Inquérito expõe logística de tráfico em Aracoiaba; quatro integrantes de facção são condenados
Núcleo da facção Guardiões do Estado (GDE) possuía responsável por abrigar foragidos em Aracoiaba enquanto acontecia disputa do território de tráfico de drogas com grupo de Capistrano
O município de Aracoiaba, à 86 quilômetros de Fortaleza, foi escolhido pela facção Guardiões do Estado (GDE) para a implantação de um núcleo do grupo. No município, com 25.553 de habitantes, o grupo mantinha uma logística de tráfico de drogas, ostentação de armamento e apoio para foragidos.
O inquérito da Polícia Civil que investigou o grupo de quatro pessoas expôs diálogos extraídos de aparelhos celulares de integrantes da organização criminosa e o planejamento dos integrantes. O POVO teve acesso à sentença da condenação da Vara de Delitos de Organizações Criminosas que condena quatro réus e foi proferida no dia 4 de novembro.
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Conforme os autos, o inquérito policial teve início após a prisão de Ryan Hudson Alves Moreira e Paulo Michel Silva Oliveira, presos por porte ilegal de arma de fogo e associação criminosa. As prisões ocorreram no dia 7 de junho de 2022, quando policiais civis receberam informes de que integrantes da GDE viajaram de Maracanaú à Aracoiaba com o objetivo de dar suporte à facção.
De acordo com o documento, os policiais receberam a informação com a descrição da casa, que possuía a inscrição "faz-se unhas" na frente do imóvel. Segundo os autos, após a chegada dos policiais, que se dividiram na entrada e nos fundos da casa, uma mulher abriu o imóvel e afirmou que não havia ocupantes na residência.
Neste momento, os policiais civis que estavam na parte dos fundos perceberam dois homens pulando a muro e jogando uma sacola para outra casa. Os dois foram capturados no momento da fuga.
Os policiais pediram para entrar na residência vizinha e encontraram um revólver calibre 38, da marca Taurus, além de munições. Foram detidos Ryan Hudson Alves Moreira, Paulo Michel Silva Oliveira, Douglas Lima Rufino e Erislânia Pereira da Silva (Lana).
Viagem para apoio ao núcleo da GDE
As investigações mostraram que Ryan e Paulo Michel eram de Maracanaú, mas estavam em Aracoiaba para ajudar "Lana e Loirinha", ambas fugitivas da prisão. Loirinha não foi identificada pela Polícia. As duas estavam na casa de Douglas, que era responsável por abrigar integrantes da organização criminosa. Todos recebiam orientações de Paulo Michel, que atuava na articulação da organização criminosa.
O inquérito policial obteve a extração de dados do aparelho celular de Douglas. As mensagens de WhatsApp constataram que o acusado passava informações sobre o posicionamento de policiais e viaturas em Aracoiaba e, além de abrigar criminosos da GDE, fornecia alimentos aos integrantes que, por alguma razão, não poderiam ficar abrigados na sua residência. A dinâmica expõe a logística do núcleo da GDE no município.
Foram identificadas conversas no WhatsApp sobre drogas e homicídios. A denúncia do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) por organização criminosa, tráfico de drogas e associação ao tráfico foi aceita pela Justiça. Os quatro indivíduos foram condenados.
Dados extraídos do WhatsApp
A defesa alegou teses de ausência de provas e provas insuficientes para condenação. Em outra conversa da extração de dados, Paulo Michel conversa com outro homem afirmando que precisa de um "menino bom de bala em Aracoiaba".
A investigação aponta a conversa como uma prova de que Michel tentava reunir integrantes da GDE no intuito de tomar a cidade da facção rival, o Comando Vermelho.
No dia 6 de junho, um dia antes da prisão em flagrante, Paulo Michel conversa com Lana sobre situação na qual a acusada estava bastante nervosa, em razão da investida policial. Ela informa que quase foi presa e que teriam, provavelmente, sido entregues por um dos integrantes do grupo.

Paulo Michel tenta acalmar a acusada afirmando que "quem vive no mundo do crime precisa estrar preparado para essas coisas". Ele relata que as duas estavam em Aracoiaba na responsabilidade dele e que o que fosse "perdido" na localidade seria responsabilidade dele. Afirmação que demonstra posição de chefia.
Veja as condenações
- Erislânia Pereira Silva foi condenada a 16 anos e três meses de reclusão em regime inicialmente fechado
- Douglas Lima Rufino foi condenado a 16 anos e três meses de reclusão e 1.477 dia-multa
- Ryan Hudson Alves Moreira condenado a 17 anos e 10 meses e 15 dias de reclusão além de 1.451 dias-multa
- Paulo Michel Silva Oliveira, condenado a 20 anos, sete meses e 15 dias de reclusão e 1.542 dias-multa