Emprego doméstico volta a ser disputado
Moradora da Baixada Fluminense, Rosângela é uma das 86 mil pessoas que ingressaram (ou regressaram) no emprego doméstico no último ano, um movimento contrário ao percebido até meados de 2014. Ela suspendeu a obra em sua casa e mudou hábitos. "Cortei o dentista para não cancelar o do meu filho. Não tenho mais plano de saúde. Estava tentando estudar fisioterapia, e meu filho está estudando para fazer vestibular. Ele tem 18 anos. A prioridade é dele", afirma.
Antes em queda por causa da expansão do mercado de trabalho, da formalização e das oportunidades de estudo, o número de empregados domésticos no PaÃs voltou a crescer em meio à crise econômica. No trimestre até agosto, 6,037 milhões de pessoas trabalhavam como domésticos em todo o PaÃs, 1,4% a mais do que em igual perÃodo de 2014, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de DomicÃlios (Pnad) ContÃnua.
Agências especializadas também notam aumento da procura por empregos. Enquanto isso, a oferta de vagas começa a encolher, sinal de que até mesmo essa saÃda encontrada pelos brasileiros pode estar ameaçada diante da menor capacidade das famÃlias em pagar pelo serviço.
Na agência Casa e Café, que tem plataforma virtual focada em empregos domésticos, a busca por profissionais era de 17 mil por mês um ano atrás, e havia 0,098 vaga por profissional. Hoje, a procura chega a 33 mil por mês, e a relação de vagas por candidato recuou a 0,062. "Nosso negócio é online, então sempre teve aumento. Mas realmente houve crescimento de um ano para cá", diz a sócia Daniele Kuipers. O aumento mais significativo ocorre entre mulheres de 25 a 37 anos, cujo número de cadastros subiu 92%.
O site, que trabalha com planos de assinatura, tem 320 mil candidatos para 34 mil empregadores, e a diferença é maior a cada mês. "Além disso, muitos que antes procuravam mensalistas agora buscam diaristas, horistas. Há uma insegurança do próprio cliente. Ele pensa �não sei nem se meu emprego está garantido, como vou pagar mensalista?", afirma Daniele.
Na agência Prendas Domésticas, a proprietária Nalva Maria Souza também nota maior procura por vagas. "Aumentou a crise, o que fez as pessoas darem um passo atrás. Para uma vaga de motorista, antes vinham 10 pessoas para fazer a entrevista. Agora, vêm 50", diz.
A insegurança dos patrões é um dos motivos apontados pelo economista Marcel Caparoz, da RC Consultores, para que o crescimento do emprego doméstico não ir longe. "Não existe tendência de as famÃlias terem maior renda disponÃvel para contratar empregado doméstico. A tendência, nesse momento de ajuste, é a pessoa demitir o empregado formal e contratar uma diarista. Ou, até mesmo, considerar isso supérfluo."
Andressa Santos, de 21 anos, já trabalhou como babá e cuidadora de idosos. Sem emprego fixo há um ano, tem feito bicos como manicure, cabeleireira e maquiadora. Mas voltou a buscar emprego na área doméstica. "Qualquer coisa que abrir é lucro. Quando precisa não tem muito o que escolher", diz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.