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É cedo para falarmos em recessão na indústria, diz FGV

13:35 | Jun. 30, 2014
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Tipo Notícia
O nível de confiança da indústria de transformação está similar ao desempenho obtido durante períodos recentes de recessão da economia brasileira, como o da crise de 2008 ou ao cenário negativo de 2001, por conta do racionamento de energia. A afirmação foi feita nesta segunda-feira, 30, pelo superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Aloísio Campelo, ao comentar o resultado do Índice de Confiança da Indústria (ICI), que recuou 3,9% em junho ante maio, passando de 90,7 para 87,2 pontos. O resultado representa a sexta queda consecutiva do indicador.

"Ainda é cedo para falarmos em recessão na indústria, pois o conceito de recessão envolve muitos fatores, como o emprego e a renda, e mesmo que haja uma desaceleração forte no ritmo de contratações ainda estamos no terreno positivo", ponderou.

Apesar de descartar uma recessão na indústria, Campelo pondera que no caso da confiança o nível dos indicadores está em um patamar muito baixo e cada vez mais distante da média histórica (105,4 pontos), além de ser o pior dado desde maio de 2009 (86,4 pontos). "O nível de hoje é muito baixo em termos históricos", reforçou.

Para o economista, o cenário não deve ter uma alteração num futuro próximo, já que, em junho ante maio, o Índice de Expectativas (IE) também registrou queda de 5,4%, para 84,4 pontos. "A piora persistente das expectativas mostra que o empresariado industrial ainda não vê sinais de melhora no curto prazo", diz.

Além disso, Campelo explica que o fato de 12 dos 14 setores apresentarem queda nos índices de confiança também corrobora a ideia de que não há sinais de melhora no curto prazo, uma vez que o grau de difusão entre gêneros costuma antecipar as viradas dos índices de confiança. "Antes de termos uma virada nos índices de confiança, costumamos ter uma diminuição dos setores em queda. Ou seja, pelos sinais tradicionais, a visão de que o ambiente de negócios piorou ou está piorando se disseminou ainda mais em junho", disse.

O economista diz ainda que as estimativas já apontam que a produção na indústria de transformação esse ano deve ter uma queda entre 1,5% e 2%. "O que os dados estão mostrando é que a indústria da transformação não tem sinais de recuperação e que o caminho, depois de crescer 3% no ano passado, é de queda", afirmou. "Acho que a indústria em geral deve ter uma queda menor, em torno de 1%", completou.

Efeito Copa

Campelo diz que a realização da Copa do Mundo no Brasil criou uma situação "extraordinária" e que alguns fatores pontuais podem ter tido um impacto na confiança de alguns setores em junho, como feriados, férias antecipadas, greves e temor de manifestações. "Tem um efeito que parece ser pontual, mas o resultado geral reflete uma continuidade da queda de confiança", ponderou.

Segundo ele, o desempenho da seleção brasileira na Copa pode ter algum tipo de impacto positivo para os índices de confiança. "Se a economia não der sinais de melhora, acho que a influência de uma vitória do Brasil pode ser pequena, mas, se ao terminar a Copa, o resultado fora de campo for positivo, com uma sensação de que o Brasil 'entregou' tudo certo, algumas empresas podem melhorar sua imagem e confiança", explicou.

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