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Dividido, BC mantém taxa básica de juros em 14,25%

20:50 | 25/11/2015
O resultado era esperado: o Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira, 25, manter a taxa básica de juros, a Selic, em 14,25% ao ano, na última decisão do colegiado em 2015. A surpresa, no entanto, veio com a divisão do placar, com seis votos pela estabilidade e dois pela elevação. Com a piora da situação econômica e política do País, dois dos oito membros do colegiado gostariam de ver a Selic elevada já, para 14,75% ao ano.

O comunicado que se seguiu à decisão foi bem mais sucinto do que o da reunião de outubro. Trouxe apenas o novo patamar dos juros e a divisão do colegiado. O presidente Alexandre Tombini votou pela estabilidade, acompanhado dos diretores Aldo Mendes, Altamir Lopes, Anthero Meirelles, Luiz Feltrim e Otávio Damaso. Os dissidentes, foram Tony Volpon, o mais recente membro do Copom, e Sidnei Correa Marques, que já mostra uma tendência mais conservadora pelo menos desde que o BC passou a nominar os votos, em 2012.

Esses dois diretores revelaram que, mais do que discurso, estão preparados para agir. No comunicado passado, bem mais longo, foi apresentada a análise de que a manutenção desse patamar por "período suficientemente prolongado" era necessária para levar a inflação para o centro da meta em 2017.

O Copom suprimiu da nota agora a frase de que continuará vigilante para que o objetivo de levar a inflação para 4,5% daqui a dois anos seja cumprido. O fato apenas de ter uma divisão torna obsoleto todo o discurso que havia sido apresentado.

Para Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central, a decisão do Copom de impor um viés de alta nos juros, com a posição de dois diretores a favor da alta da Selic em 0,50 ponto porcentual, sinaliza que o BC não quer as expectativas de inflação longe do teto da meta de 6,5% em 2016. "E na medida em que as projeções para o IPCA se desgarrem dos 6,5% tornará mais difícil o trabalho da autoridade monetária de levar a inflação a convergir ao objetivo de 4,5% em 2017", destacou.

O economista sênior do banco Haitong, Flávio Serrano, avaliou que a divisão entre os diretores eleva as chances de o Banco Central subir a Selic no próximo encontro, em janeiro."A decisão pegou a gente de surpresa. Esperávamos a manutenção da Selic em 14,25% hoje, como ocorreu, e não acreditávamos que a alta de juros poderia ocorrer mais à frente. Agora, aumentou muito a chance de elevação já no começo do próximo ano", avaliou.

Esta é a quarta vez desde que houve abertura dos votos dos membros do Copom em que há divisão do colegiado. As outras vezes foram em outubro de 2012, abril de 2013 e outubro de 2014, logo após a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Em todas as ocasiões, Sidnei esteve na ponta de cima. Não há histórico de Volpon, que integrou o comitê em abril deste ano.

Desde a última reunião do Comitê, realizada em outubro, pouca coisa melhorou no cenário econômico. A recessão está cada vez mais clara e sinalizando que será profunda, o imbróglio político só piora e não há novidades no fronte fiscal. Este é o maior de todos os empecilhos do Banco Central agora.

O BC teve de lidar na decisão de hoje com as expectativas mais elevadas para a inflação, não só deste como dos próximos dois anos. O mercado financeiro prevê que o IPCA encerre 2015 em 10,33% e o próximo ano em 6,64%, já acima do teto da meta de 6,50% que é permitido à instituição apresentar. Para 2017, as projeções subiram para 5,10%. Esses mesmos analistas apontam para uma queda de 3,15% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano e de 2,01% no que vem. Expectativa de baixa da Selic foi jogada agora para outubro de 2016. E tende a ser postergada mais uma vez, depois da decisão de hoje. No primeiro levantamento realizado pelo BC este ano sobre as perspectivas para a economia, o grupo de cerca de 120 instituições financeiras acreditava que a Selic encerraria 2015 em 12,50% ao ano. Encerrou 2015 praticamente dois pontos acima das previsões. Isso porque prevaleceu a manutenção da taxa ontem.

De novo e de bom para os preços desde a última reunião do colegiado só mesmo o câmbio. No encontro de outubro, a moeda encerrou cotada a R$ 3,9450 e ontem estava em R$ 3,7467, uma pressão a menos de R$ 0,20 para os preços.

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