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"Museu do Ipiranga deixará de ser lugar visitado uma vez na vida"

00:02 | Set. 13, 2019
Autor DW
Tipo Notícia
Em entrevista, arquiteto fala sobre projeto de restauro do museu mais tradicional de São Paulo, que deve ser concluído em 2022. Prédio ganhará área para exposições temporárias e ficará mais conectado com parque ao redor.Em dezembro de 2017, quatro anos e quatro meses depois de ser interditado ao público, o Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga, em São Paulo, finalmente ganhou um projeto arquitetônico de restauro e ampliação. Escolhida após um concurso, a proposta foi idealizada pelo escritório H+F Arquitetos. Quase dois anos depois, no último dia 7 de setembro, feriado da Independência do Brasil, o governador do estado de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou o início das obras de recuperação. Com valor estimado em 140 milhões de reais – captados da iniciativa privada, em parte graças a leis de incentivo a cultura – a expectativa é que o Museu do Ipiranga seja aberto em setembro de 2022, a tempo das comemorações do bicentenário da Independência do Brasil. Em entrevista à DW Brasil, o arquiteto Pablo Hereñu, sócio do escritório H+F, falou sobre os planos para o museu, que, após as obras, deve ficar mais conectado com o Parque da Independência, no qual está inserido, e passar a abrigar também exposições temporárias. "Com exposições temporárias com itens de outras instituições ou mesmo a partir de seu imenso acervo, vai se tornar um desses museus que a gente visita com frequência, e não aquele museu a que você vai uma vez na vida e não tem vontade de voltar", afirma o arquiteto. DW Brasil: O que podemos esperar do novo Museu do Ipiranga? Pablo Hereñu: É um projeto que vai provocar grandes transformações na experiência do museu. Haverá muitos espaços novos, seja nas ampliações, seja nos espaços encontrados e subutilizados dentro do edifício existente. Propomos novas conexões e novas circulações, tudo isso com pouquíssima interferência na volumetria externa. Quem olhar de fora quase não vai notar essas grandes transformações. Serão no interior. O que você pode destacar dessas intervenções? O que nos parece mais interessante é essa característica de ser sem aparentar. Estamos vivendo a era do consumo de imagens e de fotografias. A arquitetura tende a circular muito mais por imagens do que por espaços vividos. Propomos a experiência. Vamos oferecer, no final, basicamente as mesmas imagens já existentes hoje. As fotos do museu em 2022 não vão ser muito diferentes das fotos de hoje. Mas a experiência vai ser completamente diferente. Pensamos em momentos espaciais, em uma relação entre corpo e espaço. Será uma nova experiência multissensorial, mais rica. Estamos falando de um edifício de 1895 muito conhecido pelos brasileiros. Quanto aos ambientes internos, o que o público vai encontrar de novo? Ao mesmo tempo que vamos preservar, restaurar e valorizar a experiência original do museu, vamos oferecer uma outra experiência: a visita aos bastidores do prédio. Uma ligação subterrânea vai permitir ao público conhecer e passar ao lado de blocos de fundações originais. Vamos mostrar as técnicas construtivas daquele momento. No topo, o percurso pela cobertura do edifício até o mirante que propusemos vai revelar uma série de espaços novos, as estruturas por cima dos forros, as estruturas da cobertura original – que não eram vistas antes. Pelo que vocês verificaram no local, qual a análise que fazem sobre as razões que levaram à interdição do edifício? A interdição se deu principalmente pela deterioração dos forros, originalmente construídos com uma trama estrutural de fibra vegetal. Como o edifício tem infiltrações nas coberturas, a água foi lentamente comprometendo a estabilidade dessas fibras vegetais, levando a uma fragilização dessas estruturas e ao desplacamento de alguns trechos. O risco de cair uma placa de forro sobre alguém era real. Por outro lado, o edifício como um todo não está em condições tão precárias como a interdição sugere. A restauração vai ser importante, vai operar em muitas características do edifício, mas o prédio está estável, estruturalmente estável – a base está muito boa para esse trabalho de restauração que se inicia agora. Após as obras, o que muda quanto aos espaços expositivos? O Museu Paulista faz parte da memória de muita gente, porque sempre foi uma visita praticamente obrigatória de escolas. Mas é curioso que poucas pessoas retornam com frequência ao museu depois disso. Nosso projeto, pela ampliação que foi planejada, vai permitir que ele possa se integrar a um circuito de exposições temporárias que ele nunca pode integrar. Porque o edifício nunca teve, e vai continuar não tendo, ar condicionado, controle de umidade. E para o empréstimo de obras para exposições essas coisas são obrigatórias. Na ampliação, haverá uma área nova relativamente grande dotada dessas estruturas, que vai permitir que o museu ofereça ao público exposições temporárias com itens de outras instituições ou mesmo a partir de seu imenso acervo. Com rotatividade. Assim, vai se tornar um desses museus que a gente visita com frequência, e não aquele museu a que você vai uma vez na vida e não tem vontade de voltar. O Museu Paulista, instituição da Universidade de São Paulo, fica dentro do Parque da Independência, área verde mantida pela prefeitura paulistana. Entretanto, não há integração plena desses dois elementos. De que forma a obra pretende resolver isso? A relação do museu com o parque existe apenas porque o edifício está no parque, ou seja, você precisa ingressar pelo parque para chegar até o museu. Hoje, contudo, o parque tem uma divisão no paisagismo implantado em 1922: um grande muro configura um espaço chamado de esplanada, uma pequena praça em frente ao edifício – e quase todos os visitantes do museu usavam apenas essa parte do parque. Nosso projeto implantará uma nova entrada para o público do museu, a partir da parte inferior desse muro. Pretendemos conectar melhor o museu com o parque, resgatando uma dimensão do que seria essa praça de entrada do museu. Assim, as pessoas vão naturalmente andar mais e descobrir mais do parque ao entrar e sair do museu. ______________ A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | App | Instagram | Newsletter Autor: Edison Veiga

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