PUBLICIDADE
Notícias

Fóssil de 55 milhões de anos na China revela o primata mais antigo

A novidade ajudará a mapear a evolução dos primatas, uma família que inclui os humanos, e pode fortalecer a teoria de que os primatas surgiram na Ásia

18:20 | 05/06/2013

Paleontólogos anunciaram, em estudo publicado nesta quarta-feira (5), a descoberta dos restos fossilizados de uma minúscula criatura que vivia em árvores cerca de 55 milhões de anos atrás, o que faz deste o mais antigo primata registrado.

A descoberta ajudará a mapear a evolução dos primatas, uma família que inclui os humanos, e pode fortalecer a teoria contestada no passado de que os primatas surgiram na Ásia, informaram em artigo divulgado na revista científica Nature.

"Este esqueleto vai nos contar muito sobre as origens dos primatas e sobre nossos ancestrais remotos", declarou em teleconferência Xijun Ni, da Academia Chinesa de Ciências em Pequim, que chefiou o estudo.

A história sobre a descoberta data de dez anos atrás, quando Ni estava fazendo um trabalho de campo na província de Hubei e se deparou com um fóssil que tinha sido descoberto por um fazendeiro em uma pedreira perto de Jingzhou, não muito longe do rio Yangtzé.

O fóssil tinha ficado encapsulado dentro de uma rocha, que se dividiu ao meio, revelando o esqueleto e impressões nos dois lados. Foram necessários dois anos de trabalho paciente, usando tecnologia de escâner tridimensional, para se conseguir uma visão completa e detalhada do espécime.

O que emergiu foi um estranho primata, com apenas alguns centímetros de altura e pesando pouco mais de 30 gramas, sendo menor inclusive que o lêmure pigmeu, um primata de Madagascar que é o menor existente na atualidade.

A julgar por seu esqueleto, era claramente adaptado a viver em árvores. Com membros delgados, uma cauda longa e dedos finos, "deve ter sido um excelente saltador de árvores, ativo durante o dia e que se alimentava principalmente de insetos", disse Ni.

Foi chamado de Archicebus achilles, um nome composto que significa "primeiro macaco de cauda longa". O nome Aquiles foi inspirado no mito do guerreiro grego que chamava atenção pela incomum anatomia de seu tornozelo.

"O Archicebus difere radicalmente de qualquer outro primata, vivo ou fóssil, conhecido da ciência", afirmou o copesquisador Chris Beard, do Museu Carnegie de História Natural em Pittsburgh, na Pensilvânia, nos Estados Unidos.

"Parece um estranho híbrido, com pés de um pequeno macaco, braços, pernas e dentes de um primata muito primitivo, e um crânio primitivo com olhos surpreendentemente pequenos", acrescentou.

O esqueleto quase completo é o fóssil mais antigo de primata já encontrado, superando em 7 milhões de anos recordes anteriores, como as espécies denominadas Darwinius e Notharctus, descobertas respectivamente em Messel, na Alemanha, e em Bridger Basin, no Estado norte-americano de Wyoming.

O Archicebus é importante porque viveu próximo da época em que os primatas começaram a se separar. Um ramo levou aos társios atuais, grupo de pequenos animais noturnos que vivem em árvores, e outro levou aos antropoides, grupo que inclui os símios, os macacos e os humanos.

No passado, a pedreira foi um lago e se tornou um baú de tesouros de fósseis de aves antigas e peixes do período Eoceno, quando a Terra era, literalmente, uma estufa - um planeta onde não havia gelo nos polos e palmeiras cresciam no Alasca.

Florestas tropicais e subtropicais floresciam em quase todo o planeta. "Literalmente foi um momento excelente para ser um primata", disse Beard.

Ele acrescentou que "não é coincidência" que o fóssil tenha sido encontrado na China. A Ásia foi um lugar de biodiversidade exuberante no Eoceno e muito provavelmente abrigou os primeiros primatas, acrescentou.

"Avanços paleontológicos recentes indicaram que os primeiros e mais fundamentais passos na evolução dos primatas, incluindo os primórdios da evolução antropoide, quase certamente ocorreram na Ásia e não na África, que é a verdade aceita por todos nós quase vinte anos atrás", disse Beard.

Os antropoides primitivos migraram para a África durante o período Eoceno, chegando lá há cerca de 38 milhões de anos, eventualmente fornecendo o material de origem para hominídeos, teorizou. O grande momento para nós foi quando os símios e os humanos da África se separaram em duas linhagens diferentes, entre 5 e 10 milhões de anos atrás.

AFP

TAGS