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''Quase tudo juntos'': entrevista com Marcos Novaes

01:30 | Out. 28, 2014
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Marcos Novaes preside um grupo de 100 construtoras do Ceará, que são concorrentes no mercado, mas fazem “quase tudo” juntas. Na Cooperativa da Construção Civil do Ceará (Coopercon-CE), apenas a venda é tratada de forma particular por cada uma das empresas. “Não temos muro entre as empresas, a tecnologia é aberta, os custos são abertos, as compras são abertas”. A união representa 90% do Produto Interno Bruto (PIB) do setor no Estado. Também significa poder de barganha junto aos fornecedores, melhor estrutura para qualificação e intercâmbio tecnológico. Tudo isso chega ao consumidor. “Quando temos uma construtora cooperada, estamos colocando a nossa chancela no mercado”.


O POVO - A Coopercon-CE tem 98 associados. Há quatro anos, esse número estava em torno de 60. A que se deve esse crescimento?
Marcos Novaes - A cooperativa intensificou nos últimos quatro anos a política de termos, a instituição economicamente forte para que ela pudesse ofertar melhores serviços e negócios ao cooperado. Saímos da sociedade da fábrica Apodi há cerca de dois anos. Com o recurso da venda, colocamos uma série de negócios. Temos a Cooperloc, com 397 equipamentos locados. Temos unidade de corte e dobra de aço em Parnamirim (RN). Acabamos de assinar, junto à Prefeitura de Fortaleza, o licenciamento da usina de reciclagem de resíduos sólidos, a primeira do Brasil. Temos os CVTs (Centros Vocacionais Tecnológicos), para treinar mão de obra.

OP – Essa força é, inclusive, para expandir fronteiras?
Novaes - A Coopercon saiu das fronteiras do Ceará. Hoje, atuamos em oito estados, temos 380 canteiros de obras, 36 mil funcionários e movimentamos R$ 1 bilhão, R$ 1,2 bilhão em negócios por ano. Isso equivale a sermos a segunda ou a terceira incorporadora do Brasil enquanto grupo. E, como os paulistas e os cariocas não se juntarão tão cedo, vamos perpetuar isso. Quando a Coopercon monta um negócio, existe um benefício chamado ato cooperado e pagamos menos impostos justamente por sermos uma cooperativa, já temos custos menores que o mercado. Vamos sempre oferecer um custo menor para o nosso associado e, consequentemente, para o cliente final, porque isso é em cadeia. Hoje, temos o processo invertido. Não temos anunciado para adesão novos construtores. Queremos fortalecer a filosofia associativista.

OP - Isso quer dizer que o senhors estão fechados para novos associados?
Novaes - Não, mas estamos muito mais seletivos. Já houve negativa de ingresso na Coopercon. Queremos saber qual é o propósito da construtora, se ela se coaduna com espírito associativista. Nós não somos uma central de compras, uma central de cotação. Somos uma cooperativa em que um associado que tem uma obra de R$ 500 mil e um associado que tem uma obra de R$ 1 bilhão têm o mesmo valor.

OP - Quais são os critérios para a entrada de um novo associado?
Novaes - Para uma construtora entrar, ela precisa ter a indicação de um associado. Em cima disso, vemos uma série de informações, como fiscal, trabalhista. O Conselho de Administração da Coopercon vota o ingresso de novos associado. Nesse critério está qual o interesse, se ela quer crescer junto, se ela quer progredir com a Coopercon. Ou se ela quer ter a Coopercon como instrumento de comparativo de preço. Já houve duas construtoras - uma do Ceará e uma de fora - que fizeram essa pergunta e nós vimos que não tinha sintonia. Dissemos: “olha, não somos uma central de compras, somos uma cooperativa para tornar fortes os membros que aqui estão”.

OP -
Qual a composição do conselho?
Novaes - São 12 diretores. Hoje, sou eu e mais 11. São pessoas eleitas a cada dois anos. Existe um conselho fiscal, que vota em segunda instância, composto por seis conselheiros. Os conselheiros são proprietários das grandes construtoras do Ceará. Eles têm tanto a capacidade de discernimento, quanto o poder financeiro para opinar em questões econômicas.

OP -
O senhors já foram tidos como concorrentes do Sinduscon-CE?
Novaes – Não. O que existe por parte do grande público, que não conhece as atuações das duas entidades, é uma confusão na leitura. Sinduscon e Coopercon são complementares e não concorrentes. O Sinduscon é a representação classista do setor patronal nas relações com Ministério Público, nas relações trabalhistas, sociais, com o Governo, com a Prefeitura. A Coopercon é uma entidade de negócios, é privada. Não temos nenhuma influência nas esferas públicas, atuamos em outros negócios. Com certeza, quando complementamos algumas ações, como treinamento de mão de obra e missões internacionais, isso cria uma confusão para o grande público. Mas as missões são distintas, estão bem claras. São propostas bem diferentes. E o Sinduscon se limita - inclusive por sua natureza sindical - ao Ceará. Nós estamos em outras unidades da federação e, se por algum cooperado, precisarmos ir para outro estado, a gente vai. Agora, na missão para a Austrália, tivemos o convite de colocarmos o Sinduscon na Austrália.

OP -
O senhors aceitaram?
Novaes – Passei para o Conselho. Achei muito interessante, mas é muito inusitada, temos que estudar. Mas serve como motivação. Nós éramos um case local, passamos a ser um case nacional, agora somos um case mundial. Todo mundo quer entender como 98 construtoras, que competem no mercado, fazem tudo juntas.

OP - Esse estranhamento é porque é um setor de competição muito acirrada?
Novaes - Sim. A venda é o grande ponto em que não tem como haver atitude comum. Então, tirando a venda, qualquer outra atividade de incorporação ou construção a gente faz juntos. Mas a venda é muito peculiar. É o produto, a filosofia da empresa, o trato com o proprietário, o setor comercial, coisas que a cooperativa não invade. O grande segredo da Coopercon é a união dos seus filiados, sempre aderidos do melhor propósito. Não temos muro entre as empresas, a tecnologia é aberta, os custos são abertos, as compras são abertas. Só a venda que é tratativa particular.

OP - O senhors também atuam na qualificação do empresário...
Novaes - Temos dois setores de treinamento na Coopercon: o chão de fábrica, que é através do CVT, e temos o Inovacon, que procura novas tecnologias, novas formas de gerenciamento. A norma de desempenho, por exemplo, está sendo ensaiada no Ceará por meio do Inovacon. Continuamos avançando, por exemplo, para as reuniões do Inovacon, que acontecem toda quinta-feira, não temos mais espaço físico. Adquirimos mais duas salas porque as reuniões estavam com 25 pessoas, 25 construtoras. É uma maneira de interação constante entre as construtoras. Eu difundo a Coopercon Brasil afora, já tive oportunidade de ir a 13 estados, e realmente é difícil a aculturação que temos na Coopercon. A base é muito forte, foram pessoas amigas que criaram a cooperativa. O número ideal de associados da Coopercon é 50, não tenho dúvida. Não é a quantidade que nos faz forte, é a cultura, a filosofia cooperativista.

OP -
O tamanho da Coopercon atrapalha?
Novaes - A quantidade não atrapalha, mas a gente tem uma sobrecarga, temos que estar constantemente vigilantes para que os interesses individuais não superem os coletivos. Isso é mais fácil de ser aculturado num grupo menor. Mas não por isso vamos abrir mão de um cooperado. Nós vamos ser sempre muito exigentes quanto a coerência, ética, fidelidade dos nossos cooperados. Com a cooperativa forte, o associado fica forte, o mercado fica forte e o cliente vai usufruir de tudo isso na compra do imóvel.

OP - Como é a participação dos associados? Eles acatam o que é decidido em conselho ou as decisões são tomadas por todos, em assembleias?
Novaes - Existem as duas maneiras. Quem conduz a Coopercon são três conselhos. O conselho de administração, formado por 12 membros, que se reúne às terças-feiras às 7h30, com a presença de 90% em média dos construtores, o que é inusitado. Tem um conselho fiscal - de aprovação das contas, de análise tributária, previdenciária e trabalhista – composto por seis membros. E temos o Conselho do Inovacon, que é tecnológico e de educação, onde há três conselheiros. Os conselhos coordenam a Coopercon.

OP - As 98 construtoras estão representadas nesses conselhos?
Novaes - Não. O Conselho fiscal se reúne a cada três meses e de administração é semanal. Todas as reuniões são abertas a todas as construtoras, não existe reunião fechada na Coopercon, o que é inclusive contra o estatuto. A gente tem planejamento anual, estratégico, que é feito todo mês de janeiro. Reunimos todos os conselhos, nos internalizamos. Colocamos todos os nossos conselheiros para pensar para a Coopercon de sexta a domingo. Eles levam a família, que dá o suporte.

OP - Qual o pessoal de o senhor?
Novaes - Temos 220 funcionários registrados em carteira. Em cada CNPJ que a Coopercon coloca ela tem um novo quadro de funcionários. Todos registrados em carteira pelo Grupo Coopercon. Hoje, somos um grupo de negócios, formado por seis CNPJs diferentes.

OP - Quais são os próximos passos?
Novaes - Temos objetivo muito forte, até abril do ano que vem, de fazer um trabalho da porta para dentro. Da porta para fora, a Coopercon cresceu muito, 625% nos últimos quatro anos em termos de volume de negócios. Acho que está consolidada. Então esse trabalho da porta para fora, de novos negócios, missões, novos produtos. A gente esteve, nos últimos quatro anos na Espanha, Portugal, Itália, Coreia, China, Japão, Austrália, Chile, Peru trazendo parceiros para cá. Mas temos, para darmos mais justeza e transparência, um trabalho forte de governança cooporativa. Estamos implantando na Coopercon o mesmo tipo de governança de empresas que estão na bolsa de valores. Inclusive com a mesma consultoria de muitas, que é a Ernst&Young. Vamos consolidar processos, comitê de código de ética, de reclamação. Vamos fazer grande trabalho de estruturação interna para que esses negócios que já estão postos continuem avançando e a gente esteja capaz de assimilar novos negócios com a mesma qualidade. A gente tem pesquisa anual de satisfação dos nossos cooperados, feita pelo Instituto Evaldo Lodi (IEL), em que é abordado cooperado por cooperado. Hoje, a avaliação geral é de 8,5 - sabendo que qualquer indicador acima de 8 no Brasil é excelente. E tem um índice de avaliação mundial hoje, que é índice de fidelização: "O senhor indicaria a Coopercon a outra construtora?" Temos 98% de índice de fidelização.

OP -
Nessa avaliação, o que o senhors têm a melhorar e quais os pontos fortes?
Novaes - Forte é relação e comunicação com o cooperado. Tínhamos esse ponto vulnerável e intensificamos, principalmente via internet, via news. No site, temos um calendário de encontros e até compras. Em comunicação nosso índice de satisfação é de 90%. O que temos a melhorar é que alguns cooperados estão solicitando ingresso de novos grupos de serviços e materiais - como esquadrias de alumínio, alguns tipos de cerâmicas. Ou seja, o cooperado quer cada vez mais que as compras saiam da construtora e migrem para a Coopercon. O que é lógico, numa compra coletiva o senhor tem muito mais poder de barganha, de sucesso. Também foi pedido que a gente intensificasse os cursos de chão de fábrica e de média e alta gerência.

OP - Como o senhors escolhem fornecedores?
Novaes - Primeiro ele passa por uma avaliação técnica, através do Conselho do Inovacon. Esses materiais e serviços têm que estar não só de acordo com a ABNT, como também com a norma de desempenho. Passando pelo crivo técnico, ele é levado para o conselho de administração. Os diretores do conselho têm um, dois ou três grupos de negócios que ele lidera. Aprovado no Inovacon, um dos 12 assume determinado grupo. Aí vamos fazer balizamento comercial desse fornecedor junto ao mercado, vamos visitar as instalações dele obrigatoriamente, no Brasil ou no Exterior. Feito o balizamento, feita a pesquisa comercial, ele está qualificado a fornecer para a Coopercon.

OP – O que pode ser comprado em grupo?
Novaes - Commodities e serviços. Existem projetos, como um software de detecção de lançamento no mercado, como um radar eletrônico do mercado, chamado Geoimóvel, que foi fechado pela Coopercon. Tem 20 empresas com esse software.

OP -
Parte dessas transações é uma receita da Coopercon?
Novaes - Nossa maior receita vem dos negócios próprios. Mas temos uma taxa de assistência técnica de tudo que a gente reduz.

OP -
Essa taxa era de 2% há alguns anos...
Novaes - Ainda é. O ingresso na Coopercon representa redução de 15% de qualquer material que o senhor compra e a Coopercon tem uma taxa pequena, então, mesmo com nossa taxa de administração, a economia é de 10% com relação ao que o senhor compra no mercado. O associado entra como cotista sócio da Coopercon. Por que não tem taxa? Porque se ele quiser sair, leva toda a cota que ele pagou, mas os dividendos que foram gerados como sócio. Só não é sócio porque é uma cooperativa, ele é cooperado. É só uma alusão.

OP- O senhors tem novos investimentos em vista?
Novaes - Temos, por exemplo, uma fábrica de blocos de gesso para as grandes alvenarias internas. A Coopercon entra como agente regulador em dois momentos, na falta de atendimento ou quando percebemos cartel ou monopólio. No caso dos blocos de gesso, o problema é de atendimento. É projeto futuro. Imediata é a usina de resíduos. Fechamos parceria com a Universidade de Melbourne, na Austrália, para que eles nos deem know how para a tecnologia de pré-fabricados. Nós daremos a eles o know how do associativismo. E a unidade de resíduos sólidos será nosso piloto com essa tecnologia. Para fazer casa com ela, só daqui a cinco anos.

OP – Nos novos negócios, o senhors fazem aquisições? Ou começam do zero?
Novaes - A gente parte do zero porque usamos toda a base tecnológica da Coopercon, com as melhores tecnologias mundiais. Normalmente, quando o senhor adquire um fábrica, ela já tem certo período, não tem determinados avanços ou o melhor projeto. A gente prefere, geralmente, partir do zero.

OP - Quantos o senhors faturam por ano?
Novaes - O faturamento anual é em torno de R$ 25 a R 30 milhões.

OP - Na instalação de nova unidade, sai do caixa da Coopercon? Ou associados são chamados a contribuir?
Novaes - Sim, sai do caixa da Coopercon. Não precisamos mais de aporte. A Coopercon é totalmente independente. Agora, em grandes projetos, como foi a fábrica de cimento, o cooperado que quiser ingressar como sócio – na época foram 17 – ele é convidado a ter uma cota além da Coopercon. Mas nós não temos em vista outro projeto tão grande quanto a fábrica de cimento.

OP - No caso da fábrica de gesso, por exemplo, o senhors forneciam para outras construtoras? Ou a demanda de o senhors é tão grande que não há margem para isso?
Novaes - Esse é o grande trufo. A partir do momento em que o senhor tem 98 construtoras, 90% do PIB imobiliário do Ceará, fechamos o circuito dentro da gente mesmo. Ou seja, nós temos o produto com preço melhor e temos o mercado para nos comprar. No caso em que temos oferta além do que precisamos, nós abrimos. A Cooperloc é um caso, o serviço de corte e dobra também. No serviço de corte e dobra, por exemplo, atendemos o Metrofor. Mas deixando sempre claro que a prioridade é cooperado.

OP -
O planejamento de o senhors é feito para atender os cooperados, ou o senhors já pensam no excedente?
Novaes - Os dois. Porque o excedente nos torna mais fortes. Quando somos economicamente nós somos fortes, o cooperado é forte. Então o cooperado é a nossa prioridade, mas nós pensamos sempre no mercado além do cooperado.

OP – O senhors qualificam esses fornecedores?
Novaes - Temos em parceria com o Sistema S, Sebrae, Iel... Qualificamos 28 fornecedores e a grande surpresa é que, hoje, são grandes fornecedores da Coopercon, inclusive de alimentação. Ficamos muito felizes em poder qualificar empresas dessa forma. O que a gente lamenta é que, às vezes, há descontinuidade dos programas com parcerias públicas. A Coopercon, por si só, não tem verba para promover esses cursos de qualificação.

OP - A atuação de o senhors em outros estados não tem barreira? Os CVTs, por exemplo, são no Ceará.
Novaes - Nós vamos para outro estado atender um cooperado sediado aqui. Então são construtoras com matriz em Fortaleza, para as quais colocamos logística de atendimento em outro estado. Desta forma, não tem uma antipatia tão grande sobre o bairrismo da região. Sempre que vamos para outro estado, se houver uma cooperativa local, falamos com ela para sermos parceiras. Se quiser ser sócio também, não tem problema nenhuma. Agora, estamos em Campinas, Manaus, Belém...

OP - O senhors tem como qualificar mão de obra em Campinas?
Novaes - Não. Nesses estados, a qualificação de chão de fábrica ainda não é feita. Qualificamos até a área de gerência, de engenharia por meio do Inovacon. Trazemos técnicos, engenheiro desses estados para serem qualificados aqui também. E, às vezes, há parcerias para qualificação fora do Estado também.

OP - Como está a unidade de resíduos?
Novaes - O investimento é de R$ 4,5 milhões. Vamos nos capacitar para 80 toneladas por dia, que 2.500 por mês. A usina não tem nenhuma característica para ser a maior do Ceará, nenhuma qualificação para ser a solução do resíduo sólido. Mas ela está sendo pensada para ser uma usina modelo, exemplo, para trabalhar com parcerias com universidades. Para que outros empresários se encorajem para colocar outras usinas como a nossa, de pequeno a médio porte. O mundo provou que grandes usinas não funcionam. Em vez de ter uma grande usina, é melhor ter cinco menores, atendendo em pontos geográficos equidistantes, do que centralizar os resíduos.

OP - Em que fase está a fábrica de gesso?
Novaes - Temos o projeto, temos a tecnologia alemã do nosso lado, mas a gente tem que fazer uma análise de demanda, para saber se é possível colocar essa unidade em curto prazo. Normalmente, essas demandas são em médio prazo. E temos planos de investimento de curto, médio e longo prazo. Tem que ser uma análise tríplice, de demanda, planejamento financeiro e necessidade do cooperado. Nós não temos urgência com esse projeto, mas temos a capacitação. É importante porque se o cooperado sentir a necessidade de uma fábrica dessas, em seis meses a gente coloca. Para atender as 98 construtoras, a fábrica não é muito complexa. É modular, que pode ser projetada para avanço de produção, É muito simples. O investimento é de R$ 6 milhões de reais. 10 mil por canteiro x 20 canteiro por semestre.

OP - Como nasceu a Coopercon?
Novaes - Ela surgiu do nosso fundador, amigo e guru, João Carlos Lima, que era da construtora Ada. Agora ele mora na Austrália. Foi uma necessidade de as construtoras de pequeno e médio porte de Fortaleza terem acesso a melhores condições comerciais. Foi de um grupo de 20 construtoras em 1998, com essa postura filosófica. Demos saltos nesses anos, mas preservamos os princípios – de união e fidelidade.

OP - Qual foi a necessidade para o surgimento da Cooperativa?
Novaes – Provamos, nos últimos cinco anos, o que é a entrada de um grande construtor, que está em bolsa de valores, no Ceará. O senhor não faz frente, em nível Brasil, em suprimentos e tecnologia se o senhor não tiver o mesmo porte. A Coopercon consegue isso. A gente não deixa a desejar a ninguém em preço, material, muito menos em tecnologia. A necessidade maior é que a gente não tenha diferença em aquisições, para que não tenhamos preço maior. Ele pode garantir que o custo é controlado e, tecnologicamente, somos mais avançados em nível nacional.

OP -
Hoje, qual é o balanço que o senhors fazem da atuação da Coopercon?
Novaes - Precisamos melhorar constantemente. Precisamos fazer outros papeis, dando apoio ao Sinduscon, na liberação de alvará, agilidade junto a cartórios. E, principalmente, aí é uma atividade totalmente da Coopercon, assegurar o crédito a produção do cooperado. Hoje, temos as melhores condições de taxas de juros do Brasil

OP - Qual o poder que o senhors têm no mercado? Em preço, por exemplo?
Novaes - Nem conversamos sobre preço de venda. Esse é um principio que a gente respeita. A gente quer a entidade transparente. Somos contra cartel, oligopólio. Quebramos vários, mais de quatro no Ceará de fornecedores. E nós não vamos fazer isso com nosso principal patrimônio: a sociedade, os nossos clientes. Agora, no que a gente puder capacitar para ofertar o melhor produto ao menor preço a gente vai fazer.

OP - Como a sociedade pode perceber a atuação da Coopercon?
Novaes - Atingimos a sociedade diretamente de duas formas. O lado social muito forte, desde a usina de resíduos, com os CVTs, quatro entidades beneficentes que ajudamos diretamente. Temos corrida anual, no qual a gente interage com a sociedade. Do lado financeiro, primeiramente, por meio de melhores compras e com acesso ao crédito a sociedade pode ter certeza que o construtor vai firmar os melhores preços e vai entregar a obra ela.

OP - O senhors medem prazo e entrega dos cooperados?
Novaes - Tudo isso é medido. Quando temos uma construtora cooperada, estamos colocando a nossa chancela no mercado. A gente tem um nome a zelar. Atrasos justificados, como os causados por greve, a gente entende. Mas o atraso sem justificativa, vai ser analisando por meio do código de ética da Coopercon. É a qualificação do Cooperado. A gente faz parte de um time e o time tem que se sobrepor a uma unidade.

OP -
O senhors também tem um fórum, com debates.
Novaes - Criamos o projeto Brasil em debate, que começou como um fórum local agora é um fórum nacional. Trouxemos, por exemplo, Ricardo Amorim, Arnaldo Jabor e Fernando Henrique. São para discutir o Brasil. A gente está fazendo súmulas do evento para ser entregue à sociedade e aos órgãos públicos. Principal fator debatido, por exemplo, é controle da inflação. Podemos atuar como atores, indutores, mais uma voz da sociedade.

OP – O senhor trabalhava na C. Rolim. Como foi a transição para a Novaes?
Novaes - Entrei na C. Rolim engenharia em 1990 como estagiário. Me foi dada a oportunidade, fomos vencendo os desafios, com todo o apoio, fui até sócio da empresa. Mas passarinho que aprendeu a voar quer sair da gaiola e eu sempre tive o sonho de ter uma construtora. Com propostas bem diferentes do mercado. Na C. Rolim eu já estava enfrentando 14 projetos simultaneamente e eu não acredito numa produção em massa na construção civil. A não ser como eu vi no Japão, em que entra painel e sai casa pronta no mesmo dia. Mas é uma realidade muito distante. Sempre sonhei em ter três, quatro projetos muito diferentes. Tecnologia mundial. Sempre enxerguei que a classe média é o futuro do Brasil. Isso aconteceu em maio de 2012, tenho dois sócios, o Rodrigo Freire – que tinha 20 anos de Porto Freire, e o Lupércio Girão – que tinha 17 de Diagonal. De pessoas trabalhando em três grandes construtoras, surgiu a Novaes engenharia. Fundada na inovação, esmero e sustentabilidade. Tínhamos certo frio na barriga no começo. Mas a recepção foi muito boa, o mercado estava muito carente desse tratamento. Temos tratamento personalizado, atendemos cliente por cliente. Conheço os 170 clientes na Novaes Engenharia.

OP – Com isso, o senhors não limitam o crescimento da empresa?
Novaes – Limita e é proposital. A grande arma da Novaes Engenharia é ser pequena. Esse é o nosso maior trunfo. A partir do momento em que temos outro foco de atuação, a gente sai do propósito. A gente não quer ser a maior empresa do Ceará.

OP -
E qual é a ambição da Novaes Engenharia?
Novaes - A gente quer ser a melhor construtora do Brasil nos próximos cinco anos. Não seremos a maior, mas a melhor.

OP - Como o senhor vê o mercado hoje? Existe um discurso pessimista hoje, sobre crescimento, bolha...
Novaes - Eu descarto completamente a ideia de bolha. Todos os indicadores brasileiros são muito fortes: bancários, crédito a produção, a compra, percentual investido na construção. A bolha acontece quando tem superoferta e estamos longe disso.

OP -
Há oferta errada?
Novaes - Sim. O público, hoje, é muito seletivo. O Brasil, como teve um déficit habitacional muito grande e ofertou muito crédito de 2008 para cá de forma grande. O País estava vendendo caixa de sapato em pé. O consumidor adquiria porque via que podia comprar. Hoje, esse comprador tem escolha. Entramos na lei da oferta e da procura. E, para a gente, que tem qualidade, é seleção natural. Construção civil é mercado para especializados. Nada contra médico, dentista, mas eles era construtores até três anos atrás. Acho que é melhor eles cuidarem dos dentes e da saúde da gente. Construtora é para engenheiro. Então houve alguns absurdos que estão sendo domesticados. O que está havendo no Brasil, não é pessimismo. É insegurança. A rota econômica do Brasil está sendo posta em interrogação. Isso é que a gente tem que refletir. Não podemos perder o que adquirimos nos últimos 20 anos, que é o controle da inflação.

OP - O setor de o senhors é o primeiro afetado em momentos de desconfiança, insegurança.
Novaes - É sim. O que está acontecendo é que o mercado balizou o preço. Se o mercado balizou, o senhor não pode aumentar o produto final. Tem que fazer o trabalho dentro de casa, com novas tecnologias, racionalização do processo. Mas tem limite. Temos que aumentar a produtividade do Brasil, dos nossos funcionários. A gente está muito amarrado. Com tecnologias internacionais, com alíquota de importação, com legislação trabalhista absurda, com falta de incentivos à construção. E isso tem que mudar. Independente de qualquer coisa, precisamos mudar a cabeça dos legisladores. Sou muito patriota, apaixonado pelo Brasil, filho de militar.

OP - Mão de obra é uma questão resolvida para a Coopercon?
Novaes - Hoje sim. Capacitamos nos últimos quatro anos. Mas, se tivermos outro boom da construção, vamos ter que correr atrás. E a questão não é só capacitar uma grande quantidade, é qualidade. O que um americano faz na construção civil, nós precisamos de cinco brasileiros.

OP - Como está o processo de licenciamento e liberação de alvarás?
Novaes - Acho que está se resolvendo. O prefeito Roberto Cláudio e a secretária Águeda Muniz têm feito um belo trabalho na agilidade de análise dos alvarás e licenciamentos ambientais. E o Governo do estado também fomentou muito o Minha Casa, Minha Vida. O que a gente quer é que continue dessa forma ou melhor. Em âmbito federal, precisamos de reforma tributária, previdenciária, capacitação da mão de obra. Esses são problemas a serem resolvidos de imediato.

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