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Quase tudo juntos

01:30 | Out. 29, 2014
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Marcos Novaes preside um grupo de 100 construtoras do Ceará, que são concorrentes no mercado, mas fazem “quase tudo” juntas. Na Cooperativa da Construção Civil do Ceará (Coopercon-CE), apenas a venda é tratada de forma particular por cada uma das empresas. “Não temos muro entre as empresas, a tecnologia é aberta, os custos são abertos, as compras são abertas”. A união representa 90% do Produto Interno Bruto (PIB) do setor no Estado. Também significa poder de barganha junto aos fornecedores, melhor estrutura para qualificação e intercâmbio tecnológico. Tudo isso chega ao consumidor. “Quando temos uma construtora cooperada, estamos colocando a nossa chancela no mercado”.


O POVO - A Coopercon-CE tem 100 associados. Há quatro anos, esse número estava em torno de 60. A que se deve o crescimento?

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Marcos Novaes - A cooperativa intensificou nos últimos quatro anos a política de termos, a instituição economicamente forte para que ela pudesse ofertar melhores serviços e negócios ao cooperado. Saímos da sociedade da fábrica Apodi há cerca de dois anos. Com o recurso da venda, colocamos uma série de negócios. Temos a Cooperloc, com 397 equipamentos locados. Temos unidade de corte e dobra de aço em Parnamirim (RN). Acabamos de assinar, junto à Prefeitura de Fortaleza, o licenciamento da usina de reciclagem de resíduos sólidos, a primeira do Brasil. Temos os CVTs (Centros Vocacionais Tecnológicos), para treinar mão de obra.

OP - O tamanho da Coopercon atrapalha?

Novaes - A quantidade não atrapalha, mas gera sobrecarga. Temos que estar constantemente vigilantes para que os interesses individuais não superem os coletivos. Isso é mais fácil num grupo menor. Mas não vamos abrir mão de um cooperado por isso.

OP – A Coopercon continua aberta a novos associados?

Novaes – Sim, mas estamos muito mais seletivos. Já houve negativa de ingresso. Queremos saber se a construtora coaduna com o espírito associativista. Hoje temos processo invertido. Não anunciamos para adesão de novos construtores. Queremos fortalecer a filosofia associativista.

OP – O que vocês não fazem juntos?

Novaes – A venda é o ponto em que não tem como haver atitude comum. É muito peculiar. É o produto, a filosofia da empresa, o trato com o proprietário, o setor comercial, coisas que a cooperativa não invade. Não temos muro entre as empresas, a tecnologia é aberta, os custos são abertos, as compras são abertas. Só a venda que é particular.

OP - Quais os próximos passos da Coopercon?

Novaes - Temos o objetivo, até o ano que vem, de fazer um trabalho da porta para dentro. Da porta para fora, a Coopercon cresceu muito, 625% em quatro anos em volume de negócios. Estamos implantando o mesmo tipo de governança de empresas na Bolsa de Valores. Inclusive com a mesma consultoria de muitas, a Ernst&Young. Vamos consolidar processos, o comitê de código de ética, de reclamação. Vamos fazer estruturação interna para que os negócios que já estão postos continuem avançando e a gente esteja capaz de assimilar os novos com a mesma qualidade.

OP - O que a cooperativa tem a melhorar e quais os pontos fortes?

Novaes - Forte é a relação e a comunicação com o cooperado. O que temos a melhorar é que alguns cooperados solicitam o ingresso de novos grupos de serviços e materiais - como esquadrias de alumínio. Ou seja, o cooperado quer, cada vez mais, que as compras migrem para a Coopercon.

OP - Parte dessas transações é receita da Coopercon?

Novaes - Nossa maior receita vem dos negócios próprios. Mas temos uma taxa de assistência técnica de tudo que a gente reduz.

OP - Essa taxa era de 2% há alguns anos. Mantém-se?

Novaes - Ainda é. O ingresso na Coopercon representa redução de 15% de qualquer material que você compra. A nossa taxa é pequena, então, a economia é de 10% com relação ao mercado.

OP- Há investimentos em vista?

Novaes - Temos, por exemplo, uma fábrica de blocos de gesso para as grandes alvenarias internas. A Coopercon entra como agente regulador em dois momentos, na falta de atendimento ou quando percebemos cartel ou monopólio. No caso dos blocos de gesso, o problema é de atendimento. É projeto futuro. Imediata é a usina de resíduos. Fechamos parceria com a Universidade de Melbourne, na Austrália, para que eles nos deem know how para a tecnologia de pré-fabricados. Nós daremos a eles o know how do associativismo. E a unidade de resíduos sólidos será nosso piloto com essa tecnologia. Para fazer casa com ela, só daqui a cinco anos.

OP – A cooperativa é independente em recursos para investir?

Novaes - Sim. Não precisamos mais de aporte. Agora, em grandes projetos, como foi a fábrica de cimento, o cooperado que quiser ser sócio – na época foram 17 – ele é convidado a ter uma cota além da Coopercon. Mas nós não temos em vista outro projeto tão grande quanto.

OP - Para além das vantagens para os cooperados, como a sociedade pode perceber a atuação da Coopercon?

Novaes - Atingimos a sociedade diretamente de duas formas. O lado social muito forte, desde a usina de resíduos, com os CVTs, quatro entidades beneficentes que ajudamos diretamente. Temos corrida anual, no qual a gente interage com a sociedade. Do lado financeiro, primeiramente, por meio de melhores compras e com acesso ao crédito. A sociedade pode ter certeza de que o construtor vai firmar melhores preços e qualidade.

OP - O prazo de entrega dos cooperados é medido?

Novaes - Sim. Quando temos uma construtora cooperada, estamos colocando a nossa chancela no mercado. A gente tem um nome a zelar. Atrasos justificados, como os causados por greve, a gente entende. Mas o atraso sem justificativa, vai ser analisado por meio do código de ética da Coopercon. É a qualificação do cooperado. A gente faz parte de um time e o time tem que se sobrepor a uma unidade.

OP – O senhor trabalhava na C. Rolim. Como foi o processo de fundação da Novaes Engenharia?

Novaes - Entrei na C. Rolim Engenharia em 1990 como estagiário. Fui até sócio da empresa. Mas sempre tive o sonho de ter uma construtora com propostas bem diferentes do mercado. Na C. Rolim eu já estava enfrentando 14 projetos simultaneamente. Sempre sonhei ter três, quatro projetos muito diferentes. Isso aconteceu em maio de 2012, quando fundamos a Novaes Engenharia.

OP – Limitando a quantidade, não se limita o crescimento?

Novaes – Limitamos e é proposital. A grande arma da Novaes Engenharia é ser pequena. A gente não quer ser a maior empresa do Ceará. A gente quer ser a melhor construtora do Brasil em cinco anos.

OP - Como o senhor vê o mercado? Existe um discurso pessimista hoje, sobre bolha...

Novaes - Descarto completamente uma bolha. Todos os indicadores brasileiros são muito fortes: crédito à produção, à compra e percentual investido na construção. A bolha é quando tem superoferta. Estamos longe disso.

OP - Há oferta errada?

Novaes - Sim. O público, hoje, é muito seletivo. O Brasil teve déficit habitacional muito grande e ofertou muito crédito de 2008 para cá. O País estava vendendo caixa de sapato em pé. O consumidor adquiria porque podia comprar. Hoje, ele tem escolha. Entramos na lei da oferta e da procura. E, para a gente, que tem qualidade, é seleção natural.

 

Perfil


MARCOS DE VASCONCELOS NOVAES nasceu no Rio Grande do Sul e tem 44 anos. É engenheiro civil, formado pela UFC. Começou a vida profissional, em 1990, como estagiário na C. Rolim Engenharia. Em 2008, tornou-se sócio da empresa. Assumiu a presidência da Coopercon-CE em 2011. Fundou a Novaes Engenharia em 2012, em sociedade com Rodrigo Freire e Lupércio Girão.

 

Íntegra


Veja a entrevista completa em http://bit.ly/1wwiXKk

 

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