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Sucesso do microcrédito está aliado a outros serviços

Sem um acompanhamento sistemático, educação financeira e até a garantia de uma renda mínima, o microcrédito pode não surtir o efeito esperado de melhorar renda. Exemplos foram apresentados nesta quarta-feira, 30, em seminário promovido pelo Banco do Nordeste

09:09 | 31/05/2012

Com as experiências do Crediamigo e do Agroamigo como carro-chefe, o Banco do Nordeste (BNB) iniciou na quarta-feira, 30, um seminário sobre microfinanças, em Salvador, em que mostra experiências de microcrédito ao redor do mundo, mas que nem sempre resultam em resultados positivos. Em alguns casos, a falta de controle no acesso a esse tipo de recurso leva as famílias a um superendividamento e à piora de sua renda.

Na opinião dos primeiros palestrantes do evento, que vai até sexta-feira, 1º, a saída para evitar esse tipo de situação é aliar o acesso ao microcrédito a outros serviços, que incluem, entre outras coisas, educação financeira, programas de saúde, incentivo à poupança e também programas de transferência de renda.

Comemoração dos 60 anos

O evento é um dos programados para comemorar os 60 anos do banco em 2012. O BNB é a instituição com a maior carteira de clientes de microcrédito no Brasil, com 2,2 milhões de empréstimos realizados só em 2011 pelo Crediamigo, programa voltado a empreendedores urbanos, num montante de R$ 2,9 bilhões, numa média de R$ 1.324,43 por pessoa, a juros que vão de 0,68% a 1,2% ao mês.

Clientes rurais

Para os clientes rurais, há o Agroamigo, com empréstimos subsidiados que cobram 0,5% de juros ao ano e que, de 2005 a 2012, concedeu R$ 2,7 bilhões em empréstimos.

As situações negativas foram narradas pelo norte-americano Larry Reed, diretor da Microcredit Summit Campaign, entidade que incentiva a oferta de microcrédito ao redor do mundo como forma de reduzir a miséria.

Segundo Reed, o microcrédito recentemente foi colocado em xeque a partir de casos de pessoas que tomaram empréstimos – em países como Bangladesh e Índia –, não aplicaram os recursos em produtividade, por diversos motivos, e continuaram a contrair novos empréstimos, até não ser mais possível pagá-los.

“À medida em que essas pessoas tomaram mais empréstimos, tiveram uma queda da renda e um aumento do endividamento, o que não era a intenção do microcrédito”, disse.

Para Reed, essas situações demonstram que não basta dar acesso aos mais pobres às instituições financeiras. É necessário que a instituição financiadora e os governos se responsabilizem e aliem serviços que passam pelo acompanhamento do cliente, o incentivo à poupança e o monitoramento dos resultados do programa, para verificar se resultaram na melhoria da renda do cliente.

Para ele, o apoio de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, podem ter efeito positivo para garantir que os mais pobres tenham certa estabilidade para produzir.

Na prática, isso acontece no Brasil. De acordo com Stélio Gama, diretor administrativo do BNB, 40% dos beneficiados com recursos do Crediamigo também recebem o Bolsa Família. “O casamento entre a transferência de renda e o microcrédito garantem que a pessoa não use o dinheiro do empréstimo para o mais básico, como a alimentação. Com isso, há chances maiores desta pessoa produzir e conseguir sucesso.”

Ele afirma que, dos mais pobres que buscam o empréstimo, 60% conseguem passar da linha da pobreza após 5 anos. É considerado muito pobre a pessoa com renda per capita de até R$ 70/mês.

Milena Pinheiro, representante do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, afirma que a oferta do microcrédito é uma das linhas de trabalho do programa Brasil Sem Miséria, aliado ainda à garantia de uma renda mínima e ao acesso a serviços públicos.

Segundo ela, 64% das famílias hoje atendidas pelo Crescer, programa lançado pelo governo federal no ano passado de microcrédito orientado e subsidiado, com valores de até R$ 2.000, são beneficiárias de algum programa social do governo. A maioria das operações do programa, que totalizam R$ 1,2 bilhão, entre setembro de 2011 e março de 2012, é operada pelo BNB.

* Repórter viajou a Salvador a convite do BNB

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