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Comitê de Mulheres da Segurança Pública une corporações para criação de política de combate ao machismo

O estopim para a criação da entidade foi a divulgação de áudios, nas redes sociais, de um policial militar depreciando mulheres
16:50 | Ago. 05, 2020
Autor Angélica Feitosa
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Tipo Notícia

Uma reunião realizada na sede da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), no bairro São Gerardo, no início da tarde desta quinta, 5, formalizou a criação do Comitê de Mulheres da Segurança Pública. O intuito da formação da representação foi o de combater a discriminação e o assédio, seja moral ou sexual, que acontece com mulheres dentro das forças de segurança no Ceará. O grupo é composto por cerca de dez entidades: todas as forças policiais da SSPDS, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal e Conselho de Segurança Pública do Estado. Composto exclusivamente por mulheres, o grupo é paritário, ou seja, não tem liderança e visa organizar e criar políticas de segurança voltadas para as mulheres.

O estopim para a criação do Comitê de Mulheres da Segurança Pública foi um áudio que circulou nas redes sociais. Na mensagem, um policial militar afirma, em um grupo do WhatsApp, que as mulheres policiais militares deveriam atuar dentro dos quartéis para "tirar o estresse" dos militares. "Sabe o que era para ser feito com essas pefens (policiais femininas) da Polícia? Elas eram para estar no quartel para tirar o estresse da gente. Chegasse lá estressado, ela estava lá para resolver a parada", comenta no áudio. Um inquérito policial militar (IPM) foi aberto pelo comando da Polícia Militar do Ceará (PMCE) e ainda não foi concluído. A Controladoria Geral de Disciplina (CGD) informou que adotou providências para apurar o caso dos áudios que depreciam mulheres policiais.

A iniciativa é pioneira no País e vem para a proteção do público interno das forças de segurança do Ceará. “Nós, infelizmente, temos um histórico complicado de machismo, de dominação. A SSPDS trouxe a preocupação da construção de um comitê onde estão todas as instituições possam ajudar a criar protocolos para orientar tomadas de posições para a proteção da mulher”, informa a delegada Rena Gomes, diretora do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis (DPGV) da Polícia Civil. A delegada, que esteve à frente da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), traz a experiência de lidar com o machismo presente dentro das forças de segurança.

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Segundo Rena Gomes, serão criados canais de denúncia, prevenção e punição aos agressores e isso é um passo fundamental. “A construção de um comitê onde estão todas as instituições que compõem a SSPDS e também instituições externas vão ajudar a criar protocolos para orientar tomadas de posições que cada instituição em relação à proteção da mulher”, comenta.

“Sabemos da realidade. O primeiro passo é reconhecer as vulnerabilidades e o problemas que temos na nossa mão, da discriminação e assédio, seja moral ou sexual, que acontece dentro das nossas forças policiais”, informou o titular da SSPDS, André Costa, durante a reunião. Ele afirma que, quando se trata de polícia, o machismo se torna ainda mais enraizada.

A promessa do secretário foi de, na próxima semana, instituir formalmente a criação do comitê com publicação no Diário Oficial do Estado, transformando a ação em política permanente. “Todas as mulheres merecem respeito e não pode ser diferente nos órgãos de segurança pública que são os que mais devem prezar, colaborar e trabalhar em prol dessa igualdade”, confirma.

As reuniões entre as mulheres, que exercem cargos de alta patente e de liderança nas instituições, devem ter periodicidade, que ainda não foi definida. Para a tenente coronel Sandra Albuquerque, titular da Coordenadoria de Saúde, Assistência Social e Religiosa da Polícia Militar, a criação do comitê é um reconhecimento da existência do problema do machismo dentro das corporações de segurança e isso já um passo importantíssimo para a mudança de cultura e de olhar em relação a profissional mulher. "Faço parte da primeira turma de mulheres que ingressaram na Polícia Militar, há 26 anos e, em todo esse período, nós sofremos com o machismo. (O comitê) é algo que deve ser muito celebrado", aponta. Cada entidade é responsável por indicar duas mulheres para discutir e construir uma política de valorização, voltada a reduzir a discriminação.

A criação do espaço em que se pode não somente denunciar, mas também deve ser de acolhimento é uma conquista. "Deve ser um espaço de acolhimento, até para que a mulher possa reconhecer o problemas. Porque muitas vezes ela não tem repertório nem para reconhecer que aquilo é um assédio, um tipo de violência", classifica Albuquerque. O primeiro passo para a criação do comitê, na opinião da coordenadora, é o acolhimento e a garantia de sigilo. A PM conta, em seus quadros de funcionários, com cerca de 500 mulheres e 19 mil homens. E é preciso, segundo ela, que esses espaços se tornem cada vez menos distantes. “Existe uma intenção e movimento de ampliação desses número. inclusive o próprio André Costa anunciou o aumento quando for ter concurso públicos”, diz. Já os cargos de gestão dentro da PM contam com algumas mulheres. Além de Sandra Albuquerque na saúde, a coronel Maria Helena assumiu a logística - que cuida de toda a frota, armamento, viaturas, combustíveis e equipamentos de proteção individual e a tenente coronel Fátima, está à frente da assessoria de comunicação da PM.

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