Participamos do

Conheça Zelma Madeira, nova Assessora Especial de Acolhimento aos Movimentos Sociais do Ceará

Zelma estava como coordenadora de Políticas Públicas para Igualdade Racial e esteve à frente da campanha "Ceará sem Racismo – Respeite minha história, respeite minha diversidade", vencedora da 17° edição do prêmio nacional Innovare
15:27 | Dez. 11, 2020
Autor Gabriela Feitosa
Foto do autor
Gabriela Feitosa Estagiária do O POVO Online
Ver perfil do autor
Tipo Notícia

Não se resignar, não desistir, ser insurgente. Esse é um dos conselhos que a professora Zelma Madeira dá para a juventude cearense. Assumir essa postura pode parecer difícil em um 2020 tão doloroso, mas nas próprias palavras de Zelma, que agora assume a Assessoria Especial de Acolhimento aos Movimentos Sociais do Ceará: “Não basta ter somente estratégia. Temos que ter é tática, trocar o pneu com o carro andando”.

O POVO conversou com a professora na manhã desta sexta, 11, logo quando ela se preparava para fazer sua primeira visita ao Palácio da Abolição como nova assessora especial do governo Camilo Santana. Ansiosa, mas contente com o novo cargo, Zelma explicou que esse primeiro momento no cargo é mais para observar, estudar e diagnosticar o contexto. “Um governo que se julga popular e democrático tem que dialogar com movimentos sociais. Nosso propósito maior é democratizar o Estado”, pontuou.

Para isso, ela aposta em deixar o diálogo aberto com os movimentos, manter uma postura respeitosa com pensamentos diferentes e mediar os conflitos, sempre que possível. “Movimentos sociais para mim não são coisas distantes. Tenho chão nas lutas populares. A gente já sabe dessas demandas, que não são só identitárias. Não sou estrangeira a esse campo”, disse.

Seja assinante O POVO+

Tenha acesso a todos os conteúdos exclusivos, colunistas, acessos ilimitados e descontos em lojas, farmácias e muito mais.

Assine

A assessoria especial, que no Ceará tem status de secretaria, integra a estrutura organizacional do Gabinete do Governador e é uma pasta voltada a acolher e demandar políticas para os grupos sociais. Por ela, já passaram nomes como Acrísio Sena.

A entrada de Zelma Madeira, no entanto, representa uma nova virada no jogo e traz esperança para os anos à frente. Formada em Serviço Social pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), mestre em Sociologia do Desenvolvimento e doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Zelma tem uma longa trajetória na luta por igualdade racial no Estado e entende seu lugar enquanto mulher negra nesses espaços: “Todo lugar que eu for eu levo a transversalidade da política de igualdade racial (...) Acredito que a questão racial é um eixo estrutural da formação brasileira. Essa minha experiência de gestão levo para todo e qualquer lugar em que eu possa trabalhar”, conta.

Zelma deixa a coordenadoria de Políticas Públicas para Igualdade Racial da Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos em um momento especial. A campanha “Ceará sem Racismo – Respeite minha história, Respeite minha diversidade”, liderada pela professora, venceu o Prêmio Innovare 2020, na categoria Justiça e Cidadania. “Foi uma excelente experiência, mas agora posso ter oportunidade de estudar outros grupos étnicos. Me aproximo de povos originários. Acredito que essa contribuição foi boa (na coordenadoria) mas posso ampliar meus horizontes".

A premiação nacional divulga práticas que contribuem para o aprimoramento da justiça e cidadania no Brasil e pela primeira vez contempla uma campanha com esta temática, segundo o Governo do Estado. A ação já se tornou exemplo para outros estados e coloca o Ceará em uma posição importante na luta, apesar das complexas dificuldades que ainda enfrenta.

O combate à criminalização dos movimentos sociais, democratização da máquina pública e construção de uma política coletiva são os fundamentos da nova gestão de Zelma. Para a estudiosa, a reconstrução do País em 2021 começa com alguns desafios prioritários: garantir a chegada da vacina contra a Covid-19 de forma equânime e acessível, deixar de lado “posturas narcísicas” e criar um ambiente que seja democrático, firmando alianças para “poder suprir o que o Governo Federal não faz”.

Para a assessora, é esse horizonte do diálogo que o Estado deve almejar para conseguir diagnosticar melhor as demandas e fazer o máximo possível. “Eu acho que a assessoria é promissora nesse sentido. É um canal de diálogo. Não só pra dizer coisas ruins e negativas, mas também trazer propostas”, avalia. Zelma compreende que o novo cargo traz outros desafios, mas está contente em assumir esse compromisso. “Cabe sabedoria, compreensão. Temos que analisar, diagnosticar, propor”. Esses são os verbos para 2021.


OP: Pensando em um 2021 que chega ainda de forma crítica, com muitas rupturas, qual papel a Assessoria assume?

Zelma Madeira: Espero que em 2021 a gente consiga vacina gratuita e para todos. Esse ano foi uma grande tragédia. A gente vai sair “catando” o que sobrou e ir articulando. A assessoria tem um papel de puxar para dimensão de desenvolvimento social. Mesmo diante das dificuldades temos que ter inteligência e criatividade.

OP: A pandemia também tensionou as desigualdades no Brasil e esse ano a gente teve forte debate sobre antirracismo. Como a senhora enxerga sua posição, enquanto mulher negra, nesse cargo?

Zelma Madeira: Eu acho interessante que uma mulher negra como sou, estudiosa e ativista pela igualdade racial assuma esse carro. Todo lugar que eu for eu levo a transversalidade da política de igualdade racial. Acredito que a questão racial é um eixo estrutural da formação brasileira. Essa minha experiência de gestão eu levo para todo e qualquer lugar que eu possa trabalhar. Fico muito feliz porque o Ceará ganha.

OP: Quais os desafios desse novo cargo? O que sua gestão tem como fundamental?

Zelma Madeira: A gente tem que respeitar diferentes posturas sabendo qual o lugar de uma sociedade política. Não pode confundir os lugares. Temos que ter um horizonte comum: garantir direitos, democratizar a máquina pública. A comunicação tem que fluir. Nós dois, gestão pública e movimentos sociais, podemos avançar. É preciso maturidade para diagnosticar os problemas.

OP: A senhora tem uma extensa história de luta nos movimentos sociais no Ceará. Que conselho daria para a juventude?

Zelma Madeira: É primorosa a insurgência da juventude, mas tem que ter capacidade de criar táticas. Temos que valorizar a capacidade de não se resignar, de não desistir, de ser insurgente. (...) Não basta ter somente estratégia. Temos que ter é tática, trocar o pneu com o carro andando.

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar