Devendo conta de energia, mãe de criança com paralisia cerebral recorre à Defensoria Pública

"Quando falta energia é um desespero aqui em casa, porque meu filho precisa de equipamentos que ficam ligados na tomada. É um pânico", diz Angelinda Alves de Lima

Seja para estudar ou trabalhar, o uso cotidiano de energia elétrica é indispensável para milhares de pessoas. No entanto, esse recurso é ainda mais necessário para os pacientes nomeados de eletrodependentes. Esses, não só precisam da energia elétrica para atividades rotineiras, como também dependem dela para viver

“Quando falta energia é um desespero aqui em casa, porque meu filho precisa de equipamentos que ficam ligados na tomada. É um pânico”. Este é o relato é da Maria Angelinda Alves de Lima, mãe de Robert. O garoto, de 11 anos, tem paralisia cerebral. Ele precisa de cuidados em tempo integral para auxiliar na alimentação com sonda e de aparelhos para aspiração de secreções nas vias respiratórias.

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Os pacientes eletrodependentes demandam tratamento de saúde ou procedimento médico que requer uso continuado de energia elétrica. Por esse motivo, vivem uma realidade em que a disponibilidade da rede pode ser uma questão de vida ou morte.

O equipamento que desempenha esta função depende de energia elétrica diariamente e isso sobrecarrega o orçamento da família, que veio do município de Tauá, na região dos Inhamuns, para Fortaleza quando o quadro clínico de Robert se agravou. Após um período de internação da criança no Hospital Albert Sabin, mãe e filho foram liberados para continuar o tratamento em casa.

Já em casa, um novo problema surgiu: arcar com os altos valores da conta de energia elétrica. “As faturas começaram a vir no valor de R$500,00. Eu passo o dia cuidando do meu filho, sou mãe solteira, cuido dele 24 horas por dia, não tenho nenhum parente em Fortaleza, nossa renda vem do benefício assistencial, só um salário-mínimo. Isso mal dá pra pagar a luz porque eu tenho um mini leito hospitalar”, complementa Angelinda.

Com o aumento nos gastos com energia e a cobrança por parte da Enel, concessionária de eletricidade do Ceará, da quantia pendente, a família procurou o Núcleo de Direitos Humanos e Ações Coletivas (NDHAC) da Defensoria Pública que judicializou a ação. A Defensoria solicitou a suspensão da cobrança da dívida de energia elétrica existente decorrente da instalação do leito hospitalar em casa e a troca do medidor para outro específico.

No Núcleo, em 2021, já foram sete ações deste tipo. Nelas, a Defensoria pede que a Justiça determine a individualização dos medidores de energia elétrica (para que separem o consumo da casa dos aparelhos), dando obrigação ao Estado de custear a manutenção do tratamento homecare. Cinco ações pleiteadas foram deferidas e uma aguarda julgamento de mérito.

No processo, a defensora anexou a carta que a mãe escreveu ao juiz. “Venho aqui falar com o meu coração desesperado para que o senhor me conceda esse direito, para mim não pagar energia que meu filho precisa muito. Tenho 5 papéis para pagar, mas não tenho condições. Eu amo muito meu filho. Sempre vou lutar pelo bem do meu filho. Nunca baixarei a cabeça para nada”, escreveu a mãe.

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O processo foi tramitado para a 3a Vara da Infância e Juventude e deferido no dia 19 de outubro. A juíza Alda Maria Holanda Leite deferiu a liminar do pedido de urgência e determinou que a Enel não suspenda e nem interrompa a prestação de serviços de energia elétrica na casa da família de Angelinda, tendo em vista a necessidade de fornecimento ininterrupto de energia elétrica.

Atuante na 3a Vara da Infância e Juventude de Fortaleza, o defensor público Adriano Leitinho fala sobre o assunto. O defensor acredita que, para pacientes eletrodependentes, o fornecimento de energia elétrica representa o acesso à saúde, pois sem ela, os pacientes morrem.

"O direito à saúde deve ser amplo, universal e gratuito, ainda mais quando falamos de criança e adolescente, que devem ser tratados com prioridade absoluta. O custeio da energia elétrica pelo Estado e pela Enel nada mais é do que a garantia da efetivação do direito à saúde e de uma vida digna para os eletrodependentes, principalmente considerando que a grande maioria vive em situação de extrema vulnerabilidade”, destaca.

Quando o paciente é maior de idade, o processo tramita na Fazenda Pública. Para a defensora Marília Braga, supervisora das Defensorias da Fazenda Pública, estes casos seguem de forma célere, porque dizem respeito à vida das pessoas, mas o desfecho poderia ter um destino mais certo com o julgamento da Ação civil Pública que tramita desde 2010 e serem resolvidos coletivamente.

“Nós, defensores, temos uma grande expectativa no julgamento da Ação Civil Pública, já que poderá garantir de forma imediata e sem burocracia o direito à isenção de energia elétrica aos eletrodependentes, em razão da vital necessidade do equipamento elétrico para a preservação de suas vidas”, destaca Marília.

Enel

 

Em nota, a Enel informou que irá cumprir com a decisão judicial no que cabe à distribuidora. A Enel afirma que o custeio das contas de energia são de responsabilidade do Estado e que a unidade (a casa de Angelina) está cadastrada como cliente eletrodependente, estabelecido pela Resolução 414 da Agência Nacional de Energia Elétrica, "que estabelece o procedimento para a identificação de clientes eletrodependentes sendo necessária a apresentação da documentação que comprova o uso dos equipamentos, a cada 120 dias. A companhia esclarece ainda que, em caso de dúvidas, o cliente pode acessar o site www.enel.com.br e consultar a documentação necessária para a solicitação. A Enel Ceará reforça que mantém o cadastro atualizado dos clientes que fazem uso de aparelhos elétricos essenciais à vida."

Serviço

Se você se encontra nessa situação e não tem condições de arcar com as custas do processo e despesas de advogados particulares, basta entrar em contato com o Núcleo de Direitos Humanos e Ações Coletivas.

• Telefone: (85) 98895-5514 / (85) 98873-9535
• E-mail: ndhac@defensoria.ce.def.br

No site www.defensoria.ce.def.br, há um banner vermelho com os contatos de telefones e e-mails de todas as cidades que contam com a atuação de defensores públicos.

Atualizada às 07h51 de 09/12/2021

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