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O alquimista italiano

06:00 | Dez. 03, 2014
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Tipo Notícia

O italiano Giorgio Bonelli, 61, mora em Praga (República Checa), Monte Carlo (Mônaco), Ibiza (Espanha) e Milão (Itália). Agora, com seu poodle Kit, também mora em Fortaleza e Jericoacoara. Nessas cidades, além de residência, mantém negócios: hotéis, restaurantes, empreendimentos imobiliários e uma editora de quadrinhos. No Ceará, investe no Ecopark Boneville, um loteamento de alto padrão em Caucaia. Também tem projeto para Jeri, o Alchymist Jericoacoara, que aguarda conclusão de estudo ambiental. Sobre o assunto, diz: “eu seria um idiota para comprar um terreno num lugar maravilhoso e destruir o lugar”. Ele se diz apaixonado pela região, que compara a Ibiza há 40 anos. Por aqui, ele conta, é visto como excêntrico, mas é bem quisto. Por isso, não liga para os comentários e até ri. “Todo mundo pensa que eu sou um milionário extravagante. Infelizmente não sou milionário, talvez só um pouco extravagante”.

 

O POVO - Como o senhor veio parar em Fortaleza?

Giorgio Bonelli - Inicialmente eu investi no setor imobiliário. Praga é uma cidade tão bonita, tão linda. A partir de lá eu passei a converter muitos imóveis em hotéis. Lá vão sempre muitos embaixadores e eu fico muito amigo deles. Particularmente de uma embaixadora do Brasil. E ela me perguntava: ‘por que você não faz algo no Brasil? Um dia, um amigo meu me disse que estava andando em Fortaleza porque queria ver como anda o mercado imobiliário e me disse ‘porque não vem comigo?’. Ai eu disse ah, eu vou ver. E cheguei aqui. Não tem muito tempo, fazem 3 anos e meio, 4.

OP - O senhor morava em Praga?

Bonelli - Eu sempre morei em diferentes lugares ao mesmo tempo. Tenho casa em Praga (República Tcheca), em Milão (Itália), em Monte Claro (Mônaco). Às vezes eu passo duas semanas, às vezes dois meses.

OP - Inclusive, uma casa em Jericoacoara e um apartamento em Fortaleza.

Bonelli - Isso. Quando cheguei aqui, vi que os problemas não eram tantos como falavam. Fiquei interessado. Comprei um terreno e depois mais outro. Descobri Jeri e fiquei verdadeiramente enamorado. Jeri me lembra muito de Ibiza (Espanha). Há 40 anos, quando fui a Ibiza pela primeira vez, era muito parecido com Jeri agora. Era um lugar com jovens, alternativos, hippies. Muito linda a natureza.

OP - Foi por isso que o senhor decidiu investir em Jeri? Por ter se apaixonado pelo lugar?

Bonelli - Eu sou um investidor um pouco diferente. Eu faço negócio, mas eu não me considero uma pessoa de negócios. A primeira coisa, para mim, não é o dinheiro. Mas, sempre o prazer de fazer o que eu gosto. Fato: o dinheiro chega sempre muito rápido, porque se você não conseguir ter um lucro e um benefício, infelizmente a ideia quebra.

OP
- Existiu uma polêmica em torno do seu empreendimento em Jeri.

Bonelli - Jeri é um lugar muito interessante para muitas coisas boas. Claro, com um grande respeito do ambiente. O ecossistema é extraordinário e tem que ser conservado. Não é só o ambiente, é também a questão social. Por exemplo, em Jeri, já não se vê mais pescador, infelizmente. Mas, numa pequena vila chamada Preá, ainda há pescadores. Estão tentando fazer de maneira com que o progresso chegue, com benefício e dinheiro para todo mundo, mas sem jogar fora esse patrimônio cultural.

OP
- Isso valoriza o imóvel?

Bonelli
- Valoriza. Tem que fazer as coisas com respeito ao ambiente e dos valores culturais. Agora, Preá tem vida de pescadores. Quando converte em vida de turistas, muda e não volta mais. Perde a graça do lugar.

OP - Como o senhor estuda o mercado?

Bonelli - É, sobretudo, percepção. Como eu disse, não sou uma pessoa de negócios.

OP - O senhor tem investimento no Litoral Oeste. Mas, tradicionalmente, Fortaleza cresce para o lado oposto, o Leste – Eusébio por exemplo. Por que o seu investimento lá?

Bonelli
- Pode ser sobre o prazer que eu tive lá. Lá está se desenvolvendo, com o polo industrial. Eu vi que todos os empreendimentos de melhor nível estavam ficando no Eusébio. Mas lá também tem pessoas que gostam de morar em um lugar melhor, de luxo. Caucaia é grande, com mais de 300 mil habitantes, parece que vai chegar há 1 milhão. Dentro de 1 milhão de pessoas deve ter gente procurando um lote de alto padrão.

OP - O senhor está pensando nos executivos do Pecém, esse é o público alvo?

Bonelli - Pensando nos executivos e pensando nos moradores de Caucaia mesmo. Por exemplo, toda pessoa que mora na Bezerra de Meneses, se quiser morar num empreendimento desse tipo, tem que atravessar a cidade e chegar ao Eusébio.Eu fiz o projeto do meu jeito e, depois, meus funcionários disseram que tinha que fazer uma pesquisa. O resultado disse que o investimento estava correto. Eu verdadeiramente cuido dos empreendimentos, porque é um cartão de visita. Sendo um gringo, novinho aqui, é muito importante.

OP
- Como foram seus primeiros momentos no Ceará?

Bonelli
- Cheguei a Fortaleza, é uma cidade bem grande. Comecei a contratar uma agência, uns corretores, pensando um pouco em como era o mercado, como era o preço. Não foi planejado, eu nunca planejo nada na minha vida. Foi uma coisa muito natural. Não foi fruto de uma discussão interna.

OP - De que problemas o senhor ouviu falar?

Bonelli - Da violência. Quando os meus amigos cearenses me falam do perigo, me assusta um pouco. Mas, no dia em que eu ficar assustado, eu vou para outro lugar. Eu passo muito tempo em Jeri, lá é muito mais tranquilo do que aqui.

OP - Como o senhor vê o mercado cearense hoje?

Bonelli - Acredito que há muitas possibilidades. Os preços já aumentaram bastante. Esse é um fator que precisa sempre ficar na mente do investidor. Mas penso que, escolhendo um terreno bom, tem muitas possibilidades. Tenho como exemplo Jeri, que vai ser um sucesso cada vez maior. Os preços já ficam altos, acredito que agora vão se consolidar, independente da economia brasileira.

OP - O senhor pensa em investir no mercado de Fortaleza também?

Bonelli - Primeiro, eu não me considero um investidor, não procuro fazer muitas coisas, não tenho paciência. Atividades aqui já me parecem muito desenvolvidas. Tinha um prédio que eu gostava muito, onde tentei empreender. Mas ele foi vendido para um investidor bem mais importante que eu. Era a era a única coisa que realmente eu gostava, porque era um prédio na frente do mar. Eu estava pensando em fazer um hotel e uns apartamentos.

OP
- É o Esplanada?

Bonelli - É, que foi comprado pelo M. Dias Branco. Era o único prédio que me interessava.

OP
- No setor hoteleiro o senhor vê oportunidades?

Bonelli - Aqui, em Fortaleza, sim. Eu gostaria de ter um hotel de alto padrão, mesmo não sendo tão grande. Estou com algumas ideias, vamos ver se vai dar certo.

OP
- Construir?

Bonelli
- Construir ou reformar. Se não, em Caucaia, onde eu tenho meu empreendimento, faço um hotel, porque a região precisa. O único hotel de nível lá é o Vila Galé, que é mais para turista. Queria fazer um hotel na frente do meu empreendimento, não precisa ser muito grande, que tenha 80 habitações e um pequeno centro de convenções. Não pode ser um hotel de luxo, porque não teria senso, mas de excelente qualidade, sobretudo pensando nos funcionários que viajam. Com todas essas fábricas, provavelmente vai nascer muita coisa lá. Me parece que Caucaia não tem nada disso.

OP
- O seu investimento em Jeri já veio meio com uma polêmica sobre a lagoa. O que O senhor diz sobre isso?

Bonelli - Às vezes, falam sem saber. Eu falei do meu projeto com o prefeito, obviamente, e falei com o órgão que me disseram ser o competente, que era a Semace. Mas, depois, disseram que não era a Semace. Era o Ibama, que deu um parecer para interpelar. A prefeitura gostava muito desse empreendimento porque eu disse que gostaria de fazer uma escola hoteleira. Se você vai fazer um hotel de alto padrão, precisa de pessoas mais qualificadas. E lá tem muitas pessoas inteligentes e gentis, mas infelizmente, não tem uma que possa atender um cliente, que fale inglês. Eu teria que ser um grande idiota para comprar um terreno num lugar maravilhoso e destruir o lugar. Eu sou o primeiro que tem esse interesse em cuidar.

OP
- Em que situação está hoje?

Bonelli
- Eu já havia pedido um estudo, que foi feito. Eu me lembro do projeto completo não tinha um impasse ambiental, pelo contrário. Era uma coisa que ia dar grande qualidade de vida dos moradores, por trazer emprego e dinheiro para a comunidade mesmo. Quando surgiu a polêmica foi feito um requerimento por parte desse procurador para fazer outro estudo, que não é muito diferente.

O problema foi que surgiu uma polêmica. Sinceramente, foi parcialmente uma polêmica política, contra autoridades locais. Eu não quero me meter porque não tenho conhecimento das coisas públicas daqui do Ceará. Mas o que mais me assustou foi que muitas pessoas acreditavam que eu tinha a ideia de fazer uma coisa ‘chatíssima’ de cimento que ia acabar com a lagoa. Mas é o contrário. Ninguém foi lá no projeto ver o que eu havia explicado no website, que havia feito na Itália sobretudo para captar investimento.

OP - Isso o deixa frustrado?

Bonelli - Eu fico bastante frustrado, mas eu falo com qualquer pessoa e tenho um bom relacionamento com todo mundo lá. Quem me conhece mais ou menos sabe que sou um homem direito. Ás vezes eu rio disso, do que falam: ‘dizem que você usa cocaína, que você é veado’. Mas nada disso: não uso cocaína, não sou veado. Aqui, todo mundo pensa que eu sou um milionário extravagante. Infelizmente não sou milionário, talvez só um pouco extravagante.

OP - O senhor tem sócios?

Bonelli - Não, eu raramente tenho sócios porque eu sempre escolho fazer minhas coisas um pouco diferente, que não sejam muito conservadoras. Restaurantes é um exemplo. Eu dei muito dinheiro para fazer esse restaurante em cima de uma terra que não é minha, que nenhuma pessoa de bom senso faz. Gastei quase R$ 2 milhões dentro de uma propriedade que não é minha, que amanhã podem me jogar fora e eu perco meu espaço. Fiquei enamorado desse lugar.

OP - Com tanto negócios, em vários lugares do mundo, como cuidar deles?

Bonelli
- Tenho funcionários. A maioria fica amigo, é sempre uma questão de parceria. Tive bastante sorte na minha vida, mesmo escolhendo sempre um caminho mais difícil, o sucesso chega e até mesmo o dinheiro.

OP
- Tem uma rotina de acompanhamento das empresas?

Bonelli - Sim, sim. Eu passo três semana aqui, três semanas na Europa.Tenho meus hotéis em Praga e depois tenho diferentes atividades. Na Itália, nós somos uma editora de quadrinhos. Meu pai era um escritor de quadrinhos. Eu tenho uma ideia de desenvolver algo em Jeri: construir umas casinhas de chamá-lo Centro para Juventude de Jeri, com o nome do personagem do meu pai. Eu gostaria muito que os meninos aprendam inglês de maneira simples. Seria interessante um menino de rua falar em inglês quando o pai não sabe falar mesmo português. É projeto simpático, seguramente, mas eu não sei quando fazer isso.

OP - Quem é que toca essa editora hoje?

Bonelli - Era meu irmão que, infelizmente, morreu faz dois anos, e agora é seu filho, que é uma pessoa inteligente, capaz, ele conduz o negócio lá da editora.

OP
- Sua família vive na Itália?

Bonelli
- Minha família: meu pai e minha mãe já morreram todos. Então, eu sou como uma espécie de sobrevivente, eu e meu cachorro. Ele fica agora em Praga, porque ele é um pouco velho.

OP
- O senhor é casado?

Bonelli
- Não. É por isso que me falam muito que eu sou veado.

OP - E por que pensam que o senhor é um milionário e extravagante?

Bonelli - Eu não sei! Eu não fico preocupado com isso, fico só ‘nossa, há gente que pensa que sou!’

OP - O que O senhor gosta de fazer por lazer, no momento de descanso?

Bonelli
- Eu gosto muito de trabalhar porque meu trabalho é feito de coisas que eu gosto. Nesse momento, eu tenho muito projeto em Jeri, que são projetos que me divertem muito. Tenho ideia de fazer um centro de artesanato, por exemplo, em Preá. Tenho ideia de fazer um hotel que seja um pouco diferente em Jeri. Colocar um jardim interno. São ideias… Eu me divirto muito a trabalhar. Gosto de fazer independente do resultado, que eu espero que seja bom.

OP - O senhor conhece outros lugares do Brasil?

Bonelli - Não. Como turista sim, mas profissionalmente não. Gostaria muito, porque o Brasil é um país maravilhoso, enorme. Penso que será, para mim, nesse momento, interessante. Por que é uma terra um pouco virgem, existem muitas coisas que podem ser feitas.

OP
- Qual a sua idade?

Bonelli
- Infelizmente vamos para 61.

OP - Quanto somam seus investimentos no Ceará?

Bonelli - Quantos somam de valor? Não, não gosto de falar disso.

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