BNDES: Lava Jato deve causar desmobilização de ativos nas construtoras envolvidas
"Tem um processo que vai trazer oportunidades para investidores, tem vários ativos de infraestrutura que podem ser ofertados ao mercado", disse a jornalistas no Congresso Abvcap 2015, no Rio.
De acordo com ele, o BNDES está preocupado com a perenidade dos projetos, mas que, apesar disso, os impactos do escândalo de corrupção não devem chegar ao ponto de levar à queda dos desembolsos da instituição neste ano.
"Em nossa carteira, apenas um único projeto teve inviabilizada sua continuidade (por conta da Operação Lava Jato)", afirmou. Questionado posteriormente qual foi o projeto, Siffert não quis detalhar, mas disse que não se tratava da Sete Brasil.
"Era uma operação que o banco não tinha contratado ainda e não avançou. Os demais projetos, onde há acionistas envolvidos na Lava Jato, ou estão concluídos ou, muitas vezes, eles têm uma participação minoritária. A gente observa que muitos desses empresários estão se desfazendo desses ativos", disse.
Segundo ele, tratava-se de uma concessão. "O grupo perdeu a posição de risco de crédito, além de ter problemas de compliance. A avaliação de risco de crédito não permitiu a operação avançar". Por conta da Lava Jato, o grupo foi seriamente impactado na sua capacidade econômica e financeira, disse.
Orçamento do banco
Siffert afirmou que o orçamento de desembolso do BNDES para 2015 deve ficar em torno de R$ 170 bilhões, inferior aos R$ 187,8 bilhões para empréstimos no ano passado.
A respeito da redução do orçamento, Siffert lembrou que a ideia é o banco diminuir a dependência de suporte do Tesouro. "Portanto, o BNDES não tem um orçamento que possa crescer de forma elástica. É fundamental que o mercado de capitais se some ao esforço do banco de financiar a infraestrutura e a economia como um todo", disse.
De acordo com ele, a expectativa é de que o mercado de capitais venha a ter um papel mais expressivo, junto com o BNDES, financiando os projetos por meio de debêntures.
A carteira de projetos da área de infraestrutura do BNDES somava em janeiro 399 projetos, orçados em R$ 362,6 bilhões, dos quais R$ 199,6 bilhões seriam financiados pelo banco de fomento. O superintendente estima que os desembolsos do banco para o setor de infraestrutura em 2015 totalizem em torno de R$ 60 bilhões. No ano passado, eles somaram R$ 68,9 bilhões. São considerados energia, logística, mobilidade urbana, saneamento e parte do Finame (financiamento de máquinas e equipamentos).
"Haverá crescimento na parte de concessões, mas no Finame talvez tenha uma queda, o que fará que estabilize os R$ 60 bilhões", afirmou.
Somente para logística e energia o montante liberado deve chegar a R$ 33 bilhões no ano, uma alta de 11% ante 2014. Desse total, cerca de R$ 19 bilhões são para energia e entre R$ 13 bilhões e R$ 14 bilhões de logística. No ano anterior, o número de energia foi o mesmo, enquanto o de logística ficou em torno de R$ 11 bilhões.
Segundo ele, no primeiro trimestre deste ano os desembolsos de energia e logística cresceram 10% ante o mesmo período do ano passado. "Os investimentos em infraestrutura permanecem porque são de longo prazo. Esse desembolso que vai acontecer neste ano é decorrente de leilões que ocorreram nos últimos três anos e projetos que já estão em implementação. Por exemplo, as rodovias que tiveram concessão no ano passado já representam em desembolso deste ano acima de R$ 1 bilhão. Os aeroportos do Galeão e Confins também já começam a ter desembolsos neste ano."
A previsão é que o valor suba a R$ 37 bilhões em energia e logística em 2016, R$ 41 bilhões em 2017 e atinja R$ 50 bilhões em 2018. Os investimentos em logística, segundo ele, deverão puxar o setor de infraestrutura nesse período.