Participamos do

Ataque em Milagres: sepultamento de vítima cearense acontece neste domingo

10:31 | Dez. 09, 2018
Autor Henrique Araújo
Foto do autor
Henrique Araújo Repórter Política
Ver perfil do autor
Tipo Notícia
A última vez que Francisca Edneide da Cruz Santos, 49, tinha visitado a família em Brejo Santo (CE) tinha sido no ano passado. Viera sozinha, diferentemente de anos anteriores, quando trazia também marido e os dois filhos. Em 2017, havia permanecido para o Natal. Um dos amigos da família, que prefere não se identificar, lembra que a festa no distrito de Porteiras foi bonita, mas calma.
 
[SAIBAMAIS] 
Um ano depois, o corpo da cearense, uma das 14 pessoas mortas na tragédia de Milagres na última sexta-feira, estava sendo velado na mesma sala da casa onde Edneide cresceu com outros nove irmãos antes de se mudar para São Paulo, 20 anos atrás. 
  
“É muito triste”, resume Francisco Brandão, a voz um fiapo. O agricultor foi o primeiro a desconfiar de que tinha algo errado na manhã de sexta-feira, 7. Nem bem o dia havia raiado, saiu para o roçado e encontrou outros colegas da localidade. Estavam preocupados. Até aquele momento, Francisco, o pai de Edneide, não havia retornado de Juazeiro do Norte com o filho, aonde tinham ido buscá-la, recém-chegada ao aeroporto. 
  
No caminho, porém, a família foi alvo de emboscada de quadrilha que tentou assaltar as agências de Bradesco e Banco do Brasil da cidade de Milagres, a 27 km de Brejo Santo. Até o momento, oito homens foram presos e oito morreram em troca de tiros com a polícia, segundo informou a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). 
  
Na divisa entre os dois municípios, o veículo no qual trafegavam de volta para casa, um Celta branco, foi interceptado e Edneide, feita de refém. Foi morta pouco tempo depois numa calçada do centro de Milagres, durante troca de tiros entre policiais e criminosos, conforme informações preliminares da SSPDS.  
  
“A notícia foi pingando”, fala Brandão. “Primeiro dava conta dessa morte do pai e da filha, depois apenas dela.” Prostrado numa cadeira, levanta-se para apanhar café. 
  
Nos fundos da casa, irmão e outros parentes de Edneide conversam sob o alpendre. Recusam falar com a reportagem. Dizem que já não têm nada a dizer sobre a morte. 
  
“A família está muito assustada”, explica uma cunhada de Edneide. Em seguida, esboça um retrato da vítima: “Era muito religiosa, assim como todos aqui na casa. Não sabem como continuar depois dessa desgraça”. Sobre os filhos e o esposo de Edneide, ela fala que, por alguma razão, não quiseram visitar Porteiras neste ano. 
  
O corpo da cearense será enterrado neste domingo no cemitério de Brejo Santo. Até ontem, filhos, primos e tios ainda aguardavam a chegada dos parentes que moram em São Paulo para reuni-los em torno de Edneide.

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente