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Andrade Gutierrez oferece fatia da CCR no mercado

07:05 | 19/10/2015
O grupo Andrade Gutierrez, uma das 23 empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato, que investiga corrupção em contratos da Petrobras, começou a ofertar parte de seus ativos para grupos e fundos de investimentos estrangeiros. O jornal O Estado de S. Paulo apurou que o conglomerado já ofereceu sua participação de 17% na concessionária CCR para pelos menos três grupos - os fundos Temasek e GIC, ambos de Cingapura, e a canadense Brookfield.

Fontes afirmam, no entanto, que ainda não há negociações firmes. A empresa detém 17% das ações da CCR, mesma fatia da Camargo Corrêa. Outro sócio é o grupo Soares Penido, com 17,22%. Pelo acordo de acionistas da concessionária, no caso de venda de participação, os demais investidores da companhia devem ser consultados primeiro e têm preferência na compra das ações.

Ainda segundo fontes, a Andrade Gutierrez só venderia esse ativo, que é considerado atrativo no mercado e tem vários interessados, se o comprador pagar um grande prêmio pelo negócio. O valor de mercado da CCR é avaliado em R$ 23 bilhões. Há um ano, valia R$ 30 bilhões. Além de concessões rodoviárias, como o sistema Anhanguera-Bandeirantes, a empresa administra o Aeroporto de Belo Horizonte. Em nota, a Andrade Gutierrez negou veementemente que esteja vendendo sua participação na CCR.

A reportagem apurou que Brookfield e Temasek, que já têm investimentos no País em infraestrutura, estão de olho em outros ativos de companhias envolvidas na Lava Jato. Segundo o presidente da assessoria financeira BF Capital, Renato Sucupira, em função do câmbio, empresas brasileiras têm despertado a atenção do investidor estrangeiro.

Com a desvalorização do real, os ativos ficaram, em média, 50% mais baratos em dólar. A CCR, por exemplo, custaria na moeda americana US$ 5,6 bilhões, na cotação de Sexta-feira.

"Já entre os brasileiros, a situação é mais complicada. Dos oito grandes grupos nacionais que teriam condições de entrar numa empreitada desse tamanho, dois são acionistas da empresa e os demais também estão vendendo ativos." Segundo o executivo, hoje há muita oferta, vários investidores interessados e um ambiente adverso para fechar negócios. "Mesmo com o Brasil barato, há incertezas. Hoje, não vale a pena pagar por esse risco, mesmo que o negócio seja atrativo", disse uma fonte de um grande fundo.

Além da fatia da Andrade Gutierrez na CCR, outros grupos estão colocando à venda participações que têm em empresas. A Camargo Corrêa, por exemplo, tenta se desfazer de sua fatia na Alpargatas, InterCement e CPFL, conforme já informou o Estado. A OAS, por sua vez, também colocou à venda sua participação na Invepar, controladora da concessionária do Aeroporto de Guarulhos.

Dificuldades

Segundo fontes, além da CCR, a Andrade Gutierrez já sinalizou interesse em se desfazer de outros ativos caso a situação piore. Com o envolvimento na Lava Jato e a prisão do presidente da holding, Otávio Azevedo, a empresa foi impedida de participar de novas licitações da Petrobras e viu suas receitas em óleo e gás caírem.

Em recente relatório, divulgado na semana passada, a agência de classificação de risco Fitch demonstra preocupação com os efeitos da Lava Jato na construtora, como a maior dificuldade para obter financiamentos futuros.

Segundo o documento, outro ponto fraco do grupo é a forte concentração da carteira de projetos no setor público. Dos R$ 28,8 bilhões da carteira de projetos em 30 de junho deste ano, 82% estavam atrelados a empreendimentos públicos.

Um problema que pode afetar o caixa da empresa é a dificuldade dos governos - federal e estaduais - de manter os pagamentos em dia. Levantamento da ONG Contas Abertas mostra que os desembolsos do governo federal para as empreiteiras envolvidas na Lava Jato caíram 60% neste ano.

Junta-se a isso o fato de a companhia possivelmente ser punida pelo envolvimento no escândalo de corrupção da Petrobras, que deve retirar alguns milhões do caixa da companhia. O grupo também é acionista da encrencada Oi, altamente endividada e que virou uma empresa de capital pulverizado.

Procuradas, CCR, Brookfield e Temasek não comentaram o assunto.O GIC não retornou os pedidos de entrevista.

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