Parceria retoma carro elétrico nacional
Em 12 anos, essa é a quinta tentativa do empresário carioca Ricardo Machado, que atua no ramo imobiliário, de tornar realidade o sonho de produzir um carro brasileiro. Ele iniciou o projeto do Obvio! em 2002 e, desde então, fez parcerias com quatro grupos, três deles internacionais - Auto America Group, ZAP e Cappadocia -, mas nenhuma foi adiante. Na nova empreitada, Machado fez joint venture com a Wake, fabricante de buggies de luxo em São José dos Pinhais há cinco anos. Da união, nasceu a DirijaJa, que cuidará dos negócios conjuntos.
O grupo vai investir R$ 44 milhões para iniciar, no fim de 2015, a produção do Obvio! 828E, compacto para três passageiros. Nos planos estão também um furgão elétrico e um carro especial para cadeirantes. O motor elétrico e a bateria serão fornecidos por fabricantes dos Estados Unidos, Inglaterra, Canadá e China, atestados pelo grupo inglês Lotus e pela fabricante americana de veículos elétricos de luxo Tesla.
"O investimento será feito através de um mix de aportes de capital próprio da Cappadocia Investments (que detém 10% da Obvio!), Gespa Energy (da Alemanha) e de family offices (casas especializadas em administração de fortunas) do Rio de Janeiro e Curitiba", informa Machado. "O patrimônio integralizado será de R$ 40 milhões."
Compartilhamento
Segundo Machado, como os carros produzidos farão parte da frota própria da DirijaJa para locação, não haverá incidência de impostos como IPI e ICMS, "que inviabilizam a venda de veículos elétricos no Brasil".
O grupo trabalha em duas frentes de locação: para frotas de grandes empresas, que poderão colocar seu logotipo e se beneficiar da imagem positiva por usar um veículo não poluente, e para redes de estacionamentos. Nesse caso, os usuários poderão fazer a reserva por "app" em smartphones e tablets.
No sistema de compartilhamento que ganha força em países da Europa, o carro é retirado em um local e deixado onde o usuário quiser. No Brasil, inicialmente a retirada e a devolução serão feitas nas redes de estacionamentos conveniados.
Machado informa que o programa de carsharing com o Obvio! começará nas cidades do Rio e Curitiba, com 50 carros cada. Depois será estendido para São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Caxias do Sul. "Apostamos numa demanda de 300 carros em cada uma delas ao longo do tempo."
Buggies
A plataforma do Obvio! 828E foi desenvolvida pela Wake, que também criou a base dos seus buggies. Em uma enxuta linha de montagem, a empresa tem hoje capacidade para produzir 50 veículos ao mês, volume que pode chegar a 120 no próximo ano. O veículo utiliza motor 1.6 flex da Volkswagen.
"Somos 50 funcionários, contando empregos indiretos, e o buggy, desde sua plataforma, é produzido por nós", diz Fabiano Isoppo, sócio da empresa com Marcos Celestino, dono de uma rede de revendas de várias marcas de veículos no Paraná. "O processo de fabricação transita entre o artesanal e o industrial e isso dá um atrativo a mais ao buggy." Neste ano, a Wake começou a exportar buggies para México e Angola, e negocia com países europeus, além do Irã, onde estuda montar uma subsidiária.
No Brasil, há cerca de 320 buggies da marca. Um deles foi usado para transportar turistas na novela Flor do Caribe, exibida recentemente pela Rede Globo. O Super Buggy, como é chamado, é vendido por encomenda e custa a partir de R$ 60,9 mil, o dobro do preço cobrado por esse tipo de veículo."Nosso produto tem design diferente, qualidade no acabamento, freio a disco nas quatro rodas, direção leve e é confortável", justifica Isoppo.
No futuro, a Wake também fornecerá uma versão do buggy elétrico. A empresa participou do Salão do Automóvel de São Paulo em 2012 e este ano estará presente novamente no evento, em outubro. "Seremos a única fabricante nacional", ressalta Isoppo. Uma das novidades a ser mostrada é o Mini Buggy.
A empresa prevê faturamento de R$ 15 milhões neste ano, mas o projeto de desenvolvimento do Super Buggy, 100% nacional, já teve injetado R$ 60 milhões. "Se considerarmos os investimentos no setor automobilístico esse número é modesto", admite Isoppo.
Exótico
Na opinião do diretor do Centro de Estudos Automotivos (CEA) e ex-presidente da Ford, Luiz Carlos Mello, os carros elétricos são vistos no Brasil como "exóticos". Para ele, esse tipo de produto representará um nicho pequeno no mercado.O governo brasileiro estuda há vários anos um programa de incentivo à produção de carros elétricos e híbridos, mas o projeto está parado.
Mello vê a iniciativa da Obvio! com poucas chances de dar certo. "Tanto o sistema de carsharing como a venda de carros elétricos em breve serão absorvidos pelas grandes fabricantes e uma fábrica artesanal dificilmente terá chances de competir." (colaborou Julio Cesar Lima, especial para O Estado) As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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