Para fabricantes de silos, não há espaço para alta do preço do aço
"Se quiserem impor qualquer tipo de aumento, vale a pena voltar a importar", disse ao Broadcast Agro, serviço em tempo real da Agência Estado, Jacel Duzanowski, diretor comercial do grupo Mascarello, que detém a Comil, uma das maiores fabricantes de silos do País. "O preço do aço galvanizado caiu mais de 40% nos últimos meses. Em todo o mundo o preço do minério de ferro cai e só aqui é que não?". Outras fontes ouvidas pela reportagem também rejeitaram a ideia de reajuste de preços do aço, mas veem na forte valorização do câmbio um entrave para a substituição da matéria-prima nacional pela importada.
Há cerca de duas semanas, fontes ouvidas pelo Broadcast informaram que a Usiminas elevará os preços de seus produtos siderúrgicos de 5% a 7% em outubro. A ArcelorMittal também prepara um aumento de até 10% para aços planos e, conforme apurou o Broadcast, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) irá subir os preços do aço plano de 8% e 10%, a partir desta segunda, 5.
O aço, em especial o galvanizado, é a principal matéria-prima usada na fabricação de silos, produto fundamental para a armazenagem de grãos em propriedades e terminais portuários. Estima-se que cerca de 70% de um silo seja de aço. No ano passado, o mercado de armazenagem de grãos movimentou R$ 2,4 bilhões. Este ano, a projeção é de faturamento menor, de R$ 1,8 bilhão.
Para as fontes ouvidas, não há fundamentos que justifiquem o aumento, a não ser o fato de o aumento do dólar ante o real encarecer as importações do metal e abrir para as siderúrgicas uma oportunidade de promover aumentos no mercado interno. Além da queda dos preços internacionais do minério de ferro e do aço, as fontes apontam que as vendas de silos caíram cerca 40% em 2015, reduzindo, consequentemente, a demanda por aço no Brasil. "O aumento de preços de aço pode ser justificado por dois fatores: aumento das cotações internacionais do minério de ferro e capacidade tomada da indústria (uso da capacidade máxima). Hoje não tem demanda por minério (no mercado internacional, que eleve as cotações) nem por aço no mercado nacional", disse uma fonte.
A Comil é um exemplo de empresa que reduziu as importações em 2015 em função da alta do dólar ante o real. Duzanowski conta que, até cinco meses atrás, importava 90% do aço utilizado na produção. Além de preços competitivos, os fornecedores externos ofereciam "a garantia da entrega" - algo nem sempre encontrado nas companhias nacionais. Contudo, as sucessivas altas do dólar levaram a empresa a inverter a proporção e importar apenas 10% do metal. Desde o começo do ano, a moeda norte-americana se valorizou mais de 52%.
Agora, a notícia de que as siderúrgicas brasileiras promoverão aumentos faz com que a Comil reconsidere voltar a importar. A empresa tem estoques de alguns tipos de aço para até 45 dias, mas itens de grande giro precisarão ser repostos em outubro. "Não vamos aceitar aumento. Vamos para o mercado, para os concorrentes nacionais. Se as siderúrgicas insistirem no aumento, voltamos a importar", afirmou. Segundo o diretor da Comil, em 2014 a empresa consumiu cerca de 40 mil toneladas de aço para produção de silos e outras 10 mil toneladas para a de ônibus do grupo Mascarello. Em 2015, espera-se redução de 30% nestes volumes. A baixa demanda por silos levou a empresa, inclusive, a rever processos para conseguir reduzir o preço dos silos em cerca de 10%.
Outros agentes do setor também consideram colocar os concorrentes nacionais para competir ou retomar importações. "Para a indústria siderúrgica, demanda é fundamental. Se ela chega com aumento de preço, o cliente diz que 'está fora' e vai para o concorrente, a empresa não aumenta preço, reduz. Outra possibilidade é buscar aço fora do Brasil", disse uma fonte.
Mas há também quem acredite não haver escapatória para o aumento. A gerente executiva da Casp, empresa que detém entre 10% e 15% do mercado nacional de armazenagem, Andrea Hollmann, pondera que a alta do dólar acumulada ao longo do ano torna o produto importado 30% mais caro. "Por enquanto, não vamos sofrer com o incremento. Já compramos o suficiente para suprir a produção até dezembro. Mas a partir de janeiro de 2016 vai ficar mais difícil."
Andrea também não vê justificativa no aumento. "O mercado (interno) está em recessão, CSN e Usiminas desligaram fornos", disse. Ela não descarta buscar alternativas no mercado interno para o fornecimento de aço, mas tem dúvidas de que a tática surtirá efeito. "As três principais falaram em aumento, mais ou menos ao mesmo tempo, e nos mesmos níveis. Podemos nos surpreender, mas não acredito que buscar concorrentes adiantaria". Duzanowski, da Comil, criticou o pouco tempo dado às empresas para assimilar a notícia. "Tem que ter ao menos 90 dias para a empresa se organizar. Se o aumento pegar a partir de 2016, poderemos pensar e avaliar com o mercado", disse.