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Getúlio Vargas disputa com Hitler e Saddam em 'Super trunfo' de Tiranos

Criado pelos alemães Jürgen Kittel e Jörg Wagner, o jogo é uma espécie de ''Super Trunfo'' no qual cada carta traz uma ficha com os ''atributos'' de cada um dos ditadores

14:37 | 03/09/2015
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O jogo "Super Trunfos", criado pelos alemães Jürgen Kittel e Jörg Wagner, ganham o semelhante: "Tiranos", que traz Adolf Hitler, Saddam Hussein e outros 96 mais cruéis e sanguinários governantes que o mundo já teve.

Mas, para a surpresa de alguns, juntamente com eles, aparece o ex- presidente brasileiro Getúlio Vargas, uma das figuras das cartas do jogo. No entanto, para alguns historiadores a comparação é problemática, mesmo sendo brincadeira.

Jogo Original

As regras do "Tiranos" são semelhantes às do "Super Trunfo", lançado na Alemanha em meados dos anos 50 e popularizado no Brasil na década de 80.

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No jogo original, as cartas estampavam carros, aviões e tanques de guerra. O objetivo do "Super Trunfos" era conseguir o maior número de cartas possível ao comparar categorias, já que em cada rodada era estabelecido qual aspecto seria comparado, e o maior valor atribuído a determinado aspecto era o vencedor.

No entanto, no "Tiranos", os jogadores podem comparar o ano de nascimento do ditador, a idade que tinha quando chegou no poder, o tempo que governou, quantas pessoas morreram durante seu tempo no poder, e quanta riqueza acumulou durante este período.

Em entrevista a BBC Brasil, Wagner falou sobre a ideia de fundar a Weltquartett, empresa com sede em Hamburgo, no norte da Alemanha, que produz e distribui o "Tiranos".

"Se já jogávamos competindo para ver qual arma era a mais poderosa, por que não competir com as pessoas que controlavam esses arsenais?", disse ele. De acordo com Wagner, responsável pela elaboraçãp da pesquisa, a primeira edição traz os ditadores "clássicos", como Hitler e Mao Tsé-tung.

A decisão de incluir Getúlio Vargas no jogo veio durante a pesquisa para a terceira edição, quando o grupo de "fascistas clericais" foi criado.

"Estava bem claro que teríamos nesse grupo o português António de Oliveira Salazar, então começamos a procurar outros integrantes e aí achamos Getúlio", explicou Wagner.

Segundo o empresário, o Brasil só não foi incluído porque foi muito difícil achar apenas um ditador cruel que representasse o período como um todo. "No caso da Argentina, por exemplo, era claro que tínhamos de incluir Jorge Videla, mas com a ditadura brasileira foi difícil identificar só uma pessoa."

O "Tiranos"

Segundo a BBC, o jogo faz parte de uma série produzida pela Weltquartett intitulada "Misérias do Mundo". Entre os outros jogos da série estão "Epidemias", "Drogas", "Vermes e Pestes", "Centrais Nucleares", e "Desastres petroleiros" - todos vendidos por cerca de 10 euros. De acordo com Wagner, a "beleza" do "Tiranos" é que a definição de "pior" depende da categoria escolhida em cada rodada.
"É difícil dizer qual a carta mais poderosa do jogo. Hitler tem um alto número de vítimas, mas ficou apenas 12 anos no poder. Em uma disputa contra Vargas nessa categoria, por exemplo, Vargas seria considerado o "pior", já que ficou 18 anos à frente do governo brasileiro, disse Wagner.
Problema
De acordo com a BBC, para o historiador Luiz Antonio Dias, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o fato de Vargas ser colocado no mesmo patamar que Hitler é problemático.

"Durante o Estado Novo, pode-se dizer que Vargas foi um ditador. Mas do ponto de vista histórico não podemos falar que ele foi um fascista", explicou o professor do Departamento de História da PUC-SP.
Ainda segundo o historiador, o jogo apresenta outro equívoco , é o número de mortes atribuído ao governo do ex-presidente brasileiro. Enquanto a carta do jogo mostra que 5 mil pessoas morreram durante o período em que Vargas ficou no poder, Dias acredita que o número de vítimas seja bem inferior.
"Não tenho ideia de como eles chegaram a 5 mil mortos", disse Dias. Segundo ele, não há um número oficial de mortos durante o período. "Mesmo se contabilizarmos os cerca de 2 mil mortos durante a Segunda Guerra, ainda falta muito para chegar nos 5 mil do jogo."
Mas, segundo os organizadores do jogo, diversas fontes foram checadas, mas não disseram qual.
Dias ainda ressalta que apesar de a memória de Vargas estar diretamente ligada aos anos da ditadura do Estado Novo, para a classe operária brasileira ele foi um herói pelos avanços trabalhistas promovidos durante o seu governo.
"Ao meu ver esse jogo é problemático porque reforça a ideia de que ele foi um tirano e isso é preocupante porque coloca ele no mesmo nível de líderes muito mais terríveis", disse o historiador.
"Tudo bem que em jogos e romances históricos há espaço para uma certa ‘liberdade poética’ na hora de recontar os fatos, mas é preciso cautela para não criar uma versão equivocada da História."

 

Redação O POVO Online

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