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Íntegra da entrevista com Gustavo Dubeux

01:30 | 27/05/2015
O POVO – Vocês estão fazendo um grande investimento em Fortaleza, aqui no Evolution Central Park, nesse momento em que o mercado está retraído. O cenário é bom? O que leva a Moura Dubeux a apostar?

Gustavo Dubeux - Primeiro porque temos conversado com os bancos e vemos que as coisas continuam a acontecer. Agora, é evidente que os bancos e nós estamos sendo cautelosos. Só estamos lançando aqueles empreendimentos sobre os quais nós temos certeza de que haverá adesão do mercado. Este aqui é um deles. Os bancos vão continuar a financiar, evidentemente, em uma escala menor porque eles estão sendo seletivos. E o Evolution Central Park é um dos primeiros nessa relação com as instituições financeiras.

OP - Vocês já lançaram dez torres. Ainda há oito por lançar.

Gustavo - Já atingimos 60% do projeto. São nove lotes, com uma média de duas torres em cada. Estamos começando hoje nossa fase de mídia. Dentro do nosso plano de negócios, lançaremos mais dois até o final do ano, no segundo semestre. Não lançaremos tudo neste ano, as demais devem ficar para o próximo ano a depender da demanda. Mas nós estamos bastante otimistas, porque o shopping está funcionando e esta área está amadurecendo. Evidentemente, os prédios estarão sendo mais vistos. Você já vê que é um local agradável. Tem prédio que já está com 100% vendido, mas a média é de 70%, 80% vendido. É um percentual muito alto, acima das nossas previsões. Isso também justifica nosso otimismo.

OP - O mesmo está acontecendo no empreendimento que fica ao lado do Riomar Presidente Kennedy?

Gustavo - Também fomos muito felizes naquele empreendimento, o Boulevard. Lá tem um conceito parecido com esse do Evolution. Lá são cinco torres e, no próximo mês, lançaremos a terceira. A média de renda foi acima do que a região apresenta. Isso mostra a capacidade da Cidade. A gente vê que o mercado de Fortaleza é muito forte. Hoje, o cliente é exigente. Ele quer comprar coisa boa e ter qualidade de vida. Em cima disso, a empresa está investindo e a cada vez mais, pensando na qualidade de vida para lançar os projetos. Esses projetos foram criações de destinos. É assim que a empresa trabalha, com grandes áreas, criando destino, trazendo âncoras, investindo em mobilidade. E você não tem condições de fazer em bairros já consolidados porque não tem terreno.

OP – Em parte, vocês assumem um papel que muitos empresários diriam ser do poder público. Investir em mobilidade, no entorno. Isso é uma contrapartida. Mas, além das obrigações, isso é uma maneira de agregar valor ao empreendimento?

Gustavo – Primeiro é uma conscientização. A empresa tem que colaborar com o poder público, com a cidade. Tudo o que você está vendo no entorno não existiria se não fosse o Riomar, a Moura Dubeux e a Otoch Empreendimentos. Fizemos essas intervenções. E elas criam valor para o empreendimento. Aliás, em Fortaleza, a Prefeitura de Fortaleza é uma parceira, sempre participando de tudo. A secretária (Águeda Muniz, da Seuma) é uma pessoa muito atuante. É evidente que a burocracia existe, mas nós estamos sentido uma melhor nisso. Mas a gente sente a vontade de que as coisas andem.

OP – Falando nessa relação com o poder público, no Recife, vocês estão enfrentando um problema com Estelita. Qual a perspectiva de solucioná-lo?

Gustavo – Estelita era o caso de um terreno como esse. Um espaço urbano sem uso. Estamos deixando que as coisas aconteçam. Fizemos redesenho do projeto. A Prefeitura, que ouviu sete entidades, propôs alterações. Nós estamos atendendo. Estamos seguindo ritmo para apresentar novos projetos para que todos fiquem satisfeitos.

OP – A reação pública foi muito forte. Vocês acreditam no consenso?

Gustavo - É importante atender a grande maioria. Antes desse redesenho, 80% já era a favor do projeto. Agora, esse índice vai aumentar. Foi criada muita coisa. Além de contrapartida de investimento, que foi um valor bem acima da média, a cidade vai ganhar muito com o projeto. É um conceito diferente, de você não ter muro, de misturar comércio com residência.

OP - O que foram as exigências?

Gustavo - Aumentar vias, criar parque na frente do empreendimento, fazer binário, escalonamento dos prédios. Coisas que, inclusive, agregam valor, que criam um anseio de morar lá. Então, estamos alterando o projeto para dar entrada na Prefeitura.

OP – Essas reações públicas prejudicam a imagem da empresa?

Gustavo - Não. Você cria certa antipatia com uma minoria, mas depois que a população vir o projeto, vai ficar muito satisfeita e agradecida. Aqui será um marco para a Cidade. Assim como o Evolution será um marco para Fortaleza.

OP – Vocês são a única construtora do Nordeste entre as maiores do País. É mais difícil crescer na região?

Gustavo - É uma questão de filosofia da nossa empresa. A gente acha que o Nordeste é a nossa região. Acreditamos muito no Nordeste. Nós atuamos nas três principais capitais, onde o mercado é muito forte: Fortaleza, Recife e Salvador. Além das duas capitais que ficam no meio: Maceió e Natal. Em questão de otimismo, o Nordeste é melhor.

A gente tem que acreditar nisso. A região tem prós e contras. O Nordeste cresce mais que o País, então você tem mais espaço. Principalmente porque somos do Nordeste.

OP – Neste momento de incerteza no cenário econômico nacional, estar no Nordeste é uma vantagem?

Gustavo – Sim, é um ano difícil que requer austeridade. Não só no setor público, mas também no privado. Você tem que ser cirúrgico na escolha de seus empreendimentos. Mas também é um ano de muitas oportunidades, que requer mais atenção e você vai tirar proveito disso. E nós apostamos no Nordeste para crescermos. Somos o mesmo povo. Temos o mesmo sotaque, o mesmo clima, gostamos da mesma coisa.

OP – Essas características que o senhor diz serem próprias do nordestino influenciam na elaboração de projetos?

Gustavo – Claro. Todo nordestino gosta de varanda, de quantidade grande de vagas na garagem, de apartamento virado pro nascente. É diferente do Sudeste, por exemplo, onde ser nascente ou poente não influencia. A cultura é diferente.

OP – Vocês tem planos de entrar em outras regiões?

Gustavo - Não. Nosso projeto é focar nas praças em que estamos. Existe uma forma de chegar em outras praças sem se fixar, é só ir lá e construir. Mas nós optamos por nos fixarmos, de termos uma estrutura, de sermos parceiros da cidade.

OP – A opção pela expansão tem a ver com esgotamento do mercado pernambucano?

Gustavo – É uma questão de mitigação de risco. É melhor você ter participação em três grandes capitais – fora as outras duas – do que você se concentrar em uma ou duas. Nós trabalhamos nessas cinco capitais e pretendemos entrar em João Pessoa. Em 2016, provavelmente, teremos o primeiro lançamento lá.

OP – O senhor fala em unidade, mas são mercados muito diferentes. Inclusive em termos de tamanho. Natal, Maceió e João Pessoa são menores.

Gustavo - È um mercado menor, mas existe negócio. Você precisa fazer a conta. Ver se vale a pena. Nas três capitais, não tenha duvida de que vale a pena. Enquanto as outras contribuírem para os resultados da empresa, vamos continuar. A própria João pessoa vai agregar. É uma cidade que cresce, principalmente com a fábrica da Fiat.

OP - O setor, no Ceará, tem discurso de união. Eles dizem que foi assim que se protegeram da concorrência de fora. Como é a relação de vocês com esses concorrentes nacionais, ou mesmo com a local nas praças em que vocês entram?

Gustavo – Aqui, nós nos consideramos locais. Nós tivemos a entrada de várias empresas do Sul no Nordeste. Mas elas estão voltando para o Sul. Em Fortaleza e Recife têm poucas de fora. Em Salvador, ainda existem algumas. Mas a tendência é que voltem. Para chegar aqui, é preciso conhecimento local. A distância cria dificuldade. Teve uma questão com mão de obra também e essas empresas tiveram que terceirizar. Então era uma dificuldade gerencial.

OP – Qual a meta de vocês para este ano?

Gustavo - Esperamos ter crescimento de 15% com relação a 2014. Evidentemente, é um ano difícil. Mas a pessoa tem que ser otimista. E nós acreditamos muito na região.

OP – Qual o principal gargalo?

Gustavo - Financiamento à produção. Porque, quando temos o financiamento à produção, você consegue garantir o financiamento ao consumidor. Não basta ter o dinheiro para construir, você precisa garantir crédito ao consumidor.
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