Indústria de alumínio vive pior fase em 30 anos
O Brasil possui a terceira maior reserva mundial de bauxita, minério usado na produção do alumínio. No centro dessa crise está o elo mais sensível da cadeia: os produtores do "alumínio primário", que é matéria-prima usada parar fabricar carros e suprimentos da construção civil, por exemplo.
Até 2011, havia sete grandes produtores de alumínio no País. De lá para cá, ano após ano, uma grande fábrica fechou suas portas. O mais recente episódio foi em março, quando a Alcoa, uma das maiores produtoras mundiais, anunciou a demissão de 650 funcionários em sua unidade de São Luís (MA), e encerrou a produção do alumínio primário no País.
Hoje, aos trancos e barrancos, essa produção é tocada pela Albras, empresa da companhia norueguesa Norsk Hydro, que atua em Barcarena (PA), e pelo Grupo Votorantim, que está no município de Alumínio, interior de São Paulo.
Pico
Depois de atingir um pico de produção de 1.661 toneladas de alumínio primário em 2008, o setor passou a experimentar uma queda constante na fabricação do metal, até chegar às 962 toneladas entregues no ano passado. Para este ano, o que se espera é uma situação ainda pior, com apenas 780 toneladas produzidas, mesmo volume que o Brasil entregava em 1985.
A indústria nacional emprega cerca de 150 mil pessoas e fatura aproximadamente R$ 40 bilhões por ano. De janeiro para cá, 15 mil pessoas foram demitidas. "Começamos este ano prevendo uma queda de 3% na produção nacional. Agora essa redução mais que dobrou e está estimada em pelo menos 7%", diz Milton Rego.
O preço da energia e seu peso crescente na produção do alumínio é apontado como o principal vilão da indústria. Em 2008, a conta de luz respondia por 43% dos gastos operacionais para produzir o alumínio primário. Desde então essa participação só cresceu. Hoje, de cada R$ 100 injetados na produção de alumínio, pelos menos R$ 60 são destinados à conta de energia. "Isso é insustentável. O governo diz que está sensível a nossa situação, mas na realidade não tem feito nada", afirma o presidente da Abal.
Apesar do drama na indústria, o consumo nacional de alumínio tem crescido, em média, 5% ao ano, e hoje chega a 1,4 milhão de toneladas. Apesar de parte dessa demanda ser atendida por alumínio "secundário", resultado de reciclagem, uma boa parcela já é suprida por importação.
Desde o ano passado, segundo informações da Abal, o Brasil passou a ser mais importador de alumínio primário, em vez de exportador. O saldo negativo na balança comercial foi de US$ 643 milhões em 2014. Neste ano, esse desequilíbrio vai passar de US$ 1 bilhão, podendo atingir o dobro de 2014.
No longo prazo, a previsão do setor é de que a demanda por alumínio primário chegue a 3,2 milhões de toneladas em 2025. Dadas as condições atuais, porém, a produção nacional atravessaria esta década com a previsão de entregar cerca de 600 toneladas por ano.
A situação não é desconhecida do governo. No plano decenal de energia, documento do Ministério de Minas e Energia que orienta as prioridades do segmento para os próximos dez anos, é reconhecido que "nesse horizonte, o Brasil deverá se consolidar como um importante exportador de alumina, insumo intermediário para a obtenção do alumínio primário", enquanto este último deverá ter a sua importação ampliada. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.