Em vídeos no Youtube, professor mostra como a ciência está presente na vida das pessoas

Em vídeos de 10 minutos, professor do Curso de Administração simplifica a ciência e o conhecimento científico e leva para próximo das pessoas o que é produzido nas universidades

O acesso à ciência e à pesquisa científica quase sempre foi destinado aos mestres e doutores. Com a população cada vez mais apartada daquilo que, em tese, deveria ser a ela destinada, surge a ideia de um professor do curso de Administração da Universidade Federal do Ceará (UFC), José de Paula Barros Neto, de estreitar a relação entre a pesquisa realizada por trás dos muros acadêmicos e a vida cotidiana.

“Hoje existe um método científico que garante que aquelas pesquisas são resultados válidos e representam a verdade científica. Isso fica cada vez mais importante porque hoje tem muita especulação”, defende o professor, em conversa com O POVO. Engenheiro civil de formação e doutor em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Barros Neto teve a ideia de realizar o "Conversa Com Ciência" a partir da iniciativa de propagação do conhecimento. Ele hoje é o presidente da Fundação de Apoio a Serviços Técnicos, Ensino e Fomento a Pesquisas (Astef), que promove o projeto junto com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

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O "Conversa com Ciência" tem o formato simples, de uma transmissão de áudio e vídeo pelas plataformas digitais, de entrevista com pesquisadores das universidades do Estado sobre o fazer científico. O projeto teve início em outubro de 2020, pela plataforma Youtube. “A ideia é simplificar a compreensão das pesquisas desenvolvidas em nosso Estado e valorizar nossos pesquisadores”, resume o professor. O programa tem entre 10 e 15 minutos de duração.

Os temas em discussão são amplos e variados. Eles buscam mergulhar nos mais diferentes nichos estudados nas universidades, como pesquisa sobre anestesia bucal sem dor, inovação com o robô Wally, desenvolvido no IFCE para desinfecção de ambientes e elmo de respiração assistida; temas de interesse público, como produção de vacinas, até Mecânica Quântica.

O POVO - Nestes tempos de desinformação, o trabalho científico nunca foi tão necessário. Existe uma importância maior para o projeto especificamente para esse momento?

Professor Barros Neto - A importância é justamente porque nós só conseguimos evoluir a partir da ciência, que tem o método científico, que toma todos os cuidados para que as descobertas científicas cheguem para as pessoas. Quando você trabalha sem ciência, corre o risco de prejudicar várias pessoas sem ter uma base científica. A ciência tem mais de 400 anos, desde dos anos 1600, quando começou com Isaac Newton, com o (René) Descarte, com o Galileu (Galilei). Foi nesse momento em que se começou a construir o método científico, que é a garantia de que as afirmações que o cientista está fazendo têm validade. Quantas pessoas não morreram ao longo do tempo, comendo, experimentando, por exemplo, frutos venenosos? Hoje não acontece mais isso ou o risco é bem menor. Mas, como não havia ciência, antes era um risco: tentativa e erro. Vamos provar, se alguém morrer, descobre-se. Hoje não tem isso. Hoje existe um método científico que garante que aquelas pesquisas são resultados válidos e representam a verdade científica. Por isso fica cada vez mais importante, porque hoje tem muita especulação. A própria ciência sabe que você pode resolver um problema, mas pode causar outro, como os efeitos colaterais de um medicamento. Eu costumo dizer que a gente vai precisar vez mais da ciência. Porque, por exemplo, nós temos hoje um mundo parado por um vírus. É um ser invisível que está parando economia. Isso nunca aconteceu. Nós já paramos por causa de uma guerra e vamos precisar cada vez mais dos métodos científicos porque não podemos ficar reféns. Nós temos um conhecimento que acumulamos ao longo desses anos, não é possível que a gente não faça os estudos.

OP - Principalmente quando o País passa por um um momento de retrocesso de descredibilização da ciência.

Barros Neto - Você consegue fazer a publicidade de um cantor sertanejo, mas não consegue fazer de um cientista, a não ser que seja algo muito revolucionário ou que chame a atenção. Mas, a ideia (do projeto) é mostrar que a ciência está no nosso dia a dia. Nós precisamos dela. As pessoas têm a visão de que o cientista é um doidinho, usando aqui um termo informal, é um maluco, um cara que tá dentro do laboratório. Não, cientista é um profissional como outro qualquer. Costumo até brincar com os meus alunos, na pós-graduação, que quando o cara tá fazendo mestrado e doutorado ele está fazendo uma residência em pesquisa, é igual a um médico. Ou seja, você está aprendendo a pesquisar: como é que faz um método, como é que constrói o trabalho, como é que confirma os dados. Na realidade, você está aprendendo a pesquisar. E existem várias coisas interessantes dentro da ciência e justamente a partir do que apresentamos (no projeto), mostrar a importância da ciência. Se não fosse a ciência, a tecnologia e a inovação nós estaríamos dentro das cavernas. O Brasil no começo do século XX tinha uma expectativa de vida de 45 anos. Hoje nós estamos com 75. Aumentou em quase dois terços, crescemos muito (semelhante a) países de primeiro mundo. Isso não veio por caso, não foi obra divina, foi justamente investimento de ciência, investimento de política pública que, ao longo do tempo foi aumentando a expectativa de vida das pessoas. A ideia é mostrar às pessoas de uma forma simples. Converso muito com os entrevistados que não vamos usar termos técnicos. Estava entrevistando um colega e ele diz “substrato”. E eu pergunto: mas o que é substrato? Tentando fazer com que as pessoas entendam o que é aquilo. Esse é o grande do atrativo do projeto. Entrevistas de 10 a 15 minutos de alguns temas cotidianos, como vacinas, fizemos agora sobre média móvel, sobre pesquisa eleitoral. No programa, nós gravamos pela plataforma Google Meet, convidamos a pessoa e fazemos uma reunião gravada.

OP - A ideia é basicamente é simplificar a compreensão dessas pesquisas.

Barros Neto - Nós entrevistamos pesquisadores. Entrevistei um professor que trabalha com inteligência artificial. Normalmente eu faço duas entrevistas, e pergunto: o que é inteligência artificial? Tenho uma pessoa que faz a edição. Estamos usando a internet, o Instagram para divulgar. O que precisamos muito é de divulgação porque eu acho que é um programa superlegal. Estamos planejando fazer um podcast. Começamos em outubro o programa, agora que já estamos com o formato bem arrumadinho. Como é basicamente entrevista, teve apenas um professor que apresentou um slide.

OP - Como despertar, na criança, o interesse pela ciência?

Barros Neto - Para qualquer criança, eu acho que é preciso pensar no lado lúdico. Tem a Seara da Ciência (projeto de extensão da UFC), no (Campus do) Pici, que é um local muito legal pra você levar crianças, deixá-las pra tocar no experimento. Basicamente é fazer da ciência algo muito interessante. Mas, eu acredito que para trazer crianças, seria necessário contar com a ajuda de uma profissional da pedagogia, porque tem a questão da linguagem. Mais à frente, temos de pensar nisso porque eu sou um defensor de que você precisa trazer as crianças para a ciência para a física, a matemática, a tecnologia. É preciso fazer com que os alunos gostem de matemática, física… Quanto mais houver transformação no contato com as ciências, mais isso deve aconteceu. Mas é preciso um projeto mais arrojado porque é preciso mais direcionamento.

OP - Onde estão os vídeos na Internet?

Barros Neto - O canal do Youtube é o Conversa com o Ciência. Pode ser que um dia eu chegue perto da Anitta (risos).

OP - O papel do seu projeto é o de divulgar entre os leigos a ciência e a importância dela no nosso cotidiano. O seu interesse vai além disso?

Barros Neto - A ciência é uma questão de soberania. Uma das riquezas dos norte-americanos está relacionada à tecnologia. No caso das vacinas, por exemplo, estão vendendo a da Rússia e nós ficamos de fora. É muito importante não ver a ciência algo só de pesquisadores, porque ela dá dinheiro. Dá dinheiro para o País, dá a tecnologia. As pessoas têm de valorizar a gente (os pesquisadores) como uma grande arma, ou seja, uma geração de riqueza. Se nós somos exportadores de produtos, de commodities no Brasil hoje é porque houve um investiu em tecnologia. As máquinas agrícolas, por exemplo, começaram quando um cientista desenvolveu uma pesquisa na área de agricultura. Agora, tem de ter um investimento, tem que ter uma política, tem que ter recurso porque não é barato. Quanto custa ter um prêmio Nobel? É muito caro. Porque é um investimento muito alto. Agora, se você tiver uma política pública, que envolva empresas, todas as universidades, o governo, se tem condição de melhorar fortemente. O Brasil tem uma capacidade instalada de pesquisa muito grande. Não vou dizer tudo, mas boa parte dos problemas do mundo podem ser pesquisados aqui no Estado. Agora, tem de ter gente, tem de ter valorização, tem de ter recurso pra poder fazer isso. Nós temos hoje uma plena capacidade, mas nós precisamos de investimento. Pesquisa não existe sem dinheiro para investir em equipamentos, pessoas e isso é caro. Ver a pesquisa como um um elemento estratégico para o País é fundamental.

OP - Quais são os projetos para o programa em 2021?

Barros Neto - Para 2021, estão previstos outros formatos, as conversas digitais, envolvendo histórias de vida de pesquisadores, temas mais abrangentes, como ética na pesquisa, Contar história de vida, como o cara chegou ali. A ideia é contar a história dos cientistas e dos laboratório. Mas isso vai esperar um pouco, porque precisa filmar, né? A ideia é ir aos laboratórios. E fazer alguma coisa sobre as mulheres na pesquisa. Nós sabemos que tem toda uma dificuldade na sociedade machista e as mulheres acabam sobrecarregadas. Trazer o quanto a pesquisa entre mulheres cresceu. Nós queremos socializar o conhecimento, brincar… O cara fala sobre startup, e eu pergunto: o que é uma? O que precisa da startup. Mas, também queremos mostrar por que precisamos de tanto recurso. Por exemplo, essas vacinas. Houve uma energia mundial, muito dinheiro e energia jogados em cima e o Brasil ficou de fora.

OP - Os temas do projeto são fundamentais e eles provocam curiosidade nas pessoas. Eles são pensados exatamente por isso, em aguçar a curiosidade?

Barros Neto - Sim, sim, a ideia é essa. De que as pessoas entrem no canal, que elas tenham despertadas as curiosidades. Toda semana, às quartas, lançamos um vídeo. Mas temos uma dificuldade muito grande de penetração

OP - O seu trabalho acaba ajudando a valorizar os pesquisadores aqui do Ceará. É esse também é um dos objetivos?

Barros Neto - Eu já fui diretor do Centro de Tecnologia da UFC. E esse é o papel. O de levar pessoas até lá e todo mundo se surpreender quando via que estava sendo feito na UFC. Existem coisas por lá que você ficaria impressionada, que você não imagina que tenha. Mas, como há uma dificuldade muito grande de divulgação, as pessoas acabam não sabendo. A ideia é justamente mostrar o que vem sendo feito no Ceará de pesquisas e de conhecimento para a sociedade, para que as pessoas participem, conheçam, defendam. A universidade fazendo a ciência como um bem pra sociedade.

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