Violência contra mulher cresce durante a pandemia no estado do Rio

Mais de 250 mulheres foram vítimas de violência por dia durante o isolamento social em 2020 no estado do Rio de Janeiro. Cerca de 61% desses casos ocorreram dentro das residências. Os dados foram divulgados hoje (8) pelo Instituto de Segurança Pública do Rio (ISP) e fazem parte de um levantamento inédito do Núcleo de Estudos ISPMulher. 

Entre 13 de março de 2020, quando foi editado o primeiro decreto de combate à propagação do coronavírus no estado, e o dia 31 de dezembro, segundo o ISP, mais de 73 mil mulheres foram vítimas de algum tipo de violência no Rio.

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“Isso significa que cerca de 251 mulheres foram vitimadas em cada um dos 293 dias em que o estado teve algum nível de isolamento social em 2020”, informou o ISP.

Apesar disso, o número de casos teve queda de 27% em relação ao mesmo período de 2019, quando houve 102.344 vítimas. Para o ISP, isso pode indicar uma subnotificação provocada pelas restrições adotadas durante a pandemia. Em janeiro deste ano, o total de mulheres vítimas alcançou 12.924 e ficou próximo do que tinha sido anotado no mesmo mês de 2020: 10.878. 

Já em maio de 2020, um dos meses com maior taxa de isolamento social, as delegacias da Secretaria de Estado de Polícia Civil registraram 4.903 casos de violência contra a mulher, o que significa redução acima de 50% se comparado com janeiro do ano passado.

O ISP destacou que a residência, que em princípio é um lugar de proteção para muitos, principalmente na pandemia, não mostrou isso com relação às mulheres. O estudo também indicou que, além de 61% dos casos terem ocorrido no período de isolamento em 2020, justamente dentro de casa houve alta do percentual de ocorrências de crimes mais graves em residência. 

“Para Violência Física, o percentual aumentou de 60,1% em 2019 para 64,1% em 2020. Para Violência Sexual, uma variação ainda maior: de 57,7% em 2019 para 65,6% em 2020”, apontou o estudo.

Conforme o ISP, em mais de metade dos casos os autores dos atentados foram os parceiros ou ex-parceiros. “Se restringirmos a análise aos crimes registrados sob a Lei Maria da Penha, que engloba os tipos de violência que acontecem no âmbito doméstico e familiar, 80,7% das mulheres foram vitimadas por parceiros ou ex-parceiros”, completou.

Entre os bairros com maior número de casos estão a Cidade de Deus (32ª DP), na zona oeste do Rio; Austin, em Nova Iguaçu (58ª DP), na Baixada Fluminense, e Campo Grande (35ª DP), também na zona oeste da capital fluminense. De acordo com o ISP, este ranking não mudou muito na comparação com o de 2019. Naquele ano, a Cidade de Deus, Austin e o centro de Duque de Caxias (59ª DP) foram os que anotaram mais crimes contra mulheres.

Feminicídio

O ISP informou que 65 mulheres foram mortas entre 13 de março e 31 de dezembro de 2020 pelo simples fato de serem mulheres, o que representa feminicídio. O bairro de Campo Grande ocupa o primeiro lugar no ranking estadual com maior número de casos de feminicídio, ao lado do bairro Caonze, em Nova Iguaçu. 

Ainda segundo o ISP, cada um registrou quatro vítimas ao longo dos dez meses analisados. O estudo apontou ainda que, em 2019, houve 73 vítimas. No primeiro mês de 2021, nove mulheres foram mortas, o maior número de vítimas para o mês, segundo o instituto, desde o início da série histórica, em 2016.

Os analistas do instituto acompanharam de perto a situação das mulheres com o Monitor da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher no Período de Isolamento Social. A diretora-presidente, Marcela Ortiz, reforçou que os observadores perceberam que a redução no número de mulheres vítimas pode estar muito mais relacionada a uma subnotificação do que a uma queda de violências praticadas. O recuo no número de registros de ocorrências na Polícia Civil na comparação com 2019 pode ser notado também nos registros do Disque-Denúncia, que caíram mais de 20% nas ligações sobre violência contra a mulher. 

“Acreditamos que essas mulheres, muitas vezes, por estarem confinadas no mesmo ambiente dos agressores, não puderam procurar os órgãos que tradicionalmente oferecem ajuda. Isso mostra o tamanho do desafio do Estado no enfrentamento a um tipo de violência que acontece intramuros e que, muitas vezes, é normalizada. Precisamos acolher essas mulheres e mostrar que elas não estão sozinhas. É muito importante que a nossa sociedade entenda a importância da denúncia desses crimes”, alertou.

ISPMulher

O Núcleo de Estudos ISP Mulher foi criado há um mês pelo ISP com a intenção de subsidiar o governo estadual com dados sobre a violência doméstica, que podem servir de base para novas políticas públicas. 

“O grupo tem como função o monitoramento do comportamento dos crimes de violência contra a mulher ao longo do tempo e a elaboração de estudos sobre o tema. O ISP foi o primeiro órgão estadual do país a publicar um trabalho sobre violência doméstica: o Dossiê Mulher, em 2006”, finalizou.

 

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