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Leia entrevista na íntegra com Capitão Melo

01:30 | 24/10/2015
O POVO - Por que o senhor resolveu trocar a segurança da carreira militar pela insegurança do meio empresarial?

José Pontes de Melo (Capitão Melo) - Achei que poderia servir à pátria aqui fora. Quando tomei a decisão tinha convicção de que ia ser muito mais útil à sociedade, ao Ceará e ao Brasil, saindo para construir, dar empregos, alegrias aos compradores de imóveis e ter também um futuro mais confortável na velhice.

OP - Como foi a compra do primeiro imóvel?

Capitão Melo - Eu recebi uma gratificação de seis milhões com a apreensão de um barco de contrabando, em Areia Branca (RN). Naquela época tinha uma lei que destinava 50% do valor da mercadoria apreendida ao funcionário. Com esse dinheiro comprei um terreno do João Batista Romcy na rua Torres Câmara, consegui um financiamento da Caixa e o engenheiro Frota Caldas construiu a minha primeira casa em Fortaleza.

OP - como nasceu a construtora Melo?

Capitão Melo - Nasceu após a minha saída do Exército e eu com o desejo fazer uma empresa para os meus filhos. E fundamos a Construtora e Imobiliária Melo. A ideia da imobiliária era garantir com os imóveis alugados uma aposentadoria porque do Exército eu não teria nada. Eu vendi a casa na rua Torres Câmara por R$ 65 milhões, o cheque mais emocionante que já recebi, e comecei a construir em meu próprio nome e em nome de quem tinha terreno.

OP - O que levou a construtora Melo a entrar em dificuldade financeira?

Capitão Melo - Eu cometi vários erros. Um deles foi acreditar que faturamento era lucro. E me associar a todos que me procuravam para fazer empreendimentos e a responsabilidade financeira era sempre minha. Eu pulverizei a empresa com essas ações construindo em Recife, Natal, São Luiz, Maceió. E o meu despreparo empresarial. Eu era artilheiro no Exército e fui construir. Hoje eu posso até dizer que não me preparei para isso corretamente.

OP - O que o senhor se arrepende de não ter feito para que os rumos da construtora Melo fossem outros?

Capitão Melo - Era ir contra o meu temperamento e não ter me envolvido em tantos negócios. Assediado por muitos amigos que também queriam crescer fui levado a abrir filiais e a me associar a outros empreendimentos, sendo o responsável pelos recursos para desenvolver as obras. Teve também o problema da inflação altíssima e os clientes embevecidos pela grande correção da Caderneta de Poupança desistiam da compra e exigiam devoluções dos sinais para fazer aplicações que estava dando um rendimento muito alto.

OP - Mas o maior erro, qual foi?

Capitão Melo - Querer abarcar o mundo com as pernas, não saber negar nada a ninguém. Não ter me preparado para o futuro. Vivia o presente.

OP - Quais as lições que o senhor tirou de tudo isso?

Capitão Melo - O empresário tem que planejar, tem que se organizar, tem que ter uma equipe estável e parâmetros para saber até onde ele pode ir. Não querer abraçar o mundo com as pernas. Embora que eu abracei não com o objetivo de ficar rico. Mas era do meu temperamento de trabalhar, de vibrar com aquelas obras que eu estava fazendo.

OP - Onde o senhor buscou a força para dar a volta por cima após a construtora ter entrado em dificuldades financeiras?

Capitão Melo - Foi o desejo de que aquelas pessoas que de boa fé acreditavam em mim eu pudesse continuar ao lado delas ajudando até que elas recebessem, mesmo que não fosse tudo, alguma coisa. E isso realmente aconteceu. Hoje não temos uma habilitação de crédito de pessoas físicas que não tenha sido paga. Os créditos tributários também foram pagos.

OP - Depois de tudo que o senhor passou, o senhor guarda mágoa de alguém?

Capitão Melo - Não. Nenhuma. Fatos aconteceram mas sempre encontro motivo para dizer para mim mesmo que se houve algum desentendimento a culpa foi minha. Eu não posso ter mágoa daquela pessoa que teve algum interesse frustrado. Rezo por elas sempre que me lembro.

OP - O mercado imobiliário sofreu uma grande transformação nos últimos 25 anos tanto no aprimoramento das técnicas construtivas e principalmente da profissionalização do setor. Qual o conselho que dá aos atuais construtores, considerando o atual momento de instabilidade político-econômica?

Capitão Melo- Que se unam cada vez mais. Que preparem bem seus herdeiros para lhes substituírem. Inclusive, freando um pouco o desejo de enriquecer rapidamente. Que pensem se a forma como estão projetando seus empreendimentos, hoje, ricos nas aparências das áreas comuns, em detrimento do apartamento, é a mais correta. Que voltem a construir mais para a classe média, porque enquanto existem dez clientes nessa faixa, existem três para a alta.

OP - Como está sua vida hoje? Posso dizer que o senhor renasceu como empresário?

Capitão Melo - Eu sou um homem feliz. Tenho um lar excelente. Vivo cercado do carinho dos meus filhos, noras, genros e netos. Tenho boa saúde e estou

a caminho dos 80 anos. sinto muito vigor físico e faço o que mais gosto que é construir casas semipopulares. Estou no ramo.

OP - O que o senhor faz hoje?

Capitão Melo - Hoje eu construo casas em Paracuru e Maracanaú. Casas na faixa de 70 metro quadrados e todas financiadas pela Caixa com excelente conceito dos engenheiros que avaliam.

OP - O senhor, durante a crise da construtora, chegou a desanimar, pensou em desistir?

Capitão Melo - Nunca pensei nisso. Eu sou impetuoso por natureza. A minha formação é militar e eu continuo com ela dentro de mim.

OP - Qual o maior legado que a construtora Melo deixou para o Ceará, na sua opinião?

Capitão Melo - Eu lembro muito bem da grande construtora Mota Machado. Com o advento da Melo inúmeras construtoras surgiram como a Cipeme, Pedro Mesquita, Nossa Senhora de Fátima. Empregos mil para nossos trabalhadores, corretores etc. Finalmente, despertou os cearenses para construir e hoje posso dizer, já fizeram muito mais que a melo em 20 anos.

OP - O senhor já passou por várias crises. Como o senhor avalia o momento atual da política e da economia brasileira?

Capitão Melo - Nossa economia passa por uma das maiores crises já vista pelo brasileiros e pelo mundo inteiro. Fruto de um governo despreparado, desonesto, corrupto, que teve como projeto se perpetuar no poder. A classe política está totalmente desmoralizada. O Lava Jato após o Mensalão expôs todos os males praticados pelo governo do ex-presidente Lula e da senhora Dilma. Acredito que aventureiros, acreditando na perpetuação do PT no governo imaginaram que não seriam apanhados. O maior símbolo industrial do Brasil, a Petrobras, orgulho sempre das Forças Armadas, o BNDES e muitas outras estão aí esfaceladas. O Brasil necessita com urgência de um novo gestor para corrigir os erros.

OP - Qual foi a pior crise econômica que o senhor viveu como empresário?

Capitão Melo - Foi em 1994. O plano real nasceu para solucionar essa grande crise de inflação altíssima e o povo todo desorganizado. Mas, não tão grave quanto a de hoje. Porque hoje a crise econômica está associada à crise moral. Pelo menos não se tinha notícia como se tem hoje.

OP - Não é por causa da internet que faz as notícias serem divulgadas mais rapidamente?

Capitão Melo - Pode ser. Tudo proporcional. Mas acho que com esse exagero, vindo de dentro do poder público, não havia não.

OP - Que visão de futuro o senhor tem para o mercado imobiliário e do Brasil?

Capitão Melo - O futuro que eu espero só pode ser bom se nós tivermos forças para mudarmos a situação atual. Nós temos que dar um basta nessa crise custe o que custar.

OP - O que precisa mudar?

Capitão Melo - Tem que mudar esse sistema político que nós estamos em que os recursos da Nação são gastos aleatoriamente, entregues a deputados, senadores para que mandem esse dinheiro para as suas comunidades. E muitas vezes, esse dinheiro não chega no pai de família, no pobre, no homem que não tem onde se apoiar. Então, temos que mudar isso aí com urgente. É um basta nessa situação e que o País se levante e vá trabalhar. Nosso País é grande, é forte, é rico mas precisa ser dirigido por quem tem capacidade e honestidade, principalmente.

OP - Que conselho o senhor dá para aqueles que estão começando?

Capitão Melo - Vários anos da minha vida eu trabalhei com os jovens no Colégio Militar de Fortaleza, principalmente, e também nos quartéis por onde passei. Aos jovens hoje eu digo que estudem

sejam disciplinados, fujam das drogas, unam-se aos seus pais e amem a nossa pátria, cantem o Hino Nacional, respeitem os mais humildes, se coloquem a serviço da pátria, custe o que custar. O Brasil vai necessitar muito de vocês para manter suas instituições, preparar e recuperar a honra da nação e se desenvolver por meio de suas inteligências. Sejam comerciantes com o espírito elevado de servir ao próximo, antes de si mesmo.

OP - O senhor tem um carinho muito grande pelo Exército brasileiro?

Capitão Melo - Tem duas instituições que trago no meu coração e agradeço: O Exército brasileiro, na primeira fase da minha vida, e a Caixa Econômica Federal, principalmente a filial do Ceará.

OP - Como foi que nasceu o construtor?

Capitão Melo - Quando eu ainda estava no Exército já construía casas para os meus colegas. Fora do expediente no Colégio Militar eu trabalhava como construtor.

OP - Vários dos empresários que são donos de construtoras hoje passaram pelo comando do senhor no Colégio Militar de Fortaleza?

Capitão Melo - Sim. Entre eles o José Carlos, da Marquise, e o Ronaldo, da Colmeia. O José Carlos Nogueira da Gama foi trabalhar comigo na construtora Melo quando ainda nem era formado. Depois que se formou engenheiro continuou comigo ainda por algum tempo para depois fundar a própria construtora.

OP - A partir de que momento o senhor começou a construir através da construtora?

Capitão Melo - Eu vendi a casa da rua Torres Câmara para um funcionário do Banco do Brasil, José Guilherme Gondim. Ele me comprou a casa e eu aluguei a casa dele na praça São Sebastião. Recebi 65 milhões e tinha que pagar a Caixa porque a casa era financiada. com o que sobrou eu comecei a construir.

OP - Qual o primeiro imóvel da construtora Melo?

Capitão Melo - O primeiro edificio, de três andares, foi o CralMelo. A Cral era uma construtora de estradas e nós nos associamos para construir o prédio, na rua Pereira Valente.

OP - O senhor teve alguma preparação para ser construtor, empresário da construção civil?

Capitão Melo - Não. Minha preparação foi fazer duas casas em Natal (RN).

OP - Como foi no início da construtora?

Capitão Melo - Tinha muito crédito e eu construi praticamente tudo financiado pelo Sistema Financeiro de Habitação da época.

OP - Quando foi que a construtora Melo começou a ter dificuldades financeiras?

Capitão Melo - Eu comecei a abrir negócios em Recife, Natal, Maceió, São Luís do Maranhão. Eu me associava com outros colegas do Exército e fazia as construtoras. Fiz inúmeras unidades habitacionais em consórcio com a Cral - Construtora Raimundo Alves, que tinha como sócio o coronel Garcez. Teve consórcios em Recife e Natal com os engenheiros Barbalho e coronel Rebouças, ambos do Exército.

OP - O senhor pode citar algumas obras da construtora Melo?

Capitão Melo - Edificios Bronx, Broklin e Queen, na Aldeota; conjuntos Eldorado I e II (apartamentos e casas na avenida Dedé Brasil), a sede da construtora na avenida Barão de Studart, que permanece até hoje, e edfício Trastevere, também na avenida Barão de Studart.

OP - Quando surgiram problemas financeiros para a construtora Melo o que o senhor fez?

Capitão Melo - Eu pedi concordata. A lei dizia dois anos e já estamos com 21 anos nesse processo.
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