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Nakano alerta que uso do overnight responde por 40% da dívida pública

20:40 | 14/08/2015
Um mecanismo muito comum na época da hiperinflação, quando o Brasil era visto com maiores desconfianças pelos investidores e os próprios consumidores precisavam preservar o poder de compra da moeda, o "overnight" tem sido cada vez mais usado para financiar a dívida pública brasileira atualmente, alertou o economista Yoshiaki Nakano, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EESP/FGV). Ele estima que o saldo do overnight hoje já chega a R$ 800 bilhões e responde por cerca de 40% da dívida pública do País, em um movimento crescente nos últimos meses.

"Isso é um sinal de insegurança e é algo realmente preocupante. É a forma que o governo encontrou se financiar seu déficit", alertou Nakano após palestra no seminário Inflação e Crescimento, na sede do Instituto Brasileiro de Economia, no Rio. Segundo o economista, esse tipo de financiamento de curto prazo gera uma despesa com a dívida pública muito onerosa, pois é indexado à Selic, que subiu nos últimos meses. Além disso, o quadro evidencia as dificuldades que o Tesouro Nacional enfrenta. A maneira mais saudável e sustentável seria a emissão de títulos de longo prazo prefixados.

"O problema é que você, por conta disso, tem política monetária praticamente passiva, precisa de um juro absurdo para conseguir alguma coisa. Mas o que acontece quando você faz isso? A dívida do governo aumenta, então você precisa fazer um ajuste fiscal muitíssimo maior do que o que está sendo proposto", diz Nakano. Arcar com esses custos, estima o economista, demandaria um superávit primário de pelo menos 3% do Produto Interno Bruto (PIB).

Para o professor da EESP/FGV, a estabilidade econômica é um processo inacabado. "O plano Real só resolveu parte do problema. Faltou resolver questão fiscal. Então, quando precisa fazer política monetária, é preciso elevar juros", afirmou.

Segundo Nakano, uma das reformas necessárias para a melhora do perfil da dívida pública seria extinguir a Selic, a taxa básica de juros. "Não se acabou com o mal maior, que é a Selic, que indexa todo o sistema financeiro à taxa de juros, e a política monetária daí não tem muito efeito", disse o professor.

Quem mais ganha com a indexação, afirma Nakano, são os bancos, enquanto a população paga com inflação. Para extinguir a Selic, taxa que não encontra semelhante em outros países, destacou o economista, é preciso planejamento, respeitar as metas fiscais e apostar em títulos prefixados da dívida pública. "É preciso tirar todas as LFTs (Letras Financeiras do Tesouro) do mercado. Mas, claro, é muito mais fácil fazer isso quando o juro está caindo", disse.

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