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Professor de medicina usa "Blackface" para ensinar alunos a como conversar com pacientes pobres

Caso aconteceu durante aula online para alunos do 1º ano do curso de Medicina. O médico pediu desculpas e informou que "sequer era familiarizado com o conceito de ''blackface'''
11:15 | Out. 09, 2020
Autor Redação O POVO
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Um professor do curso de Ciências Médicas da Santa Casa, em São Paulo usou uma máscara preta para mostrar a alunos como se relacionar com pacientes pobres no consultório. De acordo com os estudantes do 1º ano do curso de Ciências Médicas, o professor Ronald Sergio Pallotta Filho definiu a ação como "teatral". A prática é conhecida como "blackface" e é considerada racista. As informações são do G1.

Alguns alunos filmaram a tela do computador enquanto Ronald dava aula. Na imagem, o médico usa uma máscara preta e fala de forma cômica referindo-se a um paciente do Sistema Único de Saúde (SUS). "Eu não como essas comida de fraco aqui do SUS, não, sabe? Eu não como não. Eu como comida de macho, de macho. Tá entendendo?", diz durante o vídeo.

Após a aula, os estudantes prepararam uma representação formal para o Núcleo de Diretos Humanos da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Eles também querem levar o caso ao Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp).

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Em relatos, os alunos relembraram atitudes anteriores do professor de arrogância em outras situações. "Ele é muito arrogante e autoritário. Não aceita ser questionado, mesmo quando não está sendo questionado, basta fazer alguma argumentação técnica que ele perde a compostura", disse uma aluna.

Em nota, a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo disse que "repudia veementemente qualquer ação de cunho racista ou preconceituoso. A instituição determinou a abertura de uma sindicância interna e pode resultar no afastamento do médico.

Já a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo declarou em nota que "o profissional citado é médico na instituição". A informação foi verificada junto a Coreme [Comissão de Residência Médica] e não houve o recebimento de denúncias. "Abriremos uma investigação interna sobre o caso relatado, pois até o presente momento desconhecíamos o teor desta denúncia". A Santa Casa de São Paulo ainda anunciou que repudia qualquer tipo de atitude discriminatória, machista e sexista.

Ronald Pallotta se pronunciou após a repercussão e pediu desculpas pelo ato, sob justificativa de que a "aula que estava sendo exposta aos alunos deveria ser presencial e prática, diretamente com pacientes; por tal motivo, me posicionei como 'ator' para melhor entendimento dos alunos, acrescentando conteúdo lúdico à explanação".

O professor ainda informou que "sequer era familiarizado com o conceito de 'blackface'" e só se informou sobre o conceito após a repercussão negativa. "Trata-se de inocente e infeliz escolha", disse.

Confira a nota na íntegra

"Antes de mais nada, gostaria de esclarecer todo o ocorrido, deixando claro desde já que, embora não tenha sido minha intenção, se alguém interpretou minha conduta como ofensiva, peço desculpas.

Sou médico formando pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa desde 1989, professor e médico de diversos hospitais, inclusive públicos.

No que diz respeito à aula por mim ministrada, a qual é objeto de questionamento, jamais tive a intenção de desrespeitar quem quer que fosse em razão da raça, nível social ou por qualquer outra característica com utilização da máscara na representação que tentei fazer.

A aula que estava sendo exposta aos alunos deveria ser presencial e prática, diretamente com pacientes; por tal motivo me posicionei como ‘ator’ para melhor entendimento dos alunos, acrescentando conteúdo lúdico à explanação.

Em nenhuma hipótese tive a intenção de expor qualquer conteúdo de índole racista e sequer era familiarizado com o conceito de “blackface”, sobre o qual fui procurar me informar após a repercussão negativa. Ao compreender o que isso representa hoje, me sinto constrangido, mas ao mesmo tempo reafirmo que jamais tive a intenção de ofender. Trata-se de inocente e infeliz escolha.

A utilização da máscara tinha por finalidade apenas demonstrar que se tratava de uma encenação, sem qualquer referência à raça do personagem que tentei no meu amadorismo representar.

Tenho 30 anos de medicina, boa parte deles prestando atendimento aos menos favorecidos financeiramente e em situação de vulnerabilidade social em hospitais públicos, onde sempre escolhi exercer minha profissão por convicção sobre o papel do médico na vida das pessoas. Nunca medi esforços para dar o melhor atendimento que estava ao meu alcance, inclusive durante a pandemia de Covid-19.

Em relação às demais queixas de abuso de autoridade, falta de cordialidade, falta de educação e assédio durante o meu trabalho, para mim é uma surpresa esse tipo de colocação, já que nunca passei por qualquer procedimento disciplinar ou fui repreendido em razão de qualquer comportamento incompatível com a posição que exerço. Pelo contrário, sempre fui reconhecido tanto profissional quanto pessoalmente em todos os lugares por onde passei.

Por fim, quanto aos comentários a respeito de supostos distratos cometidos por mim e exigências feitas em minha atuação no pronto socorro, esclareço que não clinico em serviço de emergência, o que demonstra as inverdades de tais acusações."


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