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Desmame precoce pode causar predisposição para complicações gástricas, afirma estudo

O estudo foi realizado pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, a partir de análises de células do estômago de animais
11:34 | Jul. 02, 2020
Autor Ismia Kariny
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Ismia Kariny Estagiária O POVO online
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Tipo Notícia

Estudo do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP) revela que parar de mamar mais cedo que o indicado pode acarretar mudanças permanentes no estômago e aumentar as chances de lesões no órgão. Para chegar à conclusão, foram feitas análises em células do estômago de animais. A pesquisa foi coordenada pela professora Patrícia Gama, do Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento, que trabalha com efeitos do desmame precoce no estômago e intestino há 31 anos.

Durante o estudo, os cientistas compararam dois grupos de ratos: um que mamou normalmente e outro que teve o leite materno substituído por outro tipo de alimento aos 15 dias de vida - período equivalente a menos de 4 meses em seres humanos. Foram feitas análises nas células do estômago dos animais. Entre elas, as que produzem muco para proteger a superfície do estômago, as que produzem ácido, e as responsáveis pela produção de pepsina, que é uma enzima importante para a digestão de proteínas.

Segundo os pesquisadores, o desmame ocorre entre 18 e 22 dias de vida do animal. Durante esse processo, os genes que regulam a diferenciação das células do estômago têm a expressão aumentada: "É o corpo preparando todos os seus genes para um organismo que passará a ter uma alimentação normal", explica Patrícia Gama.

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Um dos achados da pesquisa revelou que a expressão do gene ATP4B, que induz a produção do ácido no estômago, continuou alta nos adultos que tiveram desmame precoce. "Observamos também o produto desse gene: nos 18 dias a proteína também aumentou, mas nos 60 dias isso não acontece mais. Ou seja, já existe algum mecanismo entre o gene e a proteína que faz com que a proteína se module", detalha Gama.

Quando a expressão deste gene está aumentada na vida adulta, ela pode fazer com que o animal produza mais ácido que o normal em situações de estresse ou durante um quadro infeccioso no estômago. E isso poderia levar a ulcerações, conforme documentado em estudos prévios, usados como referência na pesquisa da USP.

"Nós trabalhamos com esse modelo há muito tempo e nunca encontramos ulcerações. No entanto, em termos de ambiente, se esse animal for exposto a estresse ou a uma infecção como pela bactéria H. pylori, principal causadora das úlceras, é possível que ele desenvolva uma resposta exacerbada", diz Patrícia.

A pesquisa ainda identificou outra mudança, relacionada à produção de muco. Nos animais mais adultos, que começaram a se alimentar mais cedo, a produção ficou menor do que o normal. Isso poderia significar uma menor proteção da parede do estômago. Também houve uma alteração no número de células produtoras de pepsina, as quais ficam em número maior desde a fase de filhote até a vida adulta.

De acordo com Patrícia, o grande problema dessas células é que, em uma situação de lesão, podem dar origem a uma metaplasia - ou seja, um tumor. "A nossa hipótese é que os animais que passaram pelo desmame precoce sejam mais suscetíveis a esse quadro", comenta.

Para aprofundar essas descobertas, o próximo passo da pesquisa será analisar como os modelos "animais desmamados precocemente" respondem a um estímulo, a uma lesão na mucosa gástrica. Além disso, o grupo pretende correlacionar dados epidemiológicos e buscar um marcador para detectar que tipo de mudança adultos e crianças podem ter no trato gastrointestinal por causa do desmame precoce.

Aleitamento materno

A pesquisadora Patrícia Gama chama atenção para a questão da amamentação e lembra que seis meses é o tempo mínimo recomendado de alimentação com leite materno ou fórmula, podendo se estender até os dois anos de idade. "A discussão é muito voltada para a função imunológica, mas na verdade o leite é a fonte de todas as moléculas que o bebê precisa para crescer bem e desempenhar várias outras funções do organismo", finaliza.

Leia o artigo científico na íntegra.

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