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Maioria dos pacientes soropositivos com Covid-19 no Ceará apresentou quadro leve da doença

Estudo foi realizado pelo Hospital São José e o resultado positivo pode estar associado aos medicamentos utilizados contra o HIV. Especialistas ressaltam impactos emocionais
13:42 | Jul. 02, 2020
Autor Lais Oliveira
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Lais Oliveira Estagiária do O POVO Online
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Tipo Notícia

A pandemia trouxe um temor a mais para quem convive com o vírus da imunodeficiência humana (HIV, em inglês), causador da Aids. Isso porque a doença abala diretamente a imunidade. Porém, uma pesquisa cearense desenvolvida no Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ) mostrou que a maioria dos pacientes soropositivos infectados com o coronavírus apresentou quadro leve da Covid-19. Impactos emocionais do contexto atual, porém, podem implicar em uma maior vulnerabilidade para essas pessoas.

O estudo realizado pelo Instituto Para o Desenvolvimento da Educação (Ipade) do Centro Universitário Christus (Unichristus) identificou 65 pessoas soropositivas infectadas pelo coronavírus até o momento. Dessas, 76% apresentaram quadro leve e precisaram somente de acompanhamento domiciliar.

O HIV ataca o sistema imunológico, responsável pela defesa do organismo. Ele infecta preferencialmente os linfócitos T CD4+. Alterando o DNA dessa célula, o HIV faz cópias de si mesmo. Em seguida, rompe os linfócitos em busca de outros para continuar a infecção.

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“Assim, antes que a pessoa descubra que está infectada, já perdeu muitas células de defesa e a recuperação, mesmo com terapia antirretroviral, nunca é completa”, acrescenta a infectologista Melissa Medeiros. Ela atua há 19 anos no HSJ, referência no atendimento de pacientes com HIV no Estado, e coordena a pesquisa que está monitorando pessoas com teste positivo para o coronavírus e que convivem com o HIV.

A pesquisadora comenta que o resultado encontrado pode estar relacionado aos medicamentos utilizados contra o HIV. “Em geral, temos observado quadro mais leve talvez por alguma proteção dos antirretrovirais [usados por pacientes com HIV]. O tenofovir que faz parte da maioria desses esquemas tem fórmula muito similar ao remdesevir, aprovado nos Estados Unidos para tratar Covid-19”, diz. Hoje, 10.570 pessoas integram o programa de HIV do HSJ, recebendo acompanhamento periódico e medicação antirretroviral.

O estudo começou no início de junho e se estenderá pelos próximos seis meses, quando os pacientes já terão retomado suas consultas de rotina e poderão ser colhidos novos dados. De acordo com Medeiros, os maiores riscos de infecção pelo coronavírus são para as pessoas HIV positivas com alguma comorbidade, como hipertensão, diabetes ou obesidade.

Para a infectologista, é importante que esses pacientes, mais do que nunca, atentem para a manutenção regular de sua medicação e controle da glicemia e pressão arterial. Além de priorizar uma alimentação saudável e exercícios físicos.

A Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa) não informou quantas pessoas HIV positivas foram diagnosticadas com Covid-19 no Ceará. O Estado soma 115.428 casos confirmados da doença, com 6.213 óbitos e quase 90 mil recuperados, conforme atualização da plataforma IntegraSUS às 09h09min desta quinta-feira, 2. 

LEIA MAIS | Número de pessoas infectadas com HIV sobe 46% no Ceará em relação a novembro de 2018 

Impactos da pandemia 

Quando descobriu que era soropositivo, Elissandro Braga de Lima, 33, se sentiu desolado. Ele é um dos 1.932 casos de HIV confirmados no Ceará em 2019, conforme dados da Sesa. Vítima de preconceito, depois de perder o emprego e o apoio da família, Elissandro passou a viver da ajuda de amigos.

Junto com o diagnóstico tardio da Aids, veio também a descoberta do câncer. O sarcoma de Kaposi é comum em pessoas com deficiências imunológicas. Por meio do serviço social do HSJ, ele conseguiu uma vaga na Casa Sol Nascente, onde mora há quase quatro meses.

A instituição sobrevive de doações e, atualmente, acolhe 20 adultos e 12 crianças que convivem com HIV/aids, desempenhando esse trabalho há 19 anos em Fortaleza. A Casa é a primeira contemplada no movimento solidário Nós por Nós, do O POVO.

LEIA TAMBÉM | A Casa Sol Nascente reúne a história de muitas vidas 

“Foi pesado, e ainda tá sendo. Mas sempre aparece alguém pra nos dar a mão”, conta Elissandro. Pouco depois que chegou à Casa, as medidas de isolamento social foram determinadas no Ceará a fim de conter a pandemia. Para resguardar a saúde dos acolhidos, as visitas de familiares e voluntários foram suspensas, com acesso permitido apenas da equipe médica.

Ciente dos riscos trazidos pela Covid-19, Elissandro se sente grato pela proteção oferecida na instituição, que passou a ser seu lar. “Aqui a segurança é total e só tenho a agradecer a Deus. Somos mais vulneráveis mesmo, qualquer coisa é muito arriscado”, considera.

A enfermeira da Casa, Bruna Nojosa, assegura que desde o início da pandemia os acolhidos foram esclarecidos sobre o novo vírus e as ações necessárias para prevenção. “Eles entenderam que existe um risco, mas é potencial caso eu me exponha. A gente pode protegê-los desde que consigamos isolá-los”, explica.

De acordo com a profissional, os exames diários que são parte do cotidiano, como auscultas pulmonares e medição de temperatura, ajudaram também a reforçar a prevenção. Até o momento, nenhum caso de Covid-19 foi registrado no local e a Casa se prepara para retomar, com toda a precaução, as visitas familiares a partir da segunda quinzena de julho.

O emocional

Entretanto, a pandemia e o período de isolamento trouxeram outras demandas de ordem emocional para todos. A psicóloga Niveamara Sidrac trabalha no ambulatório que atende pessoas convivendo com Aids, no HSJ, e lembra que os impactos psicológicos acontecem desde o diagnóstico da doença.

Situações como o medo de morrer, de perder pessoas importantes e de não conseguir trabalhar, por exemplo, são recorrentes. A especialista alerta ainda que o estresse emocional vivido para quem convive com o HIV pode acarretar maior comprometimento do sistema imunológico deixando o paciente mais vulnerável.

Além de reforçar sobre a importância das medidas de higiene, ela recomenda estratégias para aliviar o estresse e ansiedade. “É preciso ainda que se estabeleça uma rotina de horários certos para dormir, comer, descansar, tentar formas virtuais de encontros, evitar consumir bebidas alcoólicas e procurar formas de lazer em casa”, orienta.

Prevenção e atendimento no Ceará

A médica infectologista Melissa Medeiros adverte que o uso de preservativos ainda é a melhor forma de prevenir a Aids e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), como Sífilis, Gonorreia, Hepatites B e C. Além disso, a testagem de rotina em exames anuais para detecção precoce em parceiros é indispensável.

O Ministério da Saúde (MS) recomenda a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) para homossexuais do sexo masculino, profissionais do sexo, pessoas transgênero (travestis e transexuais) e casais sorodiscordantes, em que apenas uma das pessoas é soropositiva. O tratamento consiste em medicamentos que impedem o vírus causador da Aids de infectar o organismo, antes de a pessoa ter contato com o HIV.

No Ceará, de acordo com a Sesa, todas as 31 unidades de Serviços de Assistência Especializada (SAEs) destinadas a pessoas vivendo com HIV estavam atendendo durante a pandemia. A medicação também permaneceu sendo entregue para três meses. “A qualidade da assistência prestada nos serviços de saúde e o diagnóstico precoce são as principais estratégias para a redução de mortalidade e morbidade à Aids”, disse a pasta em nota ao O POVO. O serviço conta com uma equipe formada por médico infectologista e profissional de enfermagem.

O HSJ montou um esquema diferenciado durante a pandemia para manter o atendimento emergencial. Pessoas com sintomas que acreditam terem sido contaminadas por ISTs devem se apresentar no hospital, onde passarão por triagem e testes rápidos. Se comprovada a infecção, a equipe de enfermagem agendará a primeira consulta para avaliação e orientação medicamentosa.

Nós por Nós


O Nós por Nós é um movimento do O POVO que faz a ponte entre quem precisa e quem pode ajudar. A proposta é fortalecer a corrente do bem que resiste, apesar de tudo. Se você pode, doe.

Movimento Nós por Nós pretende estabelecer uma ponte entre quem mais precisa e quem pode doar
Movimento Nós por Nós pretende estabelecer uma ponte entre quem mais precisa e quem pode doar (Foto: Jornal O POVO)

Como ajudar a Casa Sol Nascente

Contato: (85) 99417 6770
Onde: avenida Alberto Craveiro, 2222 - Castelão, Fortaleza, dentro do Condomínio Espiritual Uirapuru (CEU)
Mais informações: @casasolnascenteoficial (Instagram)

Doe por transferência bancária
OSNSG Faz Esperança
CNPJ: 48.555.775/0031-75

Banco do Brasil
Agência: 3646-3
Conta: 49.000-8

Caixa Econômica
Agência:1956
Op: 003
Conta: 1795-2

Serviço:

Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ)
Onde: rua Nestor Barbosa, 315 - Parquelândia, Fortaleza
Contato: (85) 3101 2352

Confira onde estão os Serviços de Assistência Especializada (SAEs) no Ceará destinados ao atendimento de pessoas vivendo com HIV .


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