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Acusado de desviar verba de auxílio emergencial em Tianguá, dono de mercadinho rebate denúncia

O dono do estabelecimento afirmou que está ajudando a população com recursos próprios
23:22 | Abr. 24, 2020
Autor Matheus Facundo
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Matheus Facundo Repórter do portal O POVO Online
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Tipo Notícia

Atualizada às 19 horas do dia 29/04

Correspondente bancário da Caixa Econômica Federal no distrito de Arapá, no município de Tianguá, um dono de um mercadinho é acusado de desviar verbas do auxílio emergencial da população para serem usadas como "crédito" em compras no empreendimento dela. A Polícia Civil do Ceará (PCCE) investiga o caso. A denúncia é rebatida pelo dono.

Nesta quinta-feira, 29 de abril, a Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) informou ao O POVO que a Delegacia Regional de Tianguá transferiu o inquérito sobre possível desvio de verba do auxílio emergencial ocorrido no distrito de Arapá, em Tianguá, para a Polícia Federal.

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A Caixa Econômica Federal informou que o correspondente bancário no distrito de Arapá foi bloqueado em 28 de abril e ficará sem operar até o término da apuração.

De acordo com uma parente de possível vítima, que terá a identidade preservada, o saque do auxílio para moradores do distrito só é realizado mediante a condição de parte do pagamento ficar como valor em compras no mercadinho. O dono ainda tiraria, segundo o relato, diferentes valores dependendo se o benefício for individual ou para mães chefes de família.

O POVO só conseguiu contato com a pessoa responsável pelo empreendimento no sábado, 25. Em conversa por telefone, as acusações são rebatidas. O homem declara que "em nenhum momento" condicionou o saque do auxílio a compras no seu mercadinho.

Sem recursos suficientes para atender a nova demanda, o empreendedor afirma que estava retirando dinheiro do seu próprio caixa para pagar os moradores. "Eu dou a opção de pegar dinheiro do meu caixa e entregar para eles. O resto, se não tiver, eles pegam em mercadoria. A Caixa me ressarce no dia seguinte", conta. Ele fala ainda que a alternativa foi sugerida pela própria população após muitos terem o saque frustrado na fila devido o esgotamento dos recursos diários enviados pela Caixa Econômica Federal.

"Eu sou correspondente bancário há 11 anos, nunca tive problema. O que acontece é que as pessoas sempre sacaram muito pouco dinheiro, geralmente de Bolsa Família. E aí como eu vou ter condição de pagar as pessoas? Eu estou fazendo isso pelo bem da população", afirma.

Já segundo a fonte que fez a denúncia, o dono do mercadinho "confisca" R$ 100 do auxílio de R$600 e R$ 200 do pagamento de R$ 1.200. "O dinheiro, segundo ela, era para as pessoas consumirem no mercadinho. Tem muita gente revoltada, porque lá é um povoado de maioria de pessoas sem estudo e agricultores. Se a pessoa não aceitar, (o mercadinho) não saca o dinheiro", afirma a denunciante. O dono alega ainda ter feito "um acordo com a Caixa" para legitimar a retenção do dinheiro.

O ponto onde os saques são realizados é a única maneira de os moradores retirarem não só o auxílio emergencial, dado como meio de se manter durante a pandemia do novo coronavírus, mas todos os benefícios de correntistas da Caixa, além de pagamentos de contas. A agência bancária mais próxima fica na sede do município de Tianguá. "Muita gente não tem como pegar transporte e ir para Tianguá", afirma a denunciante, que mora na sede, mas tem parentes no distrito de Arapá.

Boletim de Ocorrência (B.O) foi registrado na última segunda-feira, 20. Por nota, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado (SSPDS) afirmou que a Polícia realiza oitivas no intuito de investigar a denúncia.

Constrangimento

A fonte ouvida pelo O POVO afirma que foi à Delegacia Regional de Tianguá pelo menos duas vezes, "indignada" com a situação. Na primeira ida, foi informada de que precisaria de provas. Ela retornou então ao mercadinho com uma parente e diz ter sido vítima de constrangimento.

Uma delas havia ido ao mercadinho para retirar o auxílio de R$ 1.200 e a desculpa do "crédito" em compras apareceu. Ela recebeu um tipo de recibo. Como forma de conseguir um meio de prova, as duas voltaram ao local e tiveram o recibo confiscado pelo dono do empreendimento. "Depois eles expulsaram a gente aos gritos", conta.

Nota de esclarecimento de dono do mercadinho

"Vivemos em um distrito com uma população estimada em 5.000 (cinco mil) habitantes, que em sua maioria têm o direito ao auxílio emergencial de R$ 600,00 ou R$ 1.200,00 ou até em certas situações de até R$ 1.800,00. A população local é de constituída de agricultores, gente muito humilde.

Como correspondente bancário da Caixa, nos é fornecido dinheiro para que realizemos o saque do auxílio para a população local. No contexto normal, sacam valores do Bolsa Família, valores muito inferiores ao presente benefício. Com o auxílio emergencial, surgiu então a necessidade diária de ter dezenas de vezes o valor. O fluxo passou a ser então cerca de 10x o valor normal por dia. Simplesmente não havia dinheiro para atender todo mundo. O dinheiro então passou a acabar.

A população – desesperada e com fome, por vezes chorando – pedia para que nós suplementássemos o caixa com nosso dinheiro e/ou transformasse o valor em crédito no estabelecimento para compra de alimentos. Por conta da quarentena, sequer as topics estão rodando para Tianguá, ou seja, o transporte está quase impossível para muitos. Imagine agora filas de centenas de pessoas na porta de seu estabelecimento implorando por dinheiro e comida? Foi o que nos aconteceu"

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