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Mortalidade por infarto no Brasil caiu quase pela metade, mas aumentou no interior do Norte e do Nordeste

Estudo analisou dados no período entre 1996 a 2016; Homens são os mais afetados pelo problema
11:35 | Dez. 04, 2020
Autor Gabriela Almeida
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Gabriela Almeida Repórter O POVO
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Tipo Notícia

O índice de mortalidade por Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), popularmente conhecido como "ataque do coração", caiu quase pela metade no Brasil no período entre 1996 a 2016, mas mostrou crescimento quando analisado somente no interior do Norte e do Nordeste- sendo o sexo masculino o mais afetado. A análise faz parte de uma tese de doutorado em Saúde Coletiva do curso de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-MG), sendo feita a partir de dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).

O estudo levou em consideração a qualidade do registro de óbito no Brasil, que geralmente é melhor nas capitais do que nos interiores. É comum, por exemplo, que sub-registros (quando a morte não é registrada) ou óbitos por "causas não definidas" ocorram mais nos municípios rurais do que nos urbanos, por conta desses apresentarem mais tecnologias no sistema de saúde, que viabilizam o diagnóstico de doenças.

Dessa maneira, a pesquisa realizou uma correção de alguns indicadores indiretos dos dados sobre óbitos, como o de "proporção de mortes por causas mal definidas e de falecimentos não registrados". Esse ajuste permitiu que fossem estimadas as taxas de mortalidade por IAM- "padronizadas" por idade, sexo, grandes regiões e localidade", dentro do período de 21 anos estimado.

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Como resultado, foi percebido que as capitais do País "apresentaram um declínio mais acentuado e, consequentemente, menores taxas de mortalidade nos últimos anos", mas que o índice em municípios do interior de algumas regiões teve um comportamento oposto. Em todo período analisado, os homens aparecem como os mais afetados pelo problema.

Análise dos índices

Em 1996, a taxa de mortalidade por IAM no Brasil, com a correção final e levando em consideração apenas a somatória de todas as capitais - foi de 127,1. Esse mesmo índice, quando aplicado em 2016, diminui para 65,2, uma redução de quase o dobro do valor.

Essa tendência de redução é percebida em todas as capitais do País e em grande parte das áreas rurais, o que faz com que o resultado seja positivo como um todo. No entanto, quando se é analisado a taxa somente nas regiões, o Norte e o Nordeste aparecem com um aumento do índice nos municípios do interior.

Por exemplo, a taxa de mortalidade por "ataque do coração" registrada no interior do Norte foi de 83,4 em 1996, índice que em 2016 aumentou para 97,7. Quando feita nas capitais, essa mesma comparação revela uma diminuição da taxa de 98,7 para 62,7 em toda área urbana. Os resultados foram obtidos após correção final dos indicadores de óbitos citados acima.

O Nordeste segue a mesma linha de elevação da taxa de mortalidade por IAM nos municípios do interior, indo de 68,4 em 1996 para 95,7 em 2016 com os ajustes. Os demais estados do Brasil apresentam redução desse índice tanto nas capitais quanto nas áreas de interior, sendo Sudeste e Sul as Unidades Federativas que apresentaram as maiores reduções do índice.

Letícia de Castro, idealizadora e porta-voz da pesquisa, considera que o estudo "trouxe informações importantes sobre a principal causa de óbito no País, o infarto agudo do miocárdio". Como principal ponto de análise do levantamento, ela destaca a descoberta dessa tendência de aumento das taxas de mortalidade por IAM no Brasil, em localidades especificas.

"Este detalhamento permitiu ver que nas cidades do interior do Norte e do Nordeste está ocorrendo o crescimento das taxas de mortalidade (...) Evidenciando a necessidade de ampliação das ações relacionadas aos cuidados preventivos e curativos nestas regiões", destaca ainda a pesquisadora.

 

Cuidados e sintomas 

Glauber Vasconcelos, coordenador da residência médica em cardiologia do Hospital de Messejana (HSM), explica que o IAM ocorre quando uma das placas localizadas no vaso sanguíneo acumula muita gordura e acaba se rompendo, formando coágulos que entopem a artéria do coração. "Imagina um cano cheio de sujeira. Ele rompe e aquela sujeira acaba indo para outro cano e entupindo ele", explica didaticamente o especialista.

Essa gordura que se acumula e é conhecida como "colesterol", uma substância química importante para o funcionamento do organismo mas que pode causar sérios problemas caso exista em excesso. Um indivíduo pode ser geneticamente mais suscetível a ter essa elevação ou apresentar o aumento por condições externas.

O coordenador cita como exemplo quem tem hipertensão, diabetes ou obesidade, doenças que potencializam o aumento do colesterol no organismo. Além disso, quem não apresenta alguma dessas comorbidades pode estar suscetível a sofrer um infarto se não tomar cuidado para evitar o aumento da substância química.

Entre os fatores externos que potencializam essa elevação de gordura estão uma alimentação baseada em alimentos gordurosos, o sedentarismo e o tabagismo. Além disso, o especialista destaca que a ansiedade e o estresse também podem provocar um infarto e têm sido um dos principais responsáveis para que doenças cardiovasculares ocorram.

O sintoma mais relatado por pessoas que já tiveram o problema é a dor no peito, que pode se espalhar para o braço, costas ou pescoço. De acordo com o cardiologista, outros sintomas podem aparecer, como náusea e dor de cabeça, mas são menos comuns que a sensação de "aperto" provocada pelo dor no peitoral.

Para evitar o aumento do colesterol e diminuir as chances de ter um infarto, Glauber informa que o indivíduo precisa manter uma alimentação saudável, fazer exercícios físicos e evitar atos prejudiciais ao organismo, como fumar. Quem tem predisposição genética, conforme pontua o coordenador, precisa ficar ainda mais atento as dicas e buscar realizar exames médicos periodicamente.

 

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