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Adriana Calcanhotto conta como morte de Miguel inspirou canção que teve direitos doados para família do menino

A música foi gravada ao vivo na apresentação única e virtual da turnê "Só", realizada no início de outubro. O pequeno Miguel, de cinco anos, morreu após cair do nono andar de um prédio localizado em Recife, em junho deste ano
10:37 | Dez. 08, 2020
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Na canção "dois de junho", Adriana Calcanhotto conta um pouco da trajetória do dia que marcou o Recife e o Brasil com a morte do menino Miguel, de cinco anos. "Céu claro/ Sai pra trabalhar a empregada, mesmo no meio da pandemia/ E por isso ela leva pela mão/Miguel, cinco anos/Nome de anjo", diz a música. Em conversa com Bial, na noite desta segunda-feira, 7, a cantora relatou como o caso inspirou a produção, que teve seus direitos doados à família da criança.

"Essa história junta tantos elementos, é tão exemplar do pior do Brasil. Para mim, é uma apoteose de Brasil no seu pior, de racismo estrutural, de peculato", criticou Calcanhotto. "Resolvi fazer o que estava ao meu alcance, o que eu consigo fazer", disse ela.

A música foi gravada ao vivo na apresentação única e virtual da turnê “Só”, realizada no início de outubro. A renda foi revertida também para o Instituto Menino Miguel, entidade, criada pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), tem foco no cuidado humano, proteção das infâncias, da família e de pessoas idosas.

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O caso aconteceu em um prédio de luxo na região metropolitana do Recife. O menino estava sob a responsabilidade de Sarí Corte Real e morreu após cair do nono andar, enquanto a mãe dele, empregada de Sarí e do marido, atual prefeito de Tamandaré, passeava com os cachorros da família.

Sarí Corte Real, atual primeira-dama, foi denunciada à Justiça pelo Ministério Público de Pernambuco em julho deste ano. A pena prevista para o crime de abandono de incapaz é de 4 a 12 anos de reclusão. Sarí chegou a ser presa em flagrante, autuada por homicídio culposo (quando não há intenção de matar), mas foi liberada após pagamento de fiança.

Adriana e a pandemia

A cantora contou também sobre como aproveitou a pandemia para mergulhar de cabeça em produções. Preocupada também com seus músicos sem emprego, Adriana se desafiou e manteve uma rotina agitada de escrita de músicas, como contou a Bial. "Eu tinha que arrumar uma forma de ficar disciplinada, como Lulu Santos, que diz fazer uma canção por dia". Em 11 dias, fez 10 novas músicas.

Adriana Calcanhotto tem mais de 30 anos de carreira e já lançou 21 discos, com 25 canções em novelas. Ela também já ganhou dois Grammys latinos, um prêmio da música brasileira, além de ser gravada por Bethânia, Gal, Ney Matogrosso, Marisa Monte, Los Hermanos. A artista também trabalha como professora na Universidade de Coimbra, em Portugal, onde ministra o curso "Como escrever canções".

Confira a letra da música "dois de junho":

No país negro e racista
No coração da América Latina
Na cidade do Recife
Terça feira 2 de junho de dois mil e vinte
Vinte e nove graus Celsius
Céu claro
Sai pra trabalhar a empregada
Mesmo no meio da pandemia
E por isso ela leva pela mão
Miguel, cinco anos
Nome de anjo
Miguel Otávio
Primeiro e único
Trinta e cinco metros de voo
Do nono andar
Cinquenta e nove segundos antes de sua mãe voltar
O destino de Ícaro
O sangue de preto
As asas de ar
O destino de Ícaro
O sangue de preto
As asas de ar
No país negro e racista
No coração da América Latina

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