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Dia Internacional da Mulher Negra celebra trajetórias e reflete sobre as condições vida

O evento As Pretas na Unilab – Encontro Internacional de Mulheres Afro-latino-americanas e Caribenhas começa já nesta quinta-feira
16:32 | Jul. 24, 2020
Autor Júlia Duarte
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Júlia Duarte Estagiária
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Tipo Notícia

Não muito conhecido no calendário, o dia 25 de julho marca uma data de celebração das lutas e das conquistas de mulheres negras, e também de reflexão de como estruturas sociais ainda carregam entraves que dificultam suas vivências. No mundo, como Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha e, no Brasil, estabelecido como Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, o momento une o passado, o presente e o futuro de conhecimentos, políticas e histórias de mulheres negras. Conheça mais sobre a data e confira programação especial.

Embora a data seja nesta sábado, 25, o evento o evento As Pretas na Unilab – Encontro Internacional de Mulheres Afro-latino-americanas e Caribenhas já começa as mobilizações nesta sexta-feira, 24. O objetivo é dar espaço para que conhecimentos e histórias produzidos por mulheres negras que atuam em diversas áreas possam dialogar. São escritoras, pesquisadoras, professoras, estudantes, artistas e ativistas de coletivos feministas.

O evento é gratuito e aberto a toda a sociedade. Ele será transmitido no YouTube do Projeto Sobre o Corpo Feminino, organizador do encontro. Este ano, o evento tem a parceria da Rede de Mulheres Negras do Ceará, com a atividade “Sexta Preta Virtual: Cariri e Fortaleza - pelo bem viver”, que ocorrerá hoje, às 19h30min. Confira a programação no fim desta matéria.

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À frente do movimento, a professora do Instituto de Linguagens e Literaturas da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (Unilab), Luana Antunes Costa, ressalta o dia e que o evento deve começar já com a ideia de proporcionar um espaço, não de dar poder. “ É abrir o debate. É dar um espaço para que elas possam falar, trazer seus conhecimentos. Não é dar poder, no sentido de empoderar, porque elas já tem isso. E é algo muito além do tempo histórico do Brasil, é também recuperar uma história que foi apagada”, afirma.

Em sua quarta edição, o evento é totalmente de forma online. O tema, também influenciado pela Covid-19, é “Mulheres negras e a manutenção da vida”. Antunes conta do desafio de aprender a lidar com a tecnologia e também com o ficar em casa. “Nós questionamos ‘ o que temos que comemorar?’ As mulheres negras e pardas estão sendo as atingidas. O racismo impacta nos números de homicídios, na fome, nesse cansaço sistêmico, de diversas tarefas acumuladas, em casa, no trabalho, com os filhos. Então pensamos sobre isso, como a certeza de estar viva, de estar fazendo um trabalho e apresentando um resultado”, explica.

Conheça o dia

Em 1992, foi realizado o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas. A reunião se estabeleceu o dia 25 julho na agenda global como momento de memória, trocas de conhecimento, análises de estratégias para combater as desigualdades que recaem sobre mulheres negras nas Américas e no Caribe.

No Brasil, o marco é ainda mais recente: de 2014. A data só foi estabelecida em 2014, com a Lei nº 12.987/2014 e ficou como Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Até a sanção da lei, o Brasil era o único país da América Latina que não comemorava oficialmente, em 25 de julho, a data.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 200 milhões de pessoas autoidentificadas como afrodescendentes vivem nas Américas. Muitos outros milhões vivem em outras partes do mundo, fora do continente africano. A organização definiu de 2015-2024, a Década Internacional de Afrodescendentes e reconhece que “os povos afrodescendentes representam um grupo distinto cujos direitos humanos precisam ser promovidos e protegidos”.

Pensar e refletir sobre as estruturas políticas e sociais são ainda mais necessárias quando se tem enfoque nas mulheres negras, explica a antropóloga e feminista negra Izabel Accioly. Ela analisa que o tempo de inclusão em políticas públicas e na posição assumida por mulheres brancas e negras foi diferente e, até hoje, continuam sendo diferentes. São acesos, oportunidades e trajetórias diferentes. “Enquanto mulheres brancas estavam lutando pelo direito de poder trabalhar, mulheres negras já estavam trabalhando, já estavam tendo que trabalhar durante toda sua vida. Enquanto mulheres brancas, tinham vontade e tentavam buscar o direito de estar na rua, mulheres escravizadas já estavam na rua com grandes e pesadas taxas nas ruas", exemplifica ela.

E o local de trabalho também parece se repetir mesmo com séculos de diferença: 39,1% das mulheres negras empregadas estão inseridas em relações precárias de trabalho. As posições ainda são discrepantes e refletem diretamente nos cargos e salários. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipeia), de 2016, no Brasil, as mulheres negras ainda não alcançaram 40% da renda dos homens brancos e ganham cerca de 60% em relação a mulheres brancas.

A vulnerabilidade também esbarra nas vivências dessas mulheres. De acordo com o Mapa da Violência, enquanto o número de assassinatos de mulheres brancas diminuiu 10% entre 2003 e 2013, o de mulheres negras aumentou 54%. Mas as barreiras também estão nas pequenas coisas do dia a dia, ressalta Accioly. São as pequenas ideias pré-estabelecidas que vão gerando danos também psicológicos: a solidão e as opressões. “Você acaba sendo hipersexualizada, acaba tendo experiências afetivas e sexuais muito violentas e fica nessa solidão. Uma vida sozinha e adoecida. É a ideia que a mulher negra é mais 'quente', que aguenta mais trabalho. É um estereótipo desumanizador”, reflete.

A antropóloga reforça que pessoas brancas também devem participar do debate. Mais que observadores, eles também devem assumir seus privilégios e tentar mudar sua ações. "Eles tem que pensar sobre, não para tomar conta de uma luta que não lhes pertence, mas para não perpetuar essas violências e não tornar o racismo mais estrutural".

Ela deixa o pensamento, como também mulher negra, sobre o compartilhamento de experiências e a dororidade. Quando sororidade, é construída por mais que a empatia entre mulheres, mas pelo sentimento de sentir na pele. "Que a gente saiba se admirar, se apoiar e fazer crescer junto", termina ela.

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Confira a programação:

24 de julho

15h – ABERTURA DO EVENTO - Profa. Dra. Luana Antunes Costa (UNILAB)
Performance “Canto para Carolina” – Grupo de extensão-pesquisa Sobre o Corpo Feminino

– Literaturas Africanas e Afro-brasileira (UNILAB/PROEX/CNPq)

Mesa “É nosso o solo sagrado da terra” – comunidades, saúde e cura

19h30min – SEXTA PRETA VIRTUAL – Cariri e Fortaleza – Pelo Bem Viver!

25 de julho

15h – Mesa “Cirandando a vida”: mulheres negras, tempos, movimentos, lugares

Onde: Facebook- Sobre o Corpo Feminino - Literaturas Africanas
e Afro-brasileira

Instagram: @aspretasnaunilab

Youtube: Canal Sobre o corpo feminino

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