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Banco Palmas adere à tecnologia e busca alternativas para superar crise econômica brasileira

Segundo o coordenador do Banco Palmas, João Joaquim, é preciso pensar no processo de industrialização da periferia de Fortaleza

19:39 | 17/08/2015
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Referência no mercado de economia solidária, o Banco Comunitário Palmas resiste à crise econômica brasileira e busca alternativas para superar o momento. Desde abril, a agência implantou a versão eletrônica da moeda social, Palma, através do aplicativo para celular - o E-Dinheiro - para agilizar o comércio e reduzir os custos operacionais.

O coordenador do Banco Palmas, João Joaquim, afirma que a vantagem está na cobrança da taxa de manutenção. Segundo ele, a agência comunitária cobra 2%, enquanto operadoras de cartão de crédito chegam a cobrar de 3% a 5%. "Tem grande vantagem porque faz o comércio com mais agilidade. Já que é eletrônico pode realizar venda à distância. Os clientes compram com mais velocidade. Essa dinâmica ajuda o comércio e colabora para amenizar os impactos da crise", disse.

Outra alternativa para reduzir os efeitos do conflito financeiro, acredita Joaquim, é aumentar a cadeia produtiva local e diminuir a dependência do mercado fora do bairro. O coordenador explica que existem produtores na comunidade, mas ainda estão dentro de uma escala artesanal. Para João, é preciso pensar no processo de industrialização da periferia de Fortaleza.
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"Chamamos de hibridação de economia. Temos mercado próprio, mas está vinculado com o mercado lá fora. Reduz o impacto, mas não evita completamente. Quando as indústrias vierem pra cá, menor será a dependência do mercado de fora e o impacto da crise ou recessão", comentou.
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Conforme o coordenador, o Banco Palmas ainda precisa de um investimento pesado para alavancar o comércio do bairro. "O banco faz um cálculo que para estabilizar a empresa que criamos, resolver o problema do bairro e alavancar o comércio, precisariam de R$ 50 milhões. Isso depende do poder público e mercado financeiro", relata.

Atualmente, o Banco Palmas oferece duas linhas de créditos para a comunidade - o Real (moeda oficial brasileira) e a Palma (moeda social da região). A Organização Não Governamental (ONG) já opera desta forma a 17 anos, estimulando a produção e o consumo dentro do Conjunto Palmeiras. Mesmo com a proteção do mercado e a poupança criada no lugar, os efeitos da crise são sentidos pelos moradores, comerciantes e pela própria agência.

"O fato de ter uma poupança local não evita que a crise chegue. Fomos afetados sim. Embora o banco crie uma proteção local, tem um comércio e um circuito voltado para comunidade, a maioria das pessoas trabalha lá fora. Se ficam desempregados, consomem menos. Acaba que reduz a produtividade e o volume de venda dentro do próprio bairro", conta o coordenador João Joaquim.

Impacto
Em 2014, o Banco Palmas realizou três mil operações de crédito e a inadimplência fechou em 2%. Passado o primeiro semestre deste ano, a agência comunitária está com 800 operações e a inadimplência já atingiu os 4%. Conforme o coordenador Joaquim, houve redução do poder de compra e de venda.

"A crise é séria. O BNDES restringiu a nossa linha de crédito. Nossa carteira de crédito que todo ano fazia R$ 3 milhões, este ano caiu para R$ 2 milhões. A crise não para nossas operações, mas reduz", disse João.

De acordo com o comerciante Clenilton Santos, 39 anos, dono de um mercadinho no Conjunto Palmeiras, houve queda nas vendas e o comércio está parado. Para ele, o mercado local depende da movimentação e dos projetos sociais do Banco Palmas.

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Segundo a vendedora Fátima Almeida, 63 anos, que fazia compras em um supermercado da região, o preço dos alimentos está elevado. "É um absurdo. Antes de comprar, tem que pesquisar. Economizar R$ 0,02 é lucro", disse ela.

A crise no país
O Brasil teve sua nota de crédito rebaixada pela agência de classificação de risco Moody's, de "Baa2" para "Baa3", e a perspectiva passou de negativa para estável. O país segue dentro do grau de investimento, mas com a média mais baixa que garante uma região com o selo de bom pagador.

A nota de um país no mercado financeiro serve como parâmetro de segurança para investidores. Para o economista e consultor econômico Henrique Marinho, a crise política entre o Governo e o Congresso dificulta as decisões econômicas no Brasil, onde a situação se agravou nos últimos anos.

"Estamos numa grande incerteza econômica que paralisa as atividades. A taxa de juros elevada dificulta o acesso ao crédito. Todas as empresas, de pequeno a grande porte, estão agindo com cautela, assim como as pessoas ficam mais cautelosas com medo de se endividar", analisou Henrique.

A expectativa é que o Brasil encerre o ano com crescimento negativo em torno de 2%, estabilize em 2016 e, somente em 2017, comece a andar para frente, segundo o consultor econômico. Henrique acredita ainda que o conflito político acabou adiando a recuperação da economia, visto que muitas medidas sequer foram aprovadas e atrasou o ajuste.

Saiba mais
O empréstimo mínimo do Banco Palmas é de R$ 50, enquanto o máximo é de R$ 15 mil. Atualmente, a agência comunitária possui cinco mil clientes.

O Banco Palmas emprega 23 pessoas com carteira assinada, além de estagiários. Segundo o coordenador João Joaquim, a atividade da agência gerou dois mil postos de trabalho.

De acordo com o estudo da Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE) de Fortaleza, Conjunto Palmeiras possui o pior Índice de Desenvolvimento Humano por Bairro (IDH-B) da Capital.
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