Queda do PIB Pode superar 1% no 3º trimestre
A avaliação dos economistas é de que alguns dados consolidados de julho, pelo menos os de atividade, podem não ter sido tão ruins. O resultado do varejo ampliado de julho, por exemplo, subiu 0,6%. A questão é que alguns dados de agosto devem decepcionar, como sugerem os chamados indicadores antecedentes e coincidentes, como os de fluxo e produção de veículos, produção de papelão ondulado e de energia. Para setembro, o que se tem por ora são números fracos de confiança e queda na utilização da capacidade instalada da indústria. Na terça-feira (22), a Fundação Getúlio Vargas (FGV) informou que a confiança da indústria caiu 2,5% este mês (prévia), ao menor nível de toda a série histórica, iniciada em abril de 1995.
Na Santander Asset Management, o economista-chefe Ricardo Denadai calcula queda de 1,1% do PIB no terceiro trimestre ante o segundo e de 4,0% ante o terceiro trimestre do ano passado, já contando com piora dos dados de atividade e demanda em agosto e setembro. "A velocidade de deterioração na margem se reduz, mas ainda assim continuamos contraindo em cima de uma queda de -0,7% (primeiro trimestre) e de outra de -1,9% (segundo trimestre)", disse.
"Apesar de todo esse ajuste já visto na indústria, a situação é de estoques elevados. Pelo dado da prévia da confiança da indústria, o ajuste continua no terceiro trimestre e tem cara de que pode seguir no quarto", disse.
Pelo lado da demanda, Denadai diz que, embora o setor externo possa continuar colaborando, não será o suficiente para compensar as quedas esperadas para o consumo das famílias, do governo e dos investimentos. "São contribuições mais no sentido de evitar quedas maiores no PIB", comentou.
Mesmo não tendo projeções para o PIB em números, a economista-chefe da XP Investimento, Zeina Latif, não afasta a possibilidade de dados piores que os do segundo trimestre, ainda mais depois da perda do grau de investimento pela S&P. "Os modelos sugeriam que a queda do terceiro trimestre poderia ser mais moderada, mas corremos risco de ter números piores do que os do segundo trimestre porque, na dúvida, todo mundo (empresas e consumidores) para. A economia é como um paciente já tão debilitado que fica sujeito a novas infecções", disse, referindo-se ao efeito cascata visto nos últimos dias. A deterioração fiscal acelerou o downgrade da S&P, que detonou a escalada do dólar.
Para Zeina, a contaminação da crise financeira no setor produtivo é "muito grave", afetando a confiança e a perspectiva de investimentos. "Por este aspecto, a recessão deve ser mais longa e há risco de frustração com terceiro trimestre", reforçou, lembrando que o dólar em R$ 4 e sob volatilidade afeta muito o planejamento das empresas. Até para os exportadores, que em tese se beneficiam da alta do dólar, a situação do câmbio é complicada. "Ninguém faz hedge perfeito", lembrou.
Diante de tantas incertezas, a queda de 0,8% do PIB do terceiro trimestre na margem esperada pelo Banco Pine está sob viés de baixa, segundo o economista Marco Antonio Jacob Caruso. "Pode ir a -1,0%, a -1,3%. Vai ser um caminho natural, pois agosto foi feio para indústria e varejo", disse. Para 2015, do mesmo modo, o economista pode rever para recuo de 3% sua atual previsão de queda de 2,8%.
A projeção do economista da AZ Quest, André Muller, também está em risco. "Comecei com projeção de queda de 0,5% para o terceiro trimestre e hoje está mais para -0,8%. Da divulgação do PIB do segundo trimestre para cá, a percepção piorou muito. A expectativa de -2,7% para o PIB no ano também está com viés de baixa", disse.