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Alta no custo da nafta preocupa o setor químico

07:50 | Ago. 15, 2014
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Os desdobramentos sobre o setor químico de um eventual aumento de 7% no custo da nafta foram calculados pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). O repasse integral do aumento ao setor, aponta um estudo encomendado à LCA Consultores, levaria ao fechamento de até dois polos petroquímicos de nafta no País, por inviabilizar grande parte das operações da indústria que dependem diretamente desses centros de abastecimento.

Hoje, de acordo com a Abiquim, a maioria do setor tem atuado com margens estreitas de lucro, em média, de 4%. O fechamento dos polos atingiria em cheio as operações da Braskem. Atualmente, só existem três dessas estruturas especializadas em nafta no Brasil, todas elas controlados pela Braskem.

A queda na produção das empresas vinculadas ao setor petroquímico - 12 mil indústrias que se abastecem da nafta - levaria a uma redução de R$ 13,1 bilhões na receita anual do segmento e perda de 9,8 mil empregos diretos. Se incluídos os indiretos, o corte sobe para 63,6 mil. "No agregado, haveria a perda de 73,4 mil empregos, responsáveis pela geração de R$ 2,3 bilhões em renda do trabalho", informa o estudo da LCA.

A União também não sairia ilesa, alerta o relatório. A redução anual na receita tributária foi estimada em R$ 530 milhões. Paralelamente, o impacto na balança comercial é calculado em aproximadamente US$ 2,1 bilhões, considerando-se uma taxa de câmbio de R$ 2,30. No fim das contas, haveria uma queda de 0,1 ponto porcentual do produto interno bruto (PIB).

Estagnação

Projeções à parte, a situação atual da indústria química, de fato, não dá sinais de estar preparada para solavancos econômicos. O setor enfrenta hoje a menor taxa de operação dos últimos 20 anos, segundo informações da Abiquim. Os dados da associação indicam que a capacidade de operação está em 78%, ou seja, há uma ociosidade de 22% no parque instalado.

A possibilidade de aumento no preço da nafta, de acordo com a associação, ajuda a agravar um quadro que já não é bom: 35% da demanda de químicos no Brasil tem sido atendida por produtos importados. Esse volume tem crescido nos últimos anos, puxado principalmente pela oferta do gás de xisto americano, que ajudou a derrubar os preços da indústria química dos Estados Unidos. Com o aumento do preço da nafta na indústria de base e o repasse desse custo para toda a cadeia, a tendência é de um crescimento ainda maior na importação.

As compras externas da Petrobras já transformaram a nafta no quinto principal produto manufaturado importado pelo Brasil e o que mais cresceu em termos de volume da pauta de importações neste ano. "Estamos vivendo nesse impasse desde dezembro do ano passado, quando as discussões começaram. Está todo mundo na expectativa de que esse assunto seja resolvido o mais rápido possível", diz Fernando Figueiredo, presidente da Abiquim. "O governo tem atuado, mas acho que ainda não percebeu o potencial da indústria química e o que está em jogo. Todos os executivos do setor estão perdendo o sono todos os dias com essa situação. Simplesmente, não temos condições de assumir mais esse custo logístico, principalmente porque não somos nós que causamos essa situação."

A Petrobras, teoricamente, não leva nenhuma vantagem em complicar as coisas para a Braskem. Atualmente, a estatal é dona de 36,1% da petroquímica. A estrutura societária inclui Odebrecht, com 38,3%, seguida pelo BNDESPar, que detém 5%. Uma fatia de 20,6% está pulverizada no mercado de ações. A indefinição sobre a nafta fez a Braskem congelar dois projetos que somam R$ 1 bilhão em investimentos: a construção de uma fábrica de plástico em Camaçari (BA) e uma segunda unidade em Triunfo (RS). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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