Indígenas Anacé de Caucaia contam suas próprias histórias no cinema
Jovens indígenas produziram curtas-metragens que retratam as histórias e culturas do povo Anacé, do município de CaucaiaDiversos indígenas Anacé, moradores do município de Caucaia, puderam assistir em uma sala de cinema suas próprias histórias e culturas refletidas diante de seus olhos.
Na manhã deste sábado, 9, o Shopping Iandê foi palco da 1ª Mostra de Cinema Indígena Brotar Cinema.
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Durante o evento, foram exibidos sete filmes, todos concebidos, produzidos e atuados pelos próprios integrantes da comunidade indígena Anacé, originários de quatro territórios distintos: Japurá, Taba, Cauípe e Parnamirim.
As produções são fruto do projeto Brotar Cinema, que teve como objetivo realizar a formação de jovens indígenas Anacé de diversas aldeias no universo cinematográfico.
Ao todo, sete curtas-metragens foram exibidos durante a mostra de cinema:
- Construindo Nossa História
- Reino Da Encantaria
- Os Indígenas De Amaceyo
- Matinta Pereira
- Jurema e seu Reinado
- Kaluanã
- Partilha Anacé
Jovens cineastas
Um dos diretores das produções foi Jardel Anacé. Morador da aldeia Japuara, ele conta que o projeto do Brotar Cinema veio para fazer mudanças na vida dos jovens de seu território.
“Após fazermos oficinas de cinema, surgiram as primeiras ideias para os filmes. A gente sentou em equipes e começamos a escrever sobre o que queríamos produzir”, conta.
“Nós mesmos somos os produtores, atores, roteiristas, somos um tudo. Todo mundo se envolveu bastante na criação e agora até querem seguir o ramo do cinema”, explica Jardel, que participou na criação do curta-metragem Jurema e seu Reinaldo.
Ainda segundo o jovem, após a exibição, a expectativa é que os filmes sejam submetidos em premiações de cinema regionais e, quem sabe, nacionais.
Tendo destaque em uma das produções, Pedro Vinicius, de 12 anos, estreou como um dos personagens principais do curta Reino Da Encantaria.
“Foi uma ideia dos nossos amigos e me chamaram para atuar. É a primeira vez que eu estou vivenciando isso e é ótimo ver o resultado ao lado dos meus companheiros e da minha família”, conta o jovem Anacé.
Fomentar o cinemas nas aldeias
De acordo com o arte-educador e coordenador pedagógico da escola Brotar Cinema, Iago Barreto, os filmes são fruto de uma iniciativa semeada desde 2018.
“Tudo começou com o Cine Clube Japuara, que foi um projeto onde realizamos sessões de filmes durante as noites nas aldeias, com um projetor emprestado, e também realizamos oficinas de produção de cinema, roteiro, pintura, foi muito diverso”, conta o cineclubista.
O projeto continuou mesmo durante a pandemia, com diversas atividades online e sessões de cinema nas aldeias. Em 2021, o Cine Japuara recebeu o apoio da Secretaria de Cultura do Ceará (Secult) para a manutenção de cineclubes no Estado.
Segundo o arte-educador, a iniciativa de avançar com as oficinas e produzir filmes foi uma iniciativa dos próprios indígenas. “Os Anacés foram isolados durante muito tempo e eles queriam ver um filme deles no cinema”, relata.
Em 2023, surge então o Brotar Cinema, uma continuação do Cine Japuara. O projeto contou com a participação de 53 alunos e culminou na produção de obras audiovisuais a partir das singularidades de cada território.
Confira a sinopse de cada filme:
Reino da Encantaria: é um filme sobre retornar ao território. Kauê é uma criança que cresceu fora de sua aldeia, e agora retorna tendo que se reconectar a sua raiz Anacé a partir da relação com sua mãe, e sua avó, uma pajelança
Jurema e seu Reinado: é um documentário sobre a Cabocla Jurema e sua mensagem para a humanidade. O filme se passa na Tenda ‘Palmeiral dos Índios’ e tem participação de Mãe Maraí Mariano.
Matinta Pereira: é um filme de terror produzido por meninas Anacé sobre uma versão da encantada Matinta Pereira, que habita as matas, e tanto protege como assusta aqueles que a invadem sem saber.
Partilha Anacé: Uma história emocionante de partilha e amizade que acontece na Reserva Taba dos Anacé, que celebra o poder da comunidade e como, juntos, o Povo Anacé pode florescer.
Construindo Nossa História: uma história inspiradora de esperança, resiliência e a capacidade de reconstrução do povo Anacé do Bolso em sua jornada para a Taba dos Anacé.
Os encantados do Amaçayó: um filme que remonta as origens das famílias Raposa e Bico, do Povo Anacé do Cauípe, e seu encontro com um encantado que se tornou protetor das águas.
Parnamirim Kaluanã: um filme que nos transporta às vivências e encantarias da lagoa do Parnamirim, nos fazendo dialogar com a cosmovisão Anacé.