Capital de fora não fez indústria vender mais
Num mercado "relativamente protegido", como o brasileiro, investimentos externos "têm impacto relativamente reduzido sobre exportações e, algumas vezes, tendem a aumentar as importações", avalia a CNI.
A principal dificuldade para os estrangeiras que levantam fábricas próprias ou se associam a indústrias nacionais é encarar as mesmas despesas logísticas, tributárias, trabalhistas e burocráticas que as demais companhias brasileiras. Ou seja: ao investir aqui, assumem também o chamado "custo Brasil", que dificulta posicionar seus produtos nas prateleiras mundiais.
"A estratégia das multinacionais não é ficar com o mercado doméstico, não é uma opção. Elas estão sofrendo os mesmos fatores que uma empresa nacional sofre", diz Carlos Abijaodi, diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI. "É uma situação perigosa, a insegurança no retorno dos investimentos."
O estudo analisa o fluxo de Investimento Estrangeiro Direto (IED), o capital considerado mais saudável vindo do exterior, de 2005 até o ano passado. Nesse período, a crise internacional representou uma inversão nos fluxos mundiais: os países emergentes, com o Brasil em papel proeminente, passaram a responder por mais da metade (52%) do total, "roubando" inversões que antes iam para as nações desenvolvidas. No governo Dilma Rousseff, o Brasil recebeu, em média, 4,4% de todo o IED mundial.
Setores
A entidade selecionou os nove setores industriais que concentraram 78% dos investimentos estrangeiros. Esse grupo também responde por quase metade (48%) das exportações de produtos industrializados. Mesmo sendo grandes receptores de investimentos, cinco deles reduziram a quantidade de produtos enviados ao exterior. Foi o caso de equipamentos de informática, que reduziu em 15 pontos porcentuais a quantidade exportada, deixando o mercado externo em segundo plano.
Tiveram o mesmo comportamento os setores de máquinas e equipamentos (-9 pontos) veículos automotivos (-8 pontos), produtos minerais não metálicos (-7 pontos) e máquinas e materiais elétricos (-7 pontos).
A principal exceção está no setor de produtos agroindustriais (alimentos), que elevou em 19 pontos porcentuais a quantidade de produtos exportados. Os outros setores que apresentaram crescimento foram metalurgia (3 pontos), produtos farmacêuticos (8 pontos) e produtos químicos (1 ponto).
Menos espaço
A participação da indústria nos investimentos diretos caiu de 46,5% em 2007 para 33%, no ano passado. Ao mesmo tempo, o setor agrícola e mineral cresceu de 13,9% para 26,2%. A fatia dos serviços aumentou de 38,1% para 44%.
O bolo também cresceu. Em 2007, o Brasil registrou US$ 34,6 bilhões de IED, valor que subiu para US$ 64 bilhões no ano passado e deve cair para US$ 63 bilhões este ano, segundo o Banco Central.
O período em que a indústria perde espaço como destino de IED coincide com o esforço do governo federal em atrair fábricas e investimentos para a indústria nacional, sob o guarda-chuva do Plano Brasil Maior - a política industrial cujo objetivo explícito é impulsionar a exportação de manufaturados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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