivo, os investidores globais ainda estão um pouco assustados com o noticiário brasileiro e, por isso, têm preferido aguardar por mais estabilidade antes de investir.

"Há uma preocupação com a deterioração fiscal, porque esse é um tema que, de alguma forma, saiu do radar", diz o diretor de desenvolvimento de negócios da Aberdeen, George Kerr. "Quem ainda discute a CPMF, por exemplo?", questiona.

Robinson avalia que, na América Latina, a gestora tem visto mais oportunidades de investimento fora do Brasil. "Nos últimos dois ou três anos, têm surgido mais oportunidades em boas ações no México, mas considero que o Brasil ainda tem as melhores empresas em comparação com outros países da região", comenta.

Para Kerr, ainda existe excesso de liquidez global que está sendo direcionada para investimentos nos países emergentes, mas em ritmo mais cauteloso e seletivo do que em anos anteriores. A desaceleração da economia chinesa e um possível aumento de juros nos EUA têm afetado negativamente o apetite por ativos de emergentes. A decisão de investimento no Brasil tem sido ponderada também pelo cenário de instabilidade política e a percepção de que temas importantes para a evolução do ambiente econômico ficaram paralisados, continua o diretor.

A abertura de um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff e a perspectiva de perda de grau de investimento do Brasil por mais uma agência de classificação de risco são temas que ajudam a manter as expectativas em suspenso. "Trabalhamos com um cenário de downgrade", diz Kerr. "A questão toda é saber quando isso ocorre", completa. A mesma incerteza vale para o processo de impeachment, cujo prazo até uma conclusão é difícil determinar.

Fundos da Aberdeen têm hoje participação relevante em nove empresas brasileiras, entre elas companhias expostas ao setor de consumo e varejo como Arezzo, Lojas Renner, Multiplan e Iguatemi. Há ainda outras companhias, como a BRF e a Raia Drogasil, em que a participação da Aberdeen não é pública, por equivaler a menos de 5% do capital. A posição total em renda variável no Brasil atingiu cerca de R$ 24 bilhões, caindo um pouco nos últimos dois anos em razão da própria desvalorização dos preços dos ativos. A queda nas ações preferenciais da Vale este ano, ativo que também está na carteira, ajudou a afetar esse montante.

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