Fraqueza de 2015 traz projeções de queda para o PIB de 2016
Na primeira pesquisa Focus deste ano, as projeções de crescimento para 2016 eram de 1,80%. Agora, já estão em 0,50%, mas tendem a voltar a cair em breve. Nesta semana, o Bradesco revisou de 0,5% para zero sua previsão para o desempenho da atividade no próximo ano, citando o forte carrego estatístico de 2015, que deve ter contração de 1,8%. Já o Itaú Unibanco cortou de 0,3% para -0,2% a perspectiva sobre o desempenho da economia em 2016, após o tombo de 2,2% esperado para este ano.
O economista do Santander Brasil Rodolfo Margato revela que o banco está revisando suas projeções e deve anunciar os novos números nos próximos dias. Atualmente, a expectativa é de contração de 1,5% este ano e expansão de 0,5% no próximo, mas o analista adianta que a previsão para 2016 deve ser alterada para algo perto de zero. "Vemos uma contração na atividade econômica bastante disseminada entre os setores, com surpresas negativas no varejo, a indústria com estoques muito elevados e níveis de confiança de empresários e consumidores nos patamares mais baixos das séries históricas", comenta.
Para o PIB de 2015, a Focus aponta queda de 1,5%, que seria a maior desde a retração de 4,35% sofrida em 1990. Mantidas as projeções de crescimento de 0,50% em 2016, 1,80% em 2017 e 2,10% em 2018, a média de crescimento anual do segundo mandato Dilma seria de 0,72%, a menor desde o governo Collor, quando a média foi de -1,29% ao ano. No primeiro mandato Dilma, a média foi de 2,2%, o que já era o nível mais baixo desde Collor.
Um dos problemas é que os ajustes macroeconômicos que precisam ser feitos no Brasil são grandes demais e não serão concluídos este ano, segundo o economista-chefe para América Latina do banco ING, Gustavo Rangel. "Não dá para culpar o mundo. Os problemas do Brasil são essencialmente domésticos. Agora não tem como inovar, temos de insistir em um ajuste clássico e pagar o preços pelas falhas do passado", explica. Ele estima queda de 2% no PIB deste ano e crescimento zero em 2016.
Alternativas
Pensando nas possíveis saídas para o atual período de estagflação, o economista-chefe da AZ FuturaInvest, Paulo Eduardo Nogueira Gomes, aponta que é preciso avançar com o programa de investimentos em infraestrutura, ampliando fortemente as concessões e privatizações. "Nós ainda temos gargalos que, mesmo com a economia parada, atrapalham. O empresário sente a inércia do governo e põe o pé no freio dos investimentos", argumenta.
A contribuição da balança comercial também é uma esperança, já que as importações estão despencando, o que gera um saldo líquido de exportações, contribuindo positivamente no cálculo do PIB. Mesmo assim, esse fator não deve trazer grande alívio, pois a recuperação econômica em outras partes do mundo é bastante titubeante. Nesta semana, ao anunciar a revisão na sua projeção para o PIB de 2016, o economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, lembrou que a recuperação global desta vez não poderá contar com o apoio do comércio internacional.
"O comércio mundial está degringolando. A demanda externa não será um grande driver de crescimento dos emergentes, mesmo com uma depreciação cambial importante do câmbio, como vemos no Brasil", comentou Barros. "Não vejo grandes perspectivas para o conjunto das commodities industriais, e isso afeta bastante a economia brasileira", acrescentou.
Rating
No atual cenário, a maioria dos analistas já dá como certo o rebaixamento da nota soberana pela Moody's, que é a única das três principais agências de rating que classifica o Brasil dois níveis acima do chamado "grau especulativo" e está com seus técnicos no País esta semana. A perda do grau de investimento ainda não está totalmente preficicada, mas essa possibilidade vem crescimento nos últimos meses, já que a atividade muito fraca derruba a arrecadação e pressiona as métricas de dívida.
No longo prazo, a melhora do PIB potencial brasileiro depende de reformas estruturantes, que são de difícil aprovação no Congresso, em especial no atual ambiente de crise política e popularidade muito baixa da presidente. Rangel, do ING, afirma que até existe uma agenda positiva no Ministério da Fazenda, como por exemplo as propostas de reforma do ICMS e do PIS/Cofins, mas Levy enfrenta muitas resistências.
Margato, do Santander, acredita que os primeiros sinais de uma recuperação mais consistente da economia brasileira poderiam surgir na segunda metade do próximo ano, o que levaria a um crescimento moderado em 2017. Essa perspectiva, no entanto, considera a materialização de ajustes importantes na economia, não só nos âmbitos fiscal e monetário, mas também da relação entre câmbio e salários.
"O atual processo de deterioração do mercado de trabalho deve persistir em 2016, causando uma queda dos salários em termos reais, que junto com a depreciação do câmbio gerariam mais exportações, levando a um aumento de produção e investimentos. É uma janela de oportunidade a partir de 2017, mas que considera a concretização dos ajustes de preços relativos da economia", ressalva o economista do Santander.