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O que de fato está acontecendo nesta eleição?

A esquerda comete o mesmo erro arrogante de Hillary: "Fasticistisar" tudo "que não é espelho", uma nítida evidência de intolerância, portanto de fascismo
22:43 | Out. 05, 2018
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Em 29 de agosto publiquei um artigo evidenciando semelhanças entre Bolsonaro e Trump - e eu me restringi a apenas uma dúzia delas (disponível no www.eduardodiogo.com ).
 
Uma significativa quantidade de feedback argumentava que Brasil e EUA possuem realidades extremamente distintas. Com todo respeito e benquerença, não é bem assim. Ficando apenas na seara de formação do Estado, ambos possuem o mesmo Sistema de governo (Presidencialismo); Forma (República); e Regime (Democracia).
 
Então, entendo que essa argumentada percepção de distinção é prioritariamente motivada pelo fato de que os fundamentos que apresentei não reforçam convicções e desejos íntimos. Afinal, há mais de vinte séculos, o filósofo grego Platão (cerca de 425–350 a.C.) sabiamente usou a alegoria da caverna (livro 7 da República) para explicar didaticamente o caminho agonizante para o mundo real.
 
As semelhanças entre a mais recente eleição Americana e esta eleição Brasileira vai muito além do que eu acentuei sobre Bolsonaro e Trump. Portanto, agora vou destacar uma realidade no extremo oposto. PT e parte da esquerda brasileira repetem parcela relevante dos quatro elementos-chave que levaram à derrota de Hillary Clinton, conforme comprovo no meu livro MUDA BRASIL (que será lançado dia 26/10).
 
Começando pelo tempero mortal, vou citar o ex-Secretário de Estado Americano Colin Powell: “Tudo que Hillary Clinton toca, ela meio que estraga com sua arrogância”. Então, essa arrogância que estraga tudo (o tempero mortal), tem feito o PT e parte da esquerda brasileira usar o substantivo “fascismo” e o adjetivo “fascista” com uma desenvoltura estonteante. Qualquer um que ouse pensar um pouco diferente, é logo taxado de fascista!
 
Em uma guerra de palavras, podemos intimidar e censurar nossos adversários, mas jamais devemos detonar seus apoiadores e simpatizantes. Existem incontáveis motivos para isso; é impossível discorrer sobre todos eles, então decidi comentar apenas dois. 
 
Em curtíssimo prazo, o batismo representa enorme arsenal para o candidato dos supostos “fascistas” galvanizar seus partidários – e os parentes e amigos desses. Em médio e longo prazos, os autores do batismo estão alienando-se de ser uma opção política para milhões de brasileiros que hoje apoiam Bolsonaro, mas não são defensores consolidados e ferrenhos da sua pregação – estão apenas de saco cheio de estarem de saco cheio!
 
Muitos de nós não quisemos ver, mas Hillary já havia nos ensinado isso ao decretar: “Daria para colocar metade dos apoiadores de Trump no que chamo de cesta de deploráveis. Certo? Racistas, sexistas, homofóbicos, xenófobos, islamofóbicos – tem de tudo”. E para completar a aula, ela acrescentou: “Algumas dessas pessoas são irremediáveis”. 
 
O “irremediável” exibe ausência de compaixão humana em qualquer religião que se professe, e é extremamente grave por si só, embora o erro seja ainda mais abrangente. Vale também lembrar que durante as Primárias Hillary já havia ensaiado tal hecatombe, quando definiu todos os eleitores de seu adversário Bernie Sanders, eleitores do seu próprio partido Democrata, como um “balde de perdedores”.
 
Em síntese, ideologicamente esse arrogante comportamento do PT e de parte da esquerda brasileira de “fascistisar” tudo “que não é espelho”, é uma nítida evidência de intolerância, portanto, de fascismo. Politicamente, o conjunto da obra se compara a um dispositivo de autoimplosão.
 
Então, o que de fato está acontecendo nesta eleição brasileira é sabiamente explicado no conceito descrito pelo jornalista e autor Malcolm Gladwell em ”O ponto da virada: como pequenas coisas podem fazer uma grande diferença”. Ou seja, o legado de coisas negativas produzidas pelos mais ferrenhos adversários de Bolsonaro, se acumulou em uma pilha tão gigantesca, que não pôde mais ser equilibrada ou sustentada, resultando em um abrangente colapso.
 
Eduardo Diogo, 
Mestre em Liderança (Georgetown University - Washington, DC, EUA)
Ex-Consultor do Banco Mundial

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