Ministro Armando Monteiro quer 'agenda realista' com os EUA
Como os Estados Unidos já têm baixas tarifas de importação de bens industrializados, essas medidas são tão ou mais importantes do que acordos comerciais para dinamizar o comércio, disse o ministro em entrevista em Washington nesta quinta-feira, 12.
Monteiro foi o primeiro integrante do novo governo Dilma Rousseff a visitar os EUA e o primeiro a chegar à capital americana com uma agenda positiva desde que a presidente cancelou a visita de Estado que faria ao país em outubro. A decisão foi uma resposta ao escândalo de espionagem de suas comunicações pela Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês).
"O Brasil precisa ter uma política comercial mais ativa e um elemento fundamental é a revalorização da relação com os Estados Unidos. E um sinal claro disso é o fato de minha primeira viagem ser para o país", declarou Monteiro.
Em reuniões com a secretária de Comércio, Penny Pritzker, e o Representante Comercial dos Estados Unidos, Michael Froman, o ministro discutiu acordos que poderiam facilitar o comércio bilateral, entre os quais mencionou a uniformização de normas e a interligação dos Portais de Comércio Exterior.
Essas plataformas, que estão em construção nos dois países, centralizam em um único lugar todos os procedimentos de exportação e importação que devem ser realizados pelas empresas.
Esses acordos são pontuais e podem produzir efeitos de curto prazo, observou Monteiro, que foi mais cético em relação a negociações de tratados de livre comércio e de bitributação, duas demandas do setor privado. O ministro observou que a negociação sobre a bitributação se arrasta há décadas, sem resultados, enquanto o livre comércio enfrenta as restrições das regras do Mercosul.
O eventual avanço nas relações comerciais poderá ter impacto positivo na relação bilateral e criar um ambiente favorável à realização da visita presidencial a Washington, disse Monteiro, ressaltando que ainda não há uma data definida para a viagem.
Os dois lados concordaram em trabalhar na agenda de facilitação de comércio e convergência regulatória e marcaram para março uma reunião de técnicos para discutir essas questões. Também decidiram marcar para junho o Fórum de CEOs brasileiros e americanos, que deveria ter ocorrido durante a viagem presidencial de outubro.
Nesta quinta, Monteiro almoçou com integrantes do Brazil-US Business Council, que reúne cerca de 100 empresas com investimentos no Brasil. "O ministro deixou claro que os Estados Unidos passaram a ser a prioridade nas relações comerciais e de investimentos do Brasil e isso não era dito havia anos", observou Gabriel Rico, CEO da Câmara Americana de Comércio (Amcham) no Brasil.
O ministro avaliou que a desvalorização do real em relação ao dólar deverá impulsionar as exportações de manufaturados e ajudar a levar a balança comercial de volta a um resultado positivo, depois do déficit registrado em 2014.
"A fase do câmbio hostil para a indústria está passando", ressaltou. "O câmbio será mais amigável", acrescentou, ressaltando que o longo período de apreciação cambial foi "muito duro" para o setor.
O resultado positivo da balança comercial também deve ser ajudado pela conta petróleo, que ficou negativa em US$ 16 bilhões no ano passado. A expectativa é que o resultado melhore em 2015 em razão da queda nas cotações do produto.