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Apesar da intervenção do BC, dólar tem alta de 2,10% e chega a R$ 4,15

21:50 | 23/09/2015
O Banco Central fez uma intervenção pesada nesta quarta-feira, 23, no câmbio, com a oferta de US$ 5 bilhões, mas não conseguiu acalmar o mercado. Em dia de muito nervosismo, o dólar à vista disparou e encostou em R$ 4,15 durante a tarde. No fim do dia, o dólar fechou com alta de 2,10%, a R$ 4,1350, novo recorde de cotação desde o lançamento do real, em 1994. Essa foi a quinta sessão de negócios consecutiva de alta do dólar. A cotação para outubro, negociada no mercado futuro, subiu 3,18%, para R$ 4,1900.

O clima de pânico também marcou as negociações do mercado futuro de taxas de juros. Apesar das intervenções do Tesouro Nacional, as negociações tiveram de ser interrompidas quando a taxa DI de juros de janeiro de 2017 atingiu o limite de alta. As negociações registravam a chance majoritária da taxa básica de juros (Selic) subir 3 pontos porcentuais em meados do ano que vem. Hoje, a Selic está em 14,25% ao ano.

A Bolsa de Valores caiu 2,0%, para 44.544,85 pontos, no menor nível desde 25 de agosto.

Contágio na economia

Para o economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, o Banco Central e o Tesouro devem ser mais agressivos em suas intervenções. "Estamos vivendo algo grave que pode ficar muito pior. Se há perdas todos os dias, isso pode contaminar a indústria de fundos", afirmou o ex-secretário do Tesouro.

"E se pensarmos no estrago que isso fará na atividade econômica e o efeito negativo nas contas públicas, eu recomendaria fortemente que se usasse a bala na agulha que temos", afirmou Kawall, referindo-se ao tamanho das reservas internacionais e ao colchão de liquidez que o Tesouro dispõe.

Hoje, o Banco Central realizou cinco leilões extras de dólar: quatro de linha (venda de dólares com compromisso de recompra) e um de swap (equivalente à venda de dólares no mercado futuro). As operações, realizadas durante a tarde, reduziram um pouco a pressão, mas estiveram longe de conter o pânico entre os investidores, provocado pela crise política.

"Essa atuação deveria segurar um pouco, mas a volatilidade está muito grande", disse o gerente de câmbio da corretora BGC Liquidez, Francisco Carvalho. "O mercado está perdido e corre para o dólar."

Vetos de Dilma

O motivo imediato do nervosismo foi a avaliação pelo Congresso dos vetos da presidente Dilma Rousseff a medidas que podem elevar as despesas do governo. Na noite de terça-feira, o Congresso manteve 26 dos 32 vetos, mas não votou questões importantes, como o reajuste dos servidores do Poder Judiciário.

Outra razão para o clima pesado foi a especulação em torno de um novo rebaixamento da classificação de risco do Brasil. Hoje, representantes da agência Fitch se reuniram com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.

Em um ambiente de forte estresse, os investidores deixaram os fundamentos econômicos de lado e colocaram os boatos políticos em primeiro lugar. A cotação do dólar oscilou da mínima de R$ 4,0150 (queda de 0,86% em relação ao dia anterior) a R$ 4,1440 (alta de 2,32%), registrada às 12h42.

Solução política

"A solução está em Brasília, e não nos leilões", disse José Carlos Amado, operador da Spinelli Corretora. "Todo mundo está em estado de choque."

Por essa lógica, enquanto o governo não retomar a força e aprovar no Congresso as medidas do ajuste fiscal, não há motivos para o dólar ceder.

Não bastassem os problemas internos, o cenário externo também não ajudou. O dólar americano subiu em relação a várias outras moedas, incluindo o dólar australiano, o dólar canadense e o peso chileno.

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