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Comunidades protestam contra obras para retirada de água do Lagamar do Cauípe

Projeto prevê a retirada de 200 litros por segundo de água do manancial para o município de São Gonçalo do Amarante e distritos de Caucaia
09:45 | Out. 26, 2017
Autor Rubens Rodrigues
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Rubens Rodrigues Repórter do OPOVO
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A obra do Governo do Estado para retirada de água do Lagamar do Cauípe, na área do Eixão das Águas, em Caucaia, é motivo de protesto dos moradores da região. Nessa quarta-feira, 25, moradores bloquearam a Estrada da Pedra, que dá acesso ao Lagamar, no Litoral Oeste do Estado. Nesta quinta-feira, 26, representantes da comunidade devem chamar atenção de parlamentares na Câmara dos Vereadores de Caucia. A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) afirma que, devido aos protestos, que vêm ocorrendo durante este mês, a obra está parada e o cronograma atrasado.

O projeto prevê a retirada da água do manancial para o município de São Gonçalo do Amarante e distritos de Caucaia, ambos na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). A água também irá para o Complexo Industrial e Portuário do Pecém. A expectativa de vasão é de 200 litros por segundo.

Morador do Planalto Cauípe, o líder comunitário Paulo Rubens França diz que a população foi avisada da obra há cerca de seis meses, quando o primeiro poço estava prestes a ser feito no aquífero das dunas, no Cumbuco. "Eles (o Governo) não estão nem aí para as consequências. Vai impactar em 20 mil pessoas que moram na região, quem vive de turismo, das barracas no Cauípe e pescadores", diz o morador. "O povo que mora na beira do Lagamar não pode tirar água porque é considerado crime". 

Cerca de 50 pessoas participaram da manifestação que começou por volta das 7 horas dessa quarta-feira, e fecharam a via próxima de onde está sendo cavado para instalaçãode canos, impedindo o tráfego. Na última segunda-feira, 23, aproximadamente 300 pessoas participaram de uma reunião com representantes do Estado, ainda segundo Rubens França. No próximo dia 24 de novembro, eles terão um encontro na Assembeia Legislativa do Estado do Ceará para discutir o projeto. 

Com os principais acessos pela Via Estruturante Costa do Sol Poente, na CE-085, ou pela praia do Cumbuco, na CE 0-90, o Lagamar do Cauípe é uma Área de Proteção Ambiental (APA) e Área de Preservação Permanente (APP), que inclui as margens do Lagamar e o campo das dunas. Dentre as comunidades que cercam a APA estão a Barra do Cauípe, Cristalinas e Coqueiro.
 
"Água garantida"
 
A obra nasceu de estudo realizado pela Cogerh em 2011, quando foi avaliado o potencial hídrico superficial e subterrâneo da região. De acordo com o secretário dos Recursos Hídricos, Francisco Teixeira, a "água no litoral é garantida", já que a chuva ocorre de forma regular na região. No ano passado, choveu 1.400 mm entre Caucaia e São Gonçalo. Neste ano, o número fica em 1.500 mm, segundo a Cogerh. "Para o Estado que teve a estiagem apenas próxima da média, choveu praticamente o dobro nessa região. A lagoa do Cauípe sangrou todos os anos nesse período de seca", afirma o secretário. 
 
"É possível explorar essa água de forma regular, preservando as dunas e a lagoa sem deixar a especulação imobiliária tomar conta e o comércio influenciar na desordem urbana", explica Teixeira. "O projeto prevê tirar a água quando a lagoa estiver sangrando. O lagamar passa quase um semestre vertendo água para o mar. Chega a verter mais de 200 mil litros por segundo. Nossa proposta é captar 200 litros, 100 vezes menos do que a lagoa perde. Não vamos implantar um sistema para secar a lagoa". 
 
O secretário classifica como "confusão" o receio da população a respeito da obra, e garante que o sistema a ser implentado tem amparo legal. "Nós temos licença da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) e da Prefeitura de Caucaia, que é o órgão municipal titular da região".

Apesar de perfurações na área terem começado em maio deste ano, a obra do Governo do Estado está ainda no início e tem previsão de três meses para ser entregue. "Fizemos quatro rodadas de reuniões para dialogar com a comunidade. Na semana passada, tentamos recomeçar, mas houve ocupação das comunidades", afirma. A expectativa é que dentre os meses de fevereiro e maio, no auge da quadra chuvosa, a captação seja realizada com total aproveitamento da água. (Colaborou: Amanda Araújo)
 
 

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