Exposição conta história de cearense que realizou sonho de ver o mar 2 meses antes de morrer
Por mais de um ano, a criança ficou longe das águas salgadas que tanto amava. Quando pôde reencontrar o mar, já em fase terminal, ela eternizou esse momento em um ensaio fotográfico
O sonho da pequena Ágatha Quest, natural de Paracuru, de se tornar uma sereia foi interrompido aos 9 anos, quando recebeu o diagnóstico de um câncer do tipo sarcoma ósseo, doença que afeta os tecidos do corpo como ossos ou músculos. Por mais de um ano a criança ficou longe das águas salgadas que tanto amava, até que finalmente pôde reencontrar o mar com a ajuda de voluntários da Associação Peter Pan e da fotógrafa Dayviane Lima, que eternizou o sonho da menina já em fase terminal. Após dois anos do seu falecimento, os registro e a história de superação de Ágatha vão estar em destaque na exposição Retratos da Superação, até o dia 24 de abril, com o objetivo de promover uma reflexão sobre os diferentes tipos de superação e levar empatia e respeito para os desafios dos pacientes oncológicos.
Ao O POVO, a fotógrafa Dayviane Lima explica que a exposição tem a participação de pacientes com câncer, familiares, médicos, enfermeiros e voluntários, unidos no enfrentamento a doença. As imagens em destaque não são apenas para falar da doença, mas, a partir do contexto, ensinar sobre as superações que são necessárias no decorrer da vida, utilizando, para isso, a linguagem artística e atraindo grande visibilidade.
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O diagnóstico e a luta pela vida
Em entrevista ao O POVO, a mãe de Ágatha, Lidiane, relatou a luta da filha com a doença. Segundo a mãe da pequena, tudo começou com uma dor "cansada" na perna. No dia 29 de março de 2018, a menina de 9 anos foi encaminhada para a Associação Peter Pan após um médico do município não identificar os sintomas de câncer infantil, afirmando que a criança sentia uma "dor do crescimento".
As duas então vieram a Fortaleza, encaminhadas e acolhidas pela ONG, onde a menina foi imediatamente internada. Segundo a mãe, o que mais doeu neste processo foi a filha ler as palavras "Centro Pediátrico do Câncer" no local e questioná-la: "Mãe, eu tenho câncer?"
A partir de então, as duas residiram em Fortaleza por 1 ano e 11 dias, até o falecimento de Àgatha em abril de 2019. Outro momento dolorido nessa trajetória foi a amputação da perna direita.
"O médico disse que seria para dar qualidade de vida, afinal ela sentia muitas dores, e a locomoção seria possível, pois ela passou alguns meses saindo somente para o hospital, porque era desconfortável", conta Lidiane. "Mesmo se mostrando insatisfeita, Àgatha ficou um pouco feliz com a possibilidade de sair para realizar algumas coisas que gostava".
Na cidade em que moravam, a menina ia todos os fins de semana acompanhada da mãe e irmã para a praia. Desde a notícia da doença, ela não havia retornado para casa e os únicos locais que ia, além de hospitais, eram o shopping e a igreja aos sábados.
"Ela sempre se ajoelhava aos pés de Nossa Senhora dos Remédios, padroeira da nossa cidade, e cochichava algo que nunca me revelara. Era um segredo dela e de Maria Santíssima que ela levou guardado consigo", confidencia a mãe.
Encontro com as águas
Nascida e criada em Paracuru, município do litoral cearense, Ágatha sempre teve uma paixão pela praia. O laço entre a criança e oceano foi distanciado em março de 2018, quando a pequena, acompanhada de sua mãe, Lidiane Silva de Moura, veio até Fortaleza iniciar o tratamento na ONG que apoia crianças e adolescentes com câncer. Mas o desejo de voltar até sua cidade e a orla em que cresceu nunca saiu de seu coração.
O agravamento da doença impossibilitava que a criança revivesse os momentos de prazer, que faziam parte da sua rotina diária antes do diagnóstico. Com a amputação de uma perna e a metástase do câncer nos pulmões, Ágatha já era uma paciente terminal e surpreendeu a todos no dia em que decidiu realizar o ensaio em uma praia mais próxima, na Tabuba, Região Metropolitana de Fortaleza.
"Isso é uma característica das crianças quando estão nesse momento mais complicado, entrando em estágio terminal, elas expressam mais seus desejos e vontades, e Ágatha falava muito sobre voltar a Paracuru e tomar banho de mar novamente", relembrou a fotógrafa, que é voluntária da associação.
Para Lidiane, mãe de criança, o dia do encontro com as águas, no dia 31 de janeiro de 2019, foi "preparado por Deus especialmente para ela para antecipadamente se despedir do mar". A roupa de sereia era mais um dos elementos importantes para o momento, já que desde sempre ela afirmava que seria uma sereia.
"Os olhos brilhavam cheios de alegria, queria logo mergulhar. Fui empurrando ela na cadeira de rodas na areia até o mar, mas (Ágatha) não teve paciência de esperar chegar no fundo e mergulhou ali mesmo numa piscininha que parecia estar ali especialmente pra ela", contou a mãe, completando que "ao comando da tia Dayvi (a fotógrafa), logo já começou a ensaiar poses para as fotos se sentindo uma sereia de verdade".
Para Dayviane, que registrou os cliques do momento, a história da criança é de uma superação após a outra: "Nós ficamos impressionados com a força que ela mostrou nesse dia. Porque ela já estava muito debilitada, mas mostrou uma força de superação enorme ao tomar banho de mar, pular e brincar. Fez coisas que uma criança naquele estado não conseguiria fazer".
E finalizou detalhando que: "Ela ainda sobreviveu até dia 10 de abril. Um paciente em estágio terminal fazer tudo o que ela fez no dia em que fomos a praia e ainda viver por ainda mais esse tempo. Isso é algo que a medicina não explica." Para as duas, mãe e fotógrafa, que acompanharam a luta de Ágatha contra o câncer, ficou a saudade e as lembranças de uma criança apaixonada pelo mar.
Serviço
Exposição Retratos da Superação
Onde: Estação Benfica
Quando: de segunda a sábado, de 8h as 22
Atualizada às 11h07 de 04/04/2022
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