BID: desaceleração forte na China é ameaça para AL
"Depois do potencial impacto de uma piora na crise da zona do euro, a China passou a ser o segundo risco mais sério ao crescimento da América Latina", disse à Agência Estado Andrew Powell, principal consultor do departamento de pesquisa do BID e coordenador do estudo. Segundo ele, o estudo mantém como cenário base um crescimento da América Latina de 3,6% em 2012, com as economias do Brasil e do México crescendo por volta dessa média da região. Nesse cenário, a Europa evitaria uma crise, a China desaceleraria sua economia apenas moderadamente e os Estados Unidos não resvalariam para uma nova recessão.
"Há, contudo, mais riscos negativos para esse cenário base e que podem trazer para baixo a estimativa para a economia da região", ressaltou Powell. "Ainda há muitas incertezas em relação à economia mundial." Segundo ele, a Europa está longe de ter resolvido os seus problemas da dívida soberana, mesmo após a Grécia ter conseguido concluir a operação de troca da sua dívida, o que abriu o caminho para liberação de desembolsos programados da ajuda financeira.
No caso da China, o cenário base ainda embute uma projeção de crescimento econômico para 2012 de 8,5% do Produto Interno Bruto (PIB), acelerando para 9,1% em 2015. A projeção, entretanto, foi elaborada antes de o governo chinês ter anunciado, no início deste mês, a sua nova meta de crescimento para o PIB de 7,5%. Entre os vários cenários traçados pelos economistas do BID há, inclusive, os mais pessimistas, com o PIB chinês sendo afetado em três pontos porcentuais se houvesse uma recessão mais forte na Europa. Nesse caso, os preços das commodities chegariam a cair mais de 30%, prevê o BID.
Mesmo no cenário mais pessimista, há motivos para otimismo em relação à América Latina, ressaltou Powell. "Os países da região estão mais resilientes a choques externos, pois esses países têm mais ferramentas para lidar com uma nova desaceleração da economia mundial", explicou. Entre os fatores positivos que permitem a América Latina atravessar melhor uma nova turbulência da economia mundial, Powell citou a melhora do balanço de pagamentos, com redução da dívida externa e aumento das reservas internacionais, e o uso de políticas monetárias mais sofisticadas, como medidas macroprudenciais, para minimizar os efeitos de um ambiente econômico global mais adverso.
O estudo do BID destaca como vulnerabilidades das economias latino-americanas o forte aumento no fluxo de capital externo, especialmente o capital com perfil mais especulativo; a presença mais acentuada em alguns países latinos de ativos e patrimônio de bancos europeus mais expostos à crise da dívida soberana; e a limitação em muitos países da capacidade de lançar mão de uma política fiscal anticíclica para reverter uma desaceleração mais forte da atividade econômica numa situação de piora da crise. O Brasil, contudo, está num grupo mais restrito de países latino-americanos em que a capacidade de fazer uso de uma política fiscal para estimular a economia é ainda quase a mesma do período mais agudo da crise financeira de 2008, segundo o estudo do BID.