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Moradores expõem problemas gerados pela seca no Cariri e Sertão de Inhamuns

Os relatos de quem passa pelo problema da falta de água no interior cearense transformam os números em um drama real do cotidiano sertanejo
15:51 | Nov. 21, 2016
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Os números da seca em alguns municípios do Cariri e do Sertão do Inhamuns impressionam e exibem um cenário já conhecido: pelo menos 30 casas de farinha de mandioca ameaçadas de fechar, criador que perde 90% do rebanho, 17 carros-pipa necessários para abastecer apenas um município, R$ 15 por um saco de raspas de mandioca que alimentem o gado. Os relatos de quem passa pelo problema da falta d’água no interior cearense transformam os números em um drama real do cotidiano sertanejo. 

“Estou vendo a hora acontecer uma grande demanda de animais mortos. Estamos dando raspas de mandioca  para não vermos o nosso rebanho morrer, mas estamos sem ter mais condição de comprar (R$ 15 cada saca). Estou com as mãos na cabeça”, conta o agricultor Francisco Adauto da Silva, residente do sítio Boa Sorte, a 9km da sede do município de Salitre. A esperança, conforme ele, é a perfuração de poços. “Os pequenos açudes e reservatórios estão secos, o colapso já se instalou”, reforça. 

De acordo com o coordenador da Defesa Civil de Salitre, Manoel Ribeiro Filho, 17 carros-pipa fazem o abastecimento do município. Ele calcula que o fechamento das casas de farinha gerou um desemprego de aproximadamente duas mil pessoas. “A maior parte da renda vem da produção de farinha de mandioca. Com o desemprego, as pessoas estão migrando para São Paulo para trabalhar no corte de cana e para Minas Gerais, atuar no plantio de café”, afirma.


Logística de abastecimento
A água que abastece Salitre vem de Permanbuco, segundo Manoel. Para algumas localidades, os carros-pipa chegam a percorrer distâncias de até 100 km. “Como no caso do município de Veneza, um dos mais afetados. Chega-se a desembolsar R$ 300 mil mensais para chegar a algumas cidades”, conta o coordenador da Defesa Civil da cidade.  

Um poço, que teria sido perfurado pela Petrobrás, seria a grande esperança para abastecer Salitre e outros dois municípios (Campos Sales e Araripe). “Tem uma vazão de 150 metros cúbicos de água por segundo, o problema para o funcionamento está sendo a montagem de uma bomba pelo Governo do Estado”, conta Manoel.


Economia afetada
O prefeito de Salitre, Rondilsom Ribeiro de Alencar, ressalta que o comércio da cidade foi afetado pelo desemprego gerado a partir do fechamento das casas de farinha. “O dividendo deixa de circular no comércio local. Se não melhorar, os comerciantes já pensam em fechar seus estabelecimentos”, afirma.
 
O gestor reforça a expectativa de que o poço perfurado pela Petrobrás seja colocado em atividade para amenizar a carência de água. “Daria para atender uma média de 75 mil habitantes de Campos Sales, Salitre e Araripe. Eu não sei mais o que fazer, estamos pedindo socorro”, destaca o prefeito. 


Inhamuns
Em Aiuaba, no Sertão do Inhamuns, a solução encontrada por muitos agricultores é a construção de cacimbas e pequenos barreiros e, muitas vezes, o esforço em cavar o solo é inútil. “Nunca vi uma situação como essa em toda a minha vida como agricultor”, frisa o presidente da Federação das Associações Comunitárias de Aiuaba, Manoel Araújo. Conforme ele, um dos distritos mais atingidos pela seca é o Bom Nome, que fica quase na divisa com Piauí e é abastecido pelo açude Benguê, distante 70 km do distrito.

A migração é um fenômeno que também estaria acontecendo no município. “Já tem pessoas deixando o nosso distrito, migrando para outras cidades, buscando água para suas necessidades básicas, mas água com qualidade. Quem tem condições compra água para beber, quem não tem consome água imprópria”, conta o trabalhador rural Pedro Rodrigues Feitosa. 

Em Catarina, a 394 km da Capital, o secretário adjunto de Agricultura do município, Francisco Elkison Soares, afirma que a prefeitura está investindo na contratação de carros pipa e na escavação de cacimbas. "O semblante de tristeza do homem do campo é comovente. Os agricultores chegam a encher os olhos de água ao falar da seca castigante, da morte dos animais, mesmo porque a barragem Rivaldo de Carvalho, que é a principal fonte de abastecimento, fica a uma distância de 18 kms para a sede do município e está secando”, detalha.
 
Com informações do jornalista Amaury Alencar

O POVO solicitou, nesta segunda-feira, 21,  informações à Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) do Ceará, sobre a perfuração de poços nos municípios citados na matéria. Até a publicação, não houve retorno. 

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