Medidas para proteção de moedas podem não ter efeito duradouro
O Banco do México informou na quarta-feira que vai fazer leilões diários durante os próximos três meses para dar suporte ao peso mexicano. Desde o anúncio da medida, a moeda subiu 1,6% em relação ao dólar, depois de atingir o mais baixo patamar da história na terça-feira. A última vez que o BC mexicano lançou um plano semelhante foi na esteira da crise financeira de 2008.
Na terça-feira, o banco central da Turquia relaxou suas regras de depósito compulsório, uma medida que visa liberar mais divisas para o sistema bancário. A enxurrada de dólares e euros ajudou a dar suporte para a lira turca, que subiu 1,7% em relação ao dólar nos últimos dois dias. No acumulado do ano, a moeda turca perdeu 11% do seu valor ante o dólar.
A intervenção direta no mercado de câmbio, que muitas vezes exige que os bancos centrais usem as suas reservas em moeda estrangeira, pode dar às divisas um certo alívio. Mas, a longo prazo, essas ações não são páreo para um dólar que deve continuar subindo alimentado por uma perspectiva de melhora da economia norte-americana e pelo início do aperto monetário nos EUA, dizem analistas e investidores do mercado de câmbio.
"O principal efeito dessa medida será moderar a volatilidade, mas eu não acho que isso vá inverter a tendência de alta", disse Jorge Mariscal, diretor de investimentos de mercados emergentes do UBS Wealth Management, que administra US$ 1 trilhão em ativos. Mesmo com as intervenções, os analistas do UBS esperam que a lira e o peso mexicano se enfraqueçam ainda mais em relação ao dólar até o final do ano.
Os movimentos dos bancos centrais do México e da Turquia sugerem preocupações com o impacto da desvalorização rápida das suas divisas. Enquanto uma moeda mais fraca pode ajudar a tornar setores exportadores da economia mais competitivos, pode levar também a uma aceleração da taxa de inflação e a um aumento do peso da dívida denominada em dólar.
"De agora em diante, vamos ver cada vez mais e mais esses ajustes", afirmou Win Thin, diretor global de estratégia de câmbio de mercados emergentes da BBH.
O Banco Central do Brasil intervém regularmente usando derivativos cambiais chamados swaps, mas as autoridades indicaram no passado que gostariam de acabar com o programa. Com a desvalorização de 18% do real ante o dólar registrada até agora este ano, muitos observadores de mercado esperam que a autoridade monetária do País prossiga com o programa.
Juros e intervenção
O aumento das taxas de juros é, muitas vezes, a forma mais ortodoxa de se dar suporte a uma moeda, mas muitos bancos centrais dos mercados emergentes estão relutantes em dar este passo em um momento em que suas economias estão desacelerando.
O BC do México mantém a sua taxa de juros inalterada desde junho do ano passado, mas o peso mexicano já perdeu quase 20% do valor em relação ao dólar desde então. Observadores do mercado local esperam que a instituição passe a aumentar os juros em resposta ao ajuste monetário dos EUA.
"Há preocupações crescentes do BC mexicano no que se refere à estabilidade da moeda, devido à alta participação estrangeira nos títulos do governo do país", escreveu o analista Felipe Hernandez em uma nota divulgada. Os juros dos títulos do governo mexicano com vencimento em dezembro de 2024 subiram para 5,97%, de 5,17% em meados de janeiro. Os preços dos títulos caem quando os yields aumentam.
O banco central turco tem resistido até agora à pressão de seu próprio governo para cortar ainda mais as taxas de juros, apesar da inflação alta. Como resultado, a autoridade monetária está contando com a intervenção para desacelerar o declínio da moeda e controlar as expectativas de inflação.
As intervenções são menos frequentes e em menor escala do que anteriormente visto, à medida que muitos países optaram por deixar o câmbio mais livre. Isso porque, ao tentar manter a estabilidade de suas moedas, alguns países asiáticos sofreram danos econômicos e políticos na esteira da crise financeira de 1997.
Mas a recente volatilidade está forçando os bancos centrais a tomar um novo olhar para a tática.
No ano passado, o BC da Rússia aprovou uma série de medidas para estabilizar o rublo, incluindo a venda de dólares de suas reservas cambiais. Essas medidas ajudaram a fortalecer a moeda russa, que chegou a perder 65% do seu valor ante o dólar como consequência da crise política no leste da Ucrânia.
Ao fazer isso, a Rússia gastou quase um quarto de suas reservas cambiais em 2014.
O banco central mexicano observou que as novas medidas anunciadas ontem não irão causar uma redução de suas reservas internacionais, uma vez que o gasto de US$ 3,1 bilhões estimados nos próximos três meses será compensado pelo aumento das reservas que a autoridade monetária espera fazer durante esse período de tempo.
Os países emergentes têm acumulado reservas de dólares nos últimos dez anos, o que lhes dá uma almofada para enfrentar o mais recente ataque de volatilidade de suas moedas, dizem analistas.
"Eles os bancos centrais compraram dólares porque pretendem usá-los em um cenário nebuloso", disse Danny Tenengauzer, diretor de estratégia para mercado emergentes da RBC Capital Markets. Fonte: Dow Jones Newswires.